Outras Opiniões

Keynes is alive!

Por a 19 de Setembro de 2008 as 9:30

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por Alexandre Mota,
Os mercados financeiros continuam instáveis. No primeiro semestre de 2008 assistimos a uma subida considerável dos preços do petróleo e de outras matérias-primas, a par de uma descida do dólar e das acções do sector financeiro. Nessa altura, a ideia dominante nos gestores de carteiras privilegiava a tese da “descolagem”, ou seja, a crise americana acabaria por ter um impacto reduzido na economia mundial devido à dinâmica económica dos mercados emergentes. Essa tese suportou as commodities e atirou o dólar às cordas. Contudo, em dois meses, a percepção do mercado mudou: neste momento acredita-se menos na tese da descolagem e mais na hipótese de contágio. As implicações mais imediatas passam por uma realocação de carteiras e fecho de posições.

A economia não é uma ciência exacta. Valha-nos o rótulo digno de ciência humana e a frase preferida dos economistas: “não há certezas em economia”. O Homem é uma criatura fascinante e a economia e os mercados financeiros reflectem-no. As características humanas estão claramente reflectidas no comportamento dos mercados. Veja-se, por exemplo, a gula, a ganância e a preguiça (por sinal, três pecados mortais): a actual crise resultou de uma expansão gigantesca, gulosa, gananciosa e preguiçosa do crédito; quem emprestou a devedores de alto risco, quase sem formalidades nem o mínimo de controlo de risco (…preguiça) tinha a garantia e até o incentivo de colocação dessa dívida mortal (…gula e ganância); quem tomava a dívida? Nada mais do que os grande banqueiros americanos que, por sua vez, a colocavam um pouco por todo o mundo, beneficiando da fama e poderes adquiridos à longa data (aqui podíamos pensar que a “soberba” também foi mortal).

Agora, em tempos de crise, todos se lembram que afinal é preciso controlar o risco. Só agora?! É estranha a natureza humana!… São estranhos os mercados e, em algumas coisas, são tão previsíveis. Já sabemos que não há certezas mas, depois desta crise terminar, surgirá uma nova bolha especulativa provocada pela gula, ganância e pela preguiça, novos gestores de sangue na guelra assumirão o controle na busca de rentabilidades e outra crise se seguirá inexoravelmente. Em certo sentido, esta é a história do capitalismo que de crise em crise se vai moldando, adaptando e crescendo. Segundo Marx, esta é a história que levará à destruição do capitalismo. Histórias e profecias…

Ben Bernanke, presidente da FED e insuspeito de ser considerado um marxista, escreveu em 1998 a propósito da independência dos bancos centrais que, quando a economia está em expansão, essa independência é bem-vinda, pois limita os excessos da política fiscal, mas quando a economia enfrenta uma recessão é necessário agilizar procedimentos e concertar políticas com o tesouro. Na prática foi o que aconteceu há meses com a compra da Bear Stearns pela JP Morgan, com o alto patrocínio da FED / tesouro americano e em breve poderá ser o que vai acontecer com a injecção de dinheiro dos contribuintes nas agências governamentais Freddie Mac e Fannie Mae.

Pode concluir-se que, na hora da crise, a “mão invisível” de Adam Smith é fraco consolo. Assim, John Keynes e as suas teses intervencionistas estão bem actuais. Podem não agradar aos teóricos do mercado livre ou ser um cuidado paliativo para os marxistas, mas continuam a ser a base das decisões dos políticos. E o mundo precisa de mais políticos a sério: ágeis a cooperar e sensatos a actuar.

Consultor e Gestor de carteiras da Golden Assets

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