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Hernâni Magalhães, da Silvex: “Vamos produzir uma película aderente biodegradável para distribuir no Mundo”

Por a 17 de Fevereiro de 2011 as 12:27

A primeira película aderente biodegradável do Mundo nasceu no seio de uma empresa portuguesa, está à venda nos hipermercados Continente e chegou às mãos de muitos portugueses antes de ser lançado no resto do Planeta.

Hipersuper (H): Quanto tempo demorou o projecto inédito a sair do papel?

Hernâni Magalhães (H.M.): A ideia surgiu em Maio de 2009 em conversa com um responsável da Novamont [produtor de bioplástico a partir de recursos renováveis] durante a conferência anual da Biobag.

Temos vindo a aperfeiçoar o produto, sendo a última formulação testada em finais de Setembro, seguida da primeira produção em Outubro de 2010. Entre os testes e produção, passaram um ano e seis meses.

H: Quais as vantagens da nova película aderente para o ambiente?

H.M.: A nova película utiliza matéria-prima desenvolvida pela Novamont, designada Mater-Bi. A diferença em relação a outros polímeros, tais como o polietileno e o PVC, é que este é fabricado a partir de recursos renováveis, de origem agrícola europeia, sem utilização de organismos geneticamente modificados. A vantagem da utilização desta matéria-prima é que permite reduzir não só a emissão de gases com efeito de estufa, como também o consumo de energia e de recursos não renováveis (derivados do petróleo) permitindo completar um círculo virtuoso e sustentável. No fim do ciclo de vida, a película aderente biodegradável pode ser canalizada para centrais de compostagem ou regressar ao solo através de processos de biodegradação.

H: E para o consumidor, quais os benefícios?

H.M.: No desenvolvimento do produto focámo-nos essencialmente em três características importantes para o mercado de consumo e o segmento de food service/Horeca. O produto tinha que ter “performance” semelhante ao que já existe, ser de fácil utilização, claramente um dos aspectos que mais foi trabalhado, e estar em conformidade com a norma Europeia EN 13432 para obter o certificado de compostável.

H: Qual o desempenho da nova película Bio?

H.M.: A nova película Bio pode ser utilizada em qualquer tipo de alimento, incluindo aqueles que têm elevado teor de gordura (óleos, molhos, manteiga, entre outros) e acidez, ao contrário das películas em PVC.

Nos testes elaborados apresentou sempre resultados superiores às películas de polietileno na conservação alimentar, o que permite manter os alimentos mais frescos por mais tempo, especialmente saladas, frutas e vegetais. Para tornar a vida mais fácil ao consumidor o objectivo era desenvolver uma película que fosse de fácil manuseamento e corte, sem necessitar de serrilha, tornando-a assim mais segura e prática. Esta nova película rasga como se fosse papel, desenrola-se facilmente, tem elevada resistência à perfuração e excelente capacidade de elasticidade e aderência, principalmente em comparação com as películas de polietileno.

Know-how europeu

H: Quem constitui o consórcio internacional que desenvolveu este projecto?

H.M.: É uma parceria europeia, que se pode resumir da seguinte forma: a empresa portuguesa Silvex com a experiência adquirida de 43 anos no mercado de consumo; os italianos da Novamont, líderes na produção de bioplásticos a partir de recursos renováveis, de origem agrícola europeia e que detém um portefólio de patentes com mais de 800 registos internacionais; e os noruegueses da Biobag, líder mundial no fabrico de plástico biodegradáveis. Basicamente, know-how de mercado associado ao know-how de fabrico com desenvolvimento de matéria-prima e formulações adequadas para obter um produto desejado há muito pelo mercado e pela primeira vez uma película aderente totalmente biodegradável e compostável.

H: A Silvex tem os direitos de comercialização em Portugal e Espanha. Qual a estratégia de comercialização?

H.M.: Além da comercialização em Portugal e Espanha, a Silvex vai produzir em exclusivo para o mercado global, sob a marca Biobag. Numa fase inicial, iremos abordar a comercialização através dos nossos clientes que pensamos estarem mais vocacionados para produtos sustentáveis e inovadores e que mais tem trabalhado com a marca Silvex em Portugal. O trabalho comercial em Portugal está mais desenvolvido e vai agora dar-se início em Espanha.

H: O processo de desenvolvimento foi feito em Portugal?

H.M.: Todo o processo de fabrico e desenvolvimento teve lugar em Portugal, na Silvex, onde se ultrapassaram numerosas barreiras técnicas, compatibilizando-se as suas características técnicas e físicas com as dos materiais convencionalmente utilizados (derivados do petróleo). Este produto inovador permitirá ao consórcio internacional reforçar a liderança mundial no biodegradável. A produção da nova película é feita na Silvex que enfrenta agora o desafio de produzir em escala para fornecer o mercado global. A médio e longo prazo, vai fornecer sobretudo a América do Norte e a Escandinávia, através da Biobag.

H: Qual o investimento total no lançamento?

H.M.: Os investimentos foram feitos em vários âmbitos, desde Investigação e Desenvolvimento, adaptação de processo fabril, testes e certificações, marketing e comercialização, entre outros. E está a ser coordenado em função da aceitação e reacção dos vários mercados. No entanto, prevemos que, em termos do mercado global, o investimento terá que ser constante e acompanhar a crescente e rápida sensibilização que o consumidor vai requerendo para produtos, marcas e empresas mais sustentáveis.

No entanto, esse investimento pode ganhar outras proporções caso o aperfeiçoamento de legislação nesta matéria, que varia entre países, seja cada vez mais restritivo, podendo mesmo obrigar toda a indústria a adaptar-se, como, por exemplo, as regras que entraram em vigor recentemente em Itália, no que respeita à distribuição de sacos plástico de supermercado. Havendo solução para um problema, como o da película, nomeadamente a sua reciclagem, será admissível equacionar um cenário onde esta película seja promovida em detrimento de outras, principalmente nos mercados onde impere já esta sensibilização ambiental, como acontece, por exemplo, nos países nórdicos.

H:  A nova película bio já está à venda?

H.M.: É importante realçar que a primeira marca a lançar este produto inovador é portuguesa, a Silvex, e o primeiro grupo de distribuição a comercializar este produto no Mundo é também uma empresa portuguesa, o Continente. Os consumidores portugueses foram também os primeiros a poder optar por esta solução mais sustentável. Poderá não ser importante em termos de dimensão, mas fizemos questão que assim fosse. Apresentámos o produto recentemente, em conjunto com a Novamont, na feira Marca, em Bolonha, para o mercado italiano. Em Fevereiro, a Biobag começa a sua distribuição a nível mundial. Outro mercado para o qual iremos focalizar a nossa atenção é o da Horeca e Food Service, nos países onde o lixo orgânico já é separado, nomeadamente, nas cozinhas profissionais (cadeias de restaurantes, hotéis, cozinhas profissionais, entre outros).

H: O mercado mundial da película aderente em plástico convencional está avaliado em mil milhões de euros. Quanto vale em Portugal?

H.M.: O mercado da película divide-se em três sectores: industrial (embalamento de alimentos); profissional, no canal horeca; e o de grande consumo, nas variantes de primeiro preço, marcas próprias e marcas de fabricante. Não há números concretos sobre o valor que este mercado representa em Portugal.

H: Qual a estimativa da Silvex em vendas para o primeiro ano de comercialização?

H.M.: Considerando a falta de números concretos, é sempre difícil estimar os valores para o primeiro ano de comercialização. De facto, este ano e talvez nos dois seguintes, poderemos estar ainda a falar de nichos de mercado. Contudo o nicho mundial é considerável e muito maior que o mercado ibérico.

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