Distribuição

“Uma questão de escolha”

Por a 11 de Maio de 2006 as 18:30

Grulke

Tendo como ponto de partida os anos 60 e 70, designando-a como a “idade do aquário”, Wolfgang Grulke trouxe até ao 2.º Congresso do Comércio Moderno a ideia de como será o Mundo em 2020. Com uma apresentação carregada de ideias novas, Grulke defendeu que os modelos empresarias estão a moldar o futuro a uma velocidade sem precedentes.

Dedicando-se, desde 1987, a preparar as empresas para a nova economia mundial, Wolfgang Grulke veio a Lisboa trazer as “Dez lições do futuro”, deixando à plateia que assistiu à sua intervenção a ideia de que: “o futuro é uma questão de escolhas, não de sorte”. Na realidade, segundo o fundador da Business Futures Group, tendo lançado na Internet a Futureworld, “o futuro tem de ser visto como uma oportunidade”, existindo mudanças emergentes para as quais ninguém está preparado e que, por vezes e na maioria dos casos, não se acredita nelas.

Apontando como ideias a ter em conta num futuro próximo a tecnologia, os modelos de negócio e a cultura de consumidor, além do emergente continente asiático, o importante para as actuais estratégias de negócios é o poder de adaptação, que terá de ser o mais rápido possível, admitindo Grulke que “é necessário planear as coisas e esperar o inesperado”.

Sixties como ponto de partida

Na sua apresentação, Wolfgang Grulke teve como ponto de partida a cultura dos anos 60 e 70, designada como “idade do aquário”, com a análise das atitudes, produtos e empresas que emergiram nessa época e que nalguns casos já desapareceram, devido à falta de adaptabilidade dos seus responsáveis. Para o alemão, “liderança poderá ser uma coisa efémera. Na realidade, existem muitos líderes que sabem como é que o mercado poderá estar daqui a uma década e não fazem nada para ir ao encontro dessa realidade. É um erro cair na inércia não procurar adaptação e modernização”, deixando uma máxima: “compreender o negócio, perspectivar o futuro e não descartar qualquer hipótese é hoje em dia fundamental para o sucesso do negócio”. Propondo aos presentes que “invistam dez por cento do seu tempo a compreender o futuro”, o orador falou da importância de conjugar conhecimento com qualificação, experiência com atitude, gestão com liderança e, finalmente, pessoas com relações.

Questionado pela Hipersuper (à margem da sua intervenção), quais as tendências que prevê para 2020 ao nível da gestão, tecnologia, consumidor e mercados, Grulke deixou algumas pistas. No que diz respeito à gestão, “esta deverá ter a capacidade de analisar o pensamento hierárquico e compreender como é que as redes reais funcionam. Será necessário uma nova forma de liderança para atrair inteligência nova para o respectivo negócio”. Já no campo da tecnologia, “esta deverá continuar a penetrante em toda a nossa vida. Tornar-se-á mais acessível e mais fácil de utilizar. Estar “desligado” significará estar morto para a maioria das organizações e indivíduos”. Quanto ao consumidor, “deverá ficar mais inteligente e muito mais exigente. Os retalhista e fornecedores deixarão de se poder esconder por detrás de brochuras corporativas – o consumidor tenderá a não deixar enganar-se – reivindicando negócios abertos e transparentes e resistirão a qualquer empresa que não os trata de modo exigido. Por último, os mercados deverão tornar-se mais interligados. “Este facto é já uma realidade nas empresas que inventam uma nova cadeia de valor para cada produto fornecido. Produção inteligente terá de estar associada a distribuição e consumo inteligente”.

Consumidor do futuro

Importante na análise realizada por Wolfgang Grulke no 2.º Congresso do Comércio Moderno foi a ideia deixada relativamente à influência que a tecnologia e sua aplicação poderá ter na transformação das tendências por parte do consumidor e como este poderá vir a efectuar as suas compras daqui a 20 anos. Cada vez mais o mercado e o consumidor são confrontados com a ideia de tecnologia, aplicações informáticas, e-services, chips e microchips, constituindo a nano-tecnologia a “moda” actual e o caminho para e do futuro.

Na opinião de Grulke, a tecnologia irá moldar o retalho em duas formas profundas. Em primeiro lugar, muitas cidades (e países) estão a começar fornecer a todos os seus habitantes, acesso livre e gratuito à Internet wireless de banda larga, o que aumentará as e-applications. Alguns retalhistas desaparecerão dos centros comerciais. No topo destas ausências deverão estar os retalhistas de música, filmes e jogos que serão substituídos pela explosão dos downloads destes produtos e serviços.

Em segundo lugar, a revolução na produção será criada pela utilização avançada da tecnologia de impressão a 3D. “Hoje já é possível imprimir um vestido de nylon numa impressora “standard” a jacto de tinta, a partir do download do modelo do designer da Internet. Actualmente, estas impressoras custam cerca de 40 mil dólares, mas num espaço de dez anos, os preços baixarão para 400 dólares e deverão estar em todas as casas das classes sócias médias. Todas as inovações irão mover a produção directamente para a altura de consumo”. Na opinião de Grulke “a Internet de hoje é o precursor do centro comercial do futuro. A Internet de amanhã apagará a intermediação de todos na cadeia de valor, a não ser que se consiga encontrar uma forma de acrescentar valor ao negócio”.

Também a questão de como as empresas retalhistas deverão responder ao “boom” de tecnologia foi analisado por Grulke. “Num mundo que é tão aberto, fragmentado e interligado, todos possuem oportunidade de ser o que desejam. O maior desafio estão nas nossas próprias cabeças”, adiantando que “deixámos de ter os “haves” e “have nots”, para passarmos a ter os “haves” e “want nots”.

Como questões interessantes, Grulke deixou o exemplo da Nokia. “Como é que a Nokia passou de uma empresa de produtos florestais para líder no campo das telecomunicações móveis? Como é que é que os retalhistas da indústria dos filmes e música terão de reagir à crescente “ameaça” da Internet? O que irá acontecer aos fabricantes de máquinas de lavar-loiça quando forem substituídas por pequenos aparelhos da Sony? O que acontecerá aos retalhistas de linha branca e aos fabricantes dos produtos para as respectivas máquinas? Tudo o que farão terá de ser radical, não podendo acompanhar esta tendência simplesmente por fazer produtos melhores ou esforçarem-se mais”. Concluindo, Wolfgang Grulke deixou o recado: “terão de sair da caixinha e inovar radicalmente. De outra forma caminharão para o “abismo” e não encontrarão respostas para as soluções que os novos tempos colocam ao negócio. Neste Mundo que corre a uma velocidade vertiginosa não é suficiente aprender com a experiência, temos que aprender com o Futuro!”.