Editorial

E se …?

Por a 27 de Junho de 2008 as 10:30

vitor jorge

Durante a semana passada, Portugal viveu o “perigo” de parar. A paralisação dos transportadores/camionistas fez com que as estações de serviço secassem, impossibilitou os retalhistas de oferecer aos consumidores os habituais produtos (frutas, legumes, peixe, entre outros) e diversos produtores viram as suas produções serem prejudicadas por falta de escoamento.

As culpas foram por inteiro atiradas para o aumento dos preços dos combustíveis que, no espaço de cinco meses, aumentaram cerca de 20 vezes, com as gasolineiras a obterem lucros nunca antes registados e o Governo a ver este filme impávido e sereno.

Curioso não deixa de ser o facto de, à hora que o Governo se encontrava a negociar um acordo com os camionistas, a Galp aumentava, impávida e serena, os preços do gasóleo e gasolina, no mesmo dia em que o preço do crude baixava na principal bolsa mundial.
A “factura” que o Governo aceitou pagar para terminar a paralisação parece, à partida, condenada ao insucesso, dado que, com a manutenção da alta dos preços dos combustíveis, a situação vivida recentemente poderá voltar em breve, não só com os camionistas, mas com forte possibilidade de se estender a muitos outros sectores de actividade da economia nacional.

José Sócrates referiu no Parlamento que o Governo tinha um plano de emergência, caso a situação de paralisação continuasse, mas a um ano de eleições, a lembrança das imagens que assolaram Cavaco Silva, em 1994, com o bloqueio da Ponte 25 de Abril, precisamente pelo sector da camionagem, devem ter surgido na cabeça de muitos.

Mas como em Portugal se vive muito dos “ses”:

– e “se” a paralisação dos camionistas tivesse continuado?;

– e “se” à paralisação dos camionistas se tivessem juntando sectores como as pescas e agricultura, táxis, bombeiros…?;

– e “se” a cavalgada dos preços dos combustíveis continuar, veremos novas paralisações?

O facto de Portugal estar “distraído” com a prestação da Selecção Nacional no Euro 2008 fez com que o País tivesse mais preocupado em saber se o timing do anúncio da saída do sargentão Scolari foi o ideal e qual o seu substituto, ou se Cristiano vai ou não para o Real Madrid.

Assim e com todas estas distracções, talvez alguns comecem a aproveitar a hora dos jogos para tomar algumas medidas mais impopulares ou aumentar alguns preços.

E “se” Portugal vencer o Euro … aí então é a loucura e os problemas serão esquecidos.

O pior é que quando acordarmos, já poderá ser tarde demais.

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