Editorial

Agricultura visionária

Por a 30 de Maio de 2008 as 10:30

vitor jorge

Portugal já definiu quais os produtos estratégicos a ter em conta pelos agricultores nacionais num futuro próximo. Assim, e de acordo com um documento elaborado no âmbito do Proder-Programa de Desenvolvimento Rural, o Ministério da Agricultura considera como estratégicos a ginja, kiwi, dióspiro, baga de sabugueiro, figo e morango.

É certo que os dinheiros para os financiamentos públicos não deverão ser entregues a quem simplesmente queira produzir algo que não tráz retorno para a Região e/ou País, mas parece-me que apostar em culturas como estas não trará grandes perspectivas de sucesso ao sector agrícola nacional e aos respectivos operadores.

Numa altura em que o mundo inteiro se debate com uma grave crise alimentar, o Proder não considera estratégicas as culturas de arroz, cereais, milho, girassol, leite ou carne.

O Ministério da Agricultura já veio salientar que “as fileiras estratégicas são aquelas que, tendo elevado potencial de desenvolvimento sustentado, se encontram num nível de aproveitamento insuficiente”.

Portanto, vamos entregar subsídios aos agricultores nacionais para que estes produzam algo que não está a ser aproveitado, mas que os responsáveis pela agricultura nacional julgam estratégico, dando assim a entender que, neste aspecto, Portugal poderá ficar descansado, uma vez que temos verdadeiros visionários.

Poderá então questionar-se porque razão não são considerados estratégicas a cereja, laranja, maçã, uva, o melão ou melancia? Ou talvez o feijão, a bolota ou mesmo o tremoço?

A Confederação dos Agricultores Portugueses (CAP) já veio, pela voz do seu presidente, João Machado, reconhecer que esta classificação é “absurda”, associando-se já vários deputados ao coro de protestos.

Não espantaria que, à semelhança do que aconteceu com a fileira do vinho, sejam entregues agora apoios para o desenvolvimento destas culturas, pagando-se num futuro, talvez não muito distante, subsídios para o arranque das culturas agora consideradas estratégicas.

O que ninguém ainda revelou foi onde é que estas culturas agrícolas estratégicas e visionárias serão postas em prática e quem as irá consumir. A ver vamos.

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