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Indústria alimentar debate futuro

Por a 30 de Novembro de 2007 as 9:30

fipa

As barreiras administrativas com que se deparam os processos de licenciamento são um dos motivos da falta de investimento em Portugal. Este é um dos constrangimentos à actividade denunciados por Francisco Van Zeller, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), durante o Congresso da FIPA, que reuniu recentemente cerca de 300 participantes em Lisboa.

Sem papas na língua, o patrão da indústria portuguesa colocou preto no branco os desafios que de colocam ao sector agro-alimentar e apontou o dedo às restantes entidades envolvidas no licenciamento que, como referiu, continuam a bloquear os processos, apesar do empenhamento do Governo em simplificar as questões burocráticas.

A revisão da lei da propriedade industrial também mereceu destaque na intervenção do presidente da CIP, que deixou um conselho: «Tudo deve ser rapidamente protegido, inclusive cheiros e cores». Francisco Van Zeller enriqueceu a intervenção com um repto. A CIP tem acesso grátis aos resultados da medida Informação Empresarial Simplificada, consequência da prestação de contas electrónica, uma excelente plataforma para desenvolver vários estudos (dimensão regional, nacional, entre outros). «A informação sobre as empresas hoje em dia é real».

A concorrência do IVA
Francisco Van Zeller defendeu ainda a simplificação fiscal. «A fiscalidade não é justa» e as diferenças de IVA (Imposto de Valor Acrescentado) face a Espanha são disso um bom exemplo.

O volume de negócios das empresas portuguesas perde anualmente mais de 600 mil euros para as companhias espanholas devido ao diferencial de 5% no IVA. É Pedro Queiroz, director-geral da FIPA, quem faz a estimativa e, de seguida, deixa o alerta: «Em conjunto com os constrangimentos derivados da crise económica, pode levar ao encerramento de mais fábricas».

A temática da concorrência entre o sector alimentar e a energia veio a terreiro pela voz de Jorge Henriques, presidente da FIPA, que teve honras de abertura do congresso. «É urgente a aposta em biocombustíveis de segunda geração que não ponham em causa a sobrevivência da indústria agro-alimentar e o aumento de preços para o consumidor», sublinhou.

A indústria agro-alimentar nacional deverá facturar 12,5 mil milhões este ano, um crescimento de 2% face ao período homólogo. As exportações representam 6% do total de facturação. A área das bebidas tem o maior peso no volume de negócios (18,8%), seguida dos produtos derivados de carne (13,7%) e lacticínios (13,4%).

Em 2006, o sector agro-alimentar alcançou um aumento de 4,2% nas vendas, segundo dados da Nielsen. A subida coloca Portugal no terceiro lugar da tabela europeia de crescimento.

Produtos funcionais
Subordinado ao tema “Ao encontro das necessidades do consumidor”, o congresso contou com a nata da indústria agro-alimentar nacional. Rotulagem, saúde e segurança alimentar, foram temáticas em destaque. Luis Mesquita, CEO da Unilever Jerónimo Martins, empresa pioneira no lançamento de margarinas funcionais no País, partilhou a experiência do grupo que factura 500 milhões de euros. «Nos últimos três anos centrámos esforços na saúde infantil e cardiovascular, assim como no combate à obesidade». A marca Vaqueiro é um exemplo deste projecto. O teor de gordura da margarina foi reduzido em 14% e foi substituído por gorduras saudáveis (polinsaturadas). Por outro lado, os níveis de sal caíram 11%. E quem pensa que a quota de mercado caiu por causa da reformulação, desengane-se. Vaqueiro detém mais de 50% do mercado e a nova fórmula até permitiu afastar a margarina das marcas da distribuição, sublinhou. Entrar no segmento funcional com outros produtos é a estratégia da empresa a curto-prazo.

Pires de Lima, líder da Unicer, sintetizou quatro tendências principais a ter em conta pela indústria agro-alimentar no presente e futuro. Massificação do luxo, procura de produtos “commodities”, envelhecimento da população enquanto oportunidade de mercado e responsabilidade social.

A indústria tenderá a “funcionalizar” cada vez mais produtos. Hoje paga-se 5 a 6 vezes mais por um produto que há 5 anos era simplesmente água, referiu Pires de Lima. A título de exemplo, o CEO da empresa de Leça do Balio apontou o mercado de águas engarrafadas americano que se divide em duas prinicipais áreas de consumo: a das águas premium, por um lado, cujo custo de uma garrafa é de cerca de 10 euros. E, por outro lado, o movimento que recusa comprar água engarrafa alegando questões ambientais.
Papel da distribuição numa escolha informada

A grande distribuição assume “um papel fundamental na educação alimentar dos consumidores”, afirma Sofia Morais, coordenadora da área alimentar da APED (Associação Portuguesa de Empresas da Distribuição).

Neste sentido, a distribuição deve ajudar o cliente a fazer uma opção correcta e informada. De acordo com a especialista, isto é possível através da selecção e da forma como são apresentados os produtos na loja, do layout do estabelecimento, de funcionários formados que ajudem, informem e acompanhem o cliente, assim como campanhas de sensibilização.

Distribuidor é produtor
As grandes empresas de distribuição assumiram também o papel de produtores, dando lugar ao grande boom das marcas próprias. Por isso, os associados da APED têm optado por colocar informação nutricional na rotulagem dos produtos, refere Sofia Morais. «Não existe nenhum modelo harmonizado que seja adoptado pelas empresas, sendo o seu conteúdo determinado pela legislação vigente». A especialista da APED salienta o modelo defendido pelo EuroCommerce, de carácter opcional, «que recai no conteúdo da rotulagem nutricional e não na sua forma de apresentação, e pretende incentivar a auto-regulação». Não há crise!

Uma crise pode surgir no seio de uma empresa quando menos se espera. É aqui que as agências de comunicação têm um papel fundamental, como referiu Nuno Leite, responsável pela gestão de crises e relações publicas do grupo GCI.

«Uma crise não é nada mais do que um problema interno que é tornado público», e pode surgir em cenários previsíveis (90%) e imprevisíveis (10%). «Quando um assunto é tornado público, geram-se ruídos de informação, que podem durar 3 ou 4 dias e até ditar o fim da empresa».

Nuno Leite dá algumas dicas para ultrapassar a crise: «centralização e controlo da informação. Identificar o problema, definir soluções e a estratégia a longo prazo, porque pode voltar a acontecer».

Quando o assunto é tornado público, é activado o plano de crise, até porque normalmente é notícia. Nesta fase, é fundamental nomear um speaker da empresa, para evitar informações confusas contraditórias.

Confissões da indústria

«A responsabilidade social mexe com a reputação e o valor da empresa. Não é um imperativo de consciência é já uma regra do jogo que entra uma empresa que quer sustentar valor ao longo dos anos»
António Pires de Lima, Presidente Executivo da Unicer

«É preciso inovar e diferenciar-se das marcas próprias. Não há espaço para mais do que duas marcas. Há que procurar vantagens competitivas na fileira e não apenas no centro de produção»
Rui Amorim de Sousa, Administrador Delegado da Cerealis

«Além das questões nutricionais, o consumidor quer saber quem está por detrás do fabrico dos produtos«
António Reffóios, Administrador Delegado da Nestlé Portugal

«É preciso inventar permanentemente o próximo livro. As vantagens competitivas duram meses. Há que inovar e não parar»
Nuno Teles, Director de Marketing da SCC

«A indústria alimentar não é a fonte da obesidade e se for a origem é a resolução»
Luis Mesquita Dias, CEO da Unilever Jerónimo Martins

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