Outras Opiniões

A globalização e o mercado português

Por a 13 de Julho de 2007 as 9:00

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Se reflectirmos sobre as tendências macro dos últimos anos e sobre a respectiva estrutura macroeconómica podemos distinguir um conjunto de elementos:- crescimento económico acelerado para níveis nunca registados (PIB mundial cresce acima de 5%);

– desinflação;

– aumento do retorno sobre o capital;

– baixas taxas de juro reais

Estes elementos tiveram sempre como pano de fundo um conjunto de condicionantes ou componentes do processo, designadamente o ritmo de globalização, a inovação tecnológica a liberalização dos mercados e a inovação financeira, e as políticas públicas favoráveis.

Os riscos para a continuidade destas tendências são vários.

Em primeiro lugar, a ideia de que uma crise do imobiliário nos EUA poderá contagiar o resto da economia americana, e por consequência o resto do mundo, não parece recolher consenso, ou seja, nem é um dado adquirido que a crise se transmita ao consumidor americano, nem que o resto do mundo esteja tão vulnerável a uma crise americana.

Em segundo lugar, nas outras componentes parece-nos existir mais consenso sobre a eventualidade de um ponto de viragem (não agora, mas talvez nos próximos 12-24 meses). Os riscos inflacionistas são evidentes, quer os que são oriundos da apreciação gradual do yuan chinês, que já pode estar a exportar alguma inflação para alguns países, quer os que decorrem da desaceleração do processo de transferência de milhões de trabalhadores para um ambiente de mercado. Adicionalmente, o senso comum sugere que a luta entre o trabalho e o capital que produziu grandes desigualdades no passado recente, tende a corrigir-se via aumento de salários, o que terá um impacto nas margens de lucro ou nos preços (ou em ambos).

Por último, há uma condicionante do processo (a inovação financeira) que contém uma grande quantidade de risco. No caso do mercado imobiliário americano, os créditos foram vendidos pelos bancos a fundos de investimento, que por sua vez os colocaram nas carteiras dos seus clientes. O facto de vivermos um ambiente de grande euforia e liquidez generosa, obriga os gestores a procurar alguns pontos base de acréscimo de rentabilidade sem medirem devidamente os riscos. Penso que em grande parte é isso que está a acontecer nesta conjuntura do mercado e que nos coloca especialmente selectivos e desconfiados.

À medida que nos aproximamos do final do 1º semestre de 2007, o índice Psi20 destaca-se entre os congéneres europeus, com uma valorização próxima dos 20% em 2007, contrastando, por exemplo, com uma valorização mais modesta do espanhol IBEX 35, que regista uma valorização de apenas 4%. A valorização do PSi20 está relativamente bem distribuída pelas várias acções que compõem o índice, embora se destaque o BCP que regista uma performance superior a 40% este ano.

Podemos tentar justificar esta boa performance relativa como um reflexo das melhorias macroeconómicas, ou como um reflexo dos bons resultados das empresas, ou então, porventura de forma mais sensata, como o reflexo do funcionamento dos mercados financeiros globais, dentro do qual algumas empresas portuguesas importantes e com peso no índice são vistas como oportunidades de investimento para investidores institucionais que actuam sob a forma de fundos de investimentos. Neste sentido, o mercado português é mais um estágio deste processo de inovação financeira, é mais um passageiro da “bomba”, (utilizando as palavras de Bill Gross* para classificar o mecanismo actual dos mercados globais).

*Bill Gross é o responsável da PIMCO, a maior gestora mundial de obrigações
Alexandre Mota, Analista da Golden Assets

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