Editorial

E os PIGS somos nós?

Por a 17 de Outubro de 2008 as 9:30

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Ainda não há um mês que utilizei esta mesma página para chamar à atenção pela forma “carinhosa” como o Financial Times (FT) na sua edição de 1 de Setembro classificava Portugal, Itália, Grécia e Espanha, chamando a este grupo de países “PIGS”.

Como se isso não bastasse, o FT fez o favor de reforçar a ideia de que, se há oito anos, “os porcos chegaram realmente a voar, (…) agora os porcos estão a cair novamente por terra”, apelidando estes quatro estados-membros da União Europeia de “pigs in muck”, ou seja, “porcos na pocilga”.

Certo é que passadas três semanas deste “curioso” artigo, ainda não foi possível ver que designação o FT encontrou para classificar aqueles que colocaram a economia mundial à beira do colapso. Porque se Portugal, Itália, Grécia e Espanha são PIGS por causa do deficit, o que dizer dos países que necessitam que sejam injectados 700 mil milhões de dólares (cerca de 507,5 mil milhões de euros) na economia e cujas consequências ainda ninguém tem coragem de prognosticar?

O certo é que a “descoberta” desta dura realidade veio baralhar as contas de quase todas as economias mundiais, sendo reflexo disso mesmo as recentes situações difíceis vividas na Alemanha – com o Hypo Real Estate – ou os diversos bancos no Reino Unido, para falar somente nestas que são consideradas as duas maiores economias europeias.

Portugal, aqui no seu cantinho, espera o impacto desta cruel realidade, sendo difícil aos portugueses entender como reagir aos acontecimentos. Certo é que, contra as seis utilizações da palavra “esperança” utilizada pelo Presidente da República no seu discurso do 5 de Outubro, palavras como “dificuldades” ou “difíceis” apareceram nove vezes.

Curioso não deixa de ser também que quando a fartura é muita, o pobre desconfia sempre. E vejamos o exemplo que nos chega dos Estados Unidos da América. O Plano Paulson irá injectar os tais 700 mil milhões de dólares para comprar os “activos tóxicos” espalhados pelo sector financeiro. O que não se compreende é que, entre as medidas a implementar pela administração Bush, 100 milhões servirão para isentar fiscalmente os donos de pistas de corridas de automóveis, 192 milhões serão restituídos em impostos cobrados pela venda de rum feito no Porto Rico e nas ilhas virgens, e mais dois milhões serão utilizados para pagar isenções de impostos na produção de flechas com varetas de madeira natural para crianças.

E depois os PIGS somos nós?

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