Bebidas

Unicer: operação Angola

Por a 7 de Março de 2008 as 9:30

unicer
O novo ovo de Colombo nos resultados da Unicer é a exportação. Sob a batuta de Pires de Lima, a cervejeira exportou 99 milhões de euros em 2007, mais 20%. Angola é prioritária na cruzada internacional.

Para vencer as dificuldades de crescimento que a indústria de bebidas tem vindo a enfrentar no País, António Pires de Lima, CEO da Unicer, apontou as baterias para a exportação. Em 2007, os resultados da cervejeira, detida por capitais maioritariamente nacionais, beneficiaram da forte pujança do mercado externo que totalizou 99,1 milhões de euros e já representa 20% das vendas líquidas da Unicer.As exportações cresceram em todos os mercados, mas as atenções estão centradas em Angola. «Exportámos mais de 130 milhões de litros para Angola e alcançámos quase 70% da quota de mercado de cervejas importadas no País», revelou Pires de Lima.

Encaminhar 130 milhões de litros para aquele país africano não se afigura tarefa fácil. Razão pela qual a Unicer apresentou em Maio de 2005 um projecto para instalar uma unidade de produção em Angola, um investimento avaliado em 100 milhões de euros. No final de 2006, as autoridades angolanas fizeram saber que «o projecto de investimento só reunia condições para avançar se combinasse capitais portugueses e angolanos».

Em Novembro do ano passado, a Unicer deu o grande passo. Assinou um acordo com três grupos empresariais angolanos. Pires de Lima prefere manter a identidade das empresas no anonimato.

«A nossa convicção é que o projecto vai conhecer luz verde das autoridades angolanas e até ao início de 2010 a Unicer estará a produzir em Angola».

Lucros atingem 27 milhões
As notícias sobre o aquecimento global trocaram as voltas à indústria nacional de bebidas. Previa-se um Verão escaldante mas as baixas temperaturas que se fizeram sentir na época estival prejudicaram o desempenho das empresas.

Apesar das adversidades, a empresa líder de mercado registou um crescimento de 5% nas vendas líquidas em 2007, face ao ano homólogo, que alcançaram 457 milhões de euros. A cifra é significativa, sobretudo analisando os resultados do sector: as vendas de bebidas recuaram 4%, e, no caso particular das cervejas, 10%.

Pires de Lima conduziu ainda a Unicer ao melhor resultado operacional da história da cervejeira com capitais da Carlsberg (44%).

O esforço de redução dos custos fixos, em cerca de 10 milhões de euros, foi decisivo para a subida de 39% nos resultados operacionais que registaram 62 milhões de euros no ano passado.

O processo de reestruturação teve início em 2006, quando Pires de Lima assumiu o comando da empresa. Entre as medidas mais substanciais, destacam-se os encerramentos das fábricas de Vidago e Loulé que levaram ao despedimento de mais de 500 trabalhadores.

Quanto aos lucros, esses, mais que duplicaram, mas o CEO da Unicer não está satisfeito. «O resultado líquido não foi o melhor de sempre. Assumimos despesas de reestruturação muito significativas, consequência da operação de racionalização de custos. Ainda assim, atingiu 27 milhões, mais 15 milhões face ao ano anterior».

O plano de investimentos para 2008 é agressivo e atinge valores recorde. A empresa de Leça do Balio tem um orçamento de 84 milhões de euros, 48 milhões para o negócio das bebidas e a restante fatia para a mais recente área de negócio: o turismo.

Pires de Lima lança metas: crescer mais de 5% em vendas líquidas e mais de 10% nos resultados operacionais.

Cerveja em casa
A estratégia de negócio da Unicer sofreu alterações no ano passado. A cervejeira abandonou as «guerras de preços» e «anúncios propagandísticos de inovações sucessivas, muitas vezes sem continuidade, que não se revelam um instrumento de criação de valor e riqueza para a empresa». A fórmula do CEO, que vai ser repetida em 2008, é concentrar os investimentos em «poucos e bons projectos».

Os dois principais lançamentos do ano passado revelaram-se rentáveis. Super Bock sem álcool alcançou a liderança do segmento e facturou 8,2 milhões. «A evolução do mercado cervejeiro em Portugal há-se ser feita com o desenvolvimento de referências diferenciadas, que permitam o consumo regular de cerveja», adivinha. O conceito desenvolvido para consumo doméstico, Xpress, alcançou o galardão de produto mais inovador em 2007. A Unicer comercializou no primeiro ano de lançamento 15 mil máquinas e mais de 80 mil barris de cinco litros.

No sector das águas lisas, Vitalis Elegante foi a grande aposta em 2007. A marca vendeu 1,5 milhões de litros em nove meses. Nas águas gaseificadas, a Unicer detém a marca líder, Pedras Salgadas, adquirida em conjunto com todo o património da VMPS em 2001. A estratégia do gestor passa por consolidar a gama Pedra Sabores, «procurar novos consumidores e novas ocasiões de consumo».

2007 foi ainda sinónimo de melhorias na gestão dos negócios complementares, café (EBIT cresceu 0,6 milhões), vinhos engarrafados (EBIT cresceu 1,2 milhões) e refrigerantes, com o objectivo de não penalizarem as contas da cervejeira.

antonio pires de lima

Três pergunta a António Pires de Lima

Hipersuper (H): O processo de reestruturação está concluído?
António Pires de Lima (APL):
Não posso garantir que em 2008 não haverão mudanças na estrutura organizativa da empresa, mas a parte substancial, de leão, está cumprida. Não prevemos tomar medidas em 2008 ao nível das do ano passado. Hoje, a Unicer é um empresa do ponto de vista administrativo com uma dimensão que compara bem com as melhores práticas a nível internacional.

H: A recente legislação sobre o tabaco influenciou as vendas?
APL:
A proibição do fumo acaba por afectar o consumo de cerveja. Temos indicações pontuais que estimam um quebra significativa nas três primeiras semanas, cerca de 15 a 20%. Estes resultados acompanham de alguma forma o que se passou por essa Europa fora.

H: A subida do preço das matérias-prima afectou o preço da cerveja?
APL:
O custo de produção de malte, que utiliza como matéria-prima a cevada, é hoje mais do dobro daquilo que custava há 2/3 anos. Temos procurado ajustar os preços ao consumidor de forma moderada para proteger as margens. O preço da cerveja nos hipermercados está 10% acima face há dois anos. O vidro também tem vindo a ser afectado de forma muito significativa pela subida do preço do petróleo. A indústria da cerveja é uma das mais penalizadas, foi em 2007, e não prevemos que se modifique em 2008.

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