Outras Opiniões

Volatilidade dos mercados – regresso à normalidade

Por a 5 de Outubro de 2007 as 9:00

alexandre mota

O que ocorreu nos mercados accionistas durante os meses de Julho e Agosto não nos surpreendeu. Não nos referimos apenas à tradicional correcção técnica que alguns analistas invariavelmente sugerem quando os mercados estão especialmente quentes, batendo diariamente novos máximos, mas sim algo muito mais profundo que vinha sendo desenhado desde há anos e se acentuou bastante em 2007. Passemos então em revista alguns aspectos desta crise:

1) .Em artigos anteriores referimos por diversas vezes que as subidas dos mercados de então estavam a ser muito mais suportadas por uma abundância de liquidez do que pelos resultados económicos. Quando assim é, a atitude do investidor/especulador tende a menosprezar os riscos, procurar acréscimos de rentabilidade a todo o custo, aproveitando as generosas condições de liquidez.

2) Adicionalmente, mostramos preocupação com a baixíssima volatilidade do mercado, que medida através de diversos índices se encontrava a mínimos históricos. Esse nível de volatilidade tão baixa significava que nunca se tinha pago tão pouco para proteger carteiras contra uma queda do mercado. O nível de conforto e de confiança era anormalmente alto, e se é verdade que normalmente a volatilidade cai quando os índices accionistas sobem, a situação começava a não bater certo com os sinais de crise que entretanto se anunciavam, designadamente no mercado imobiliário.

3) Bernanke e os seus pares da reserva federal americana bem tentaram acalmar o mercado, referindo que a crise do sector subprime estava contida, mas o mínimo que se pode dizer após a sucessão de anúncios de dificuldades por parte de vários fundos e instituições financeiras é que estavam enganados.

4) Alguns personagens de referência do mercado como por exemplo Alan Greenspan alertavam há muito para o facto dos investidores não estarem a medir devidamente os riscos em alguns investimentos. O responsável da Pimco, Bill Gross (várias vezses citado nos nossos artigos) previa desde há muito uma descida de taxas do FED. Parece que tinha razão.

5) Quanto à atitude do FED (corte da taxa de desconto) e mudança do viés de política monetária, pensamos que foi adequada. A questão em aberto será saber quando é que o FED descerá as taxas de juro e com que velocidade

Em termos de perspectivas futuras, grande parte das nossas ideias para 2007 concretizaram-se muito rapidamente durante os últimos meses.

Em primeiro lugar, o aumento da volatilidade e a agitação nos mercados accionistas; em segundo lugar o aumento significativo dos spreads entre obrigações do tesouro e outras obrigações; por último a depreciação do dólar já se concretizou na dimensão que prevíramos.

No que diz respeito às taxas de juro, fomos bastante modestos quanto às subidas por parte do BCE (pensávamos que ficaria pelos 3,75% ou 4%), mas no futuro próximo não vemos muito mais espaço para subidas, o que é uma boa notícia para as famílias portuguesas excessivamente endividadas.

No que diz respeito aos mercados accionistas pensamos que estão agora mais correctamente valorados, especialmente alguns títulos que nada têm que ver com esta crise, mas que são arrastados no meio do pânico vendedor.

Contudo, o aumento da volatilidade veio para ficar e a direcção do próximo grande movimento é cada vez mais incerta.

Alexandre Mota, Analista da Golden Assets

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