FMCG Marcas

Preço em detrimento da qualidade

Por a 21 de Março de 2008 as 9:30

charcutaria

A diminuição do poder de compra dos portugueses está a direccionar a sua opção de escolha para artigos de charcutaria de marca de distribuição. Nesse sentido, os operadores nacionais optam por apostar na diferença e qualidade.

As marcas de distribuição estão a ganhar terreno no mercado de charcutaria, roubando espaço e diminuindo a notoriedade das marcas dos produtores nacionais. Este comportamento é impulsionado pelas dificuldades económicas da população portuguesa, que «dão primazia ao preço em detrimento da qualidade».

«Devido à conjuntura actual, o consumidor preocupa-se cada vez mais com o factor preço, provocando a transferência de consumo do produto de maior qualidade e de preço mais elevado, para o produto de preço inferior», afirma Helder Ruivo, administrador da Probar. Razão que justifica a crescente presença de produtos de marca própria, com elevados níveis de penetração.

Neste sentido, a área charcutaria tradicional de produtos de corte dos hipermercados tem sido lentamente substituída pela área de produtos fatiados, nomeadamente da marca do distribuidor. Este comportamento «traduz-se numa forte diminuição da notoriedade das marcas nacionais e maior dependência dos produtores face às cadeias de distribuição», continua o responsável.

As tendências
O mercado português de charcutaria é caracterizado pelo elevado número de empresas, com muitos pequenos operadores e com uma forte presença espanhola. No entanto, é liderado por duas ou três grandes empresas. Para concorrer com as marcas mais fortes, as pequenas companhias têm que apostar na diferença e na qualidade.

Saúde, sabor e praticidade são as grandes tendências deste mercado, que apesar da crise tem-se revelado bastante dinâmico, com a introdução de novas categorias, sub-categorias, conceitos e formatos de consumo. Começa agora a haver espaço para produtos conotados com estilos de vida saudáveis. «Os segmentos que trabalhem produtos que contenham alegações de saúde e nutricionais, funcionais», são dos mais dinâmicos, como refere João Fonseca, administradora do grupo Sotótó.

O mercado dos fatiados e pré-embalados tem também registado um crescimento acentuado, garantindo conveniência ao consumidor final. Apesar disso ainda prevalece a venda de produtos cortados no momento da compra.

«A cada dia que passa estamos a aproximarmo-nos mais do que se passa no resto da Europa, continuando a existir no entanto um peso ainda muito grande por parte do balcão de atendimento, acima de tudo por falta de espaço no ponto de venda para absorver e providenciar às inovações em Serviço Livre o espaço suficiente para vingarem no mercado», afirma Luís Fernandes, director comercial da Campofrío.

Portugueses Tradicionais
Este mercado divide-se em duas categorias: peças para fatiar (bacon, fiambre, mortadela, paio, presunto e chourição) e enchidos (alheiras, chouriço, linguiça, morcelas, painho e salpicão). Apesar de ambas marcarem forte presença nos lares nacionais, as peças fatiadas ganham terreno aos enchidos.

De acordo com dados da TNS, em 2007 a taxa de penetração das peças fatiadas era de cerca de 90%, enquanto dos enchidos ficou-se pelos 75,4%. Em média, os lares nacionais gastaram cerca de 38,25 euros em peças fatiadas, valor que decresce para os 17,26 euros nos enchidos.

Os portugueses continuam muito tradicionais na hora de comprar produtos de charcutaria, o fiambre de porco e o presunto são os artigos mais consumidos. Estes fazem parte do quotidiano nacional e estão incutidos nos hábitos nacionais, no entanto, há cada vez mais adeptos dos fiambres de perú e frango (carnes brancas, mais saudáveis).

Dentro do segmento de enchidos tradicionais, os mais consumidos são o chouriço grosso de porco preto e o paio tradicional de porco preto, isto porque «são os mais acessíveis considerando o factor qualidade preço», de acordo com Francisco Arvana, gerente da SEL, Salsicharia Estremocense.

No entanto, estes têm registado um decréscimo no consumo «dado existir uma maior preocupação por parte do consumidor no que diz respeito à saúde e bem-estar», refere o responsável da Probar. Estes «começam a ser gradualmente excluídos dos hábitos alimentares, em substituição de outros produtos, como é o exemplo do presunto que muitas vezes é aconselhado por nutricionistas», continua.

A perca de poder dos consumidores está também a direccionar o consumo para produtos de menor valor acrescentado, como o chouriço corrente, mortadela ou fiambres de gama baixa, acrescentou o especialista da Sotótó.

Por uma concorrência leal
A introdução da legislação HACCP, que estabelece as regras relativas à higiene dos géneros alimentícios, trouxe melhorias tanto para as empresas produtoras, garantindo o correcto funcionamento das companhias que operam no sector, assim como para os consumidores finais. Desde a qualidade e segurança dos produtos fabricados, aos cuidados com a produção, a todo o processo de rastreabilidade, toda a cadeia foi afectada pela positiva.

«Também introduziu no mercado critérios objectivos de justiça concorrencial, beneficiando as empresas verdadeiramente competitivas, que sempre pautaram a sua forma de estar implementando soluções de qualidade», sublinha João Fonseca.

Cabe à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) fazer cumprir as regras de funcionamento do mercado, para que os vários operadores concorram de forma leal, através da fiscalização e verificação da garantia das condições higio-sanitárias das diversas unidades de produção e venda de produtos alimentares.

Todos os profissionais do sector questionados pelo Hipersuper classificaram como “positiva” a acção da entidade estatal. Quanto às desvantagens, «aparecem quando há excesso de zelo e agem de forma desconcertada», refere o especialista da SEL.

No entanto, de acordo com a opinião dos responsáveis o papel da ASAE deverá ser mais «pró-activo», com uma «vertente pedagógica», e «menos repressivo». Postura essa que já se faz notar, de acordo com o responsável da Sotótó, e que se irá reflectir (ainda mais) no futuro do mercado da charcutaria em Portugal.

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