Editorial

Voltamos ao mesmo

Por a 3 de Dezembro de 2009 as 5:20

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Que a crise teve um impacto profundo nos hábitos de consumo dos portugueses – restringindo-me somente ao nosso País – é uma questão que não sofre qualquer contestação. Que foi possível verificar uma transferência de consumo de fora para dentro do lar, parece-me que também é inquestionável, verificando-se, também, que o consumidor viu nas marcas próprias da distribuição uma alternativa. Que o consumidor – aquele que manteve o emprego e viu a prestação da casa baixar, fruto da descida das taxas de juro – passou a chegar ao final do mês com mais dinheiro, também não se pode contradizer, segundo avançam os números do Instituto Nacional de Estatística e do próprio Governo.

Todos os analistas avançavam com a ideia de que o consumidor nunca mais voltaria a ser o mesmo, que passara a ser mais racional e menos emocional, que tinha no preço a primeira preocupação e que, para tal, comparava os preços, passando a visitar mais lojas.

Ora, os últimos dados da TNS Worldpanel, apresentados no estudo “A resposta dos portugueses à crise”, não contradizem todas estas análises, mas avançam com uma conclusão geral: o padrão de consumo já é semelhante ao de 2007, ou seja, no período pré-crise.

Assim, podemos concluir o seguinte: ou o português está mais confiante ou então não aprendeu nada com a conjuntura difícil que atravessou. Porquê? Pela simples razão de que as taxas de juro não irão manter-se ao nível actual, prevendo-se uma subida para o início de 2010, que o desemprego ainda não parou de aumentar, e, fundamentalmente, que a economia portuguesa, apesar de alguns números avançados pelo Governo indicarem que estamos a crescer, não conseguiu ultrapassar o atraso que possui em relação às restantes economias e que a palavra “competitividade” é algo que muito se diz, mas para a qual pouca contribuição existe.

Muitos são os que admitem que seria difícil os consumidores portugueses sentirem a crise da mesma forma que outros países – olhemos para Espanha – pela simples razão que Portugal não entrou em crise, Portugal já estava em crise.

Ora, assim, não nos admiremos que ao voltarmos ao mesmo, entremos novamente em crise, porque, talvez nunca tenhamos saído dela.

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