O futuro da Logística

Por a 10 de Janeiro de 2006 as 18:00

Aplog

O sector da logística debateu durante dois dias os principais desafios que se colocam a curto e médio prazo. O congresso anual da APLOG juntou mais de 350 participantes que discutiram questões sobre tecnologia, organização e gestão empresarial dentro de um ramo operacional cada vez mais vital na cadeia alimentar.

A logística é essencial para a criação de vantagens competitivas nas empresas. Neste sentido, repensar a função da logística é o desafio que Jaime Andrez, presidente do conselho directivo do Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (IAPMEI), lançou aos empresários portugueses no 8º Congresso da APLOG, que decorreu recentemente no Parque das Nações. Apostar na inovação e na subcontratação, direccionando as estratégias empresariais para o negócio principal, assim como investir nas Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) constituem, para Jaime Andrez, as regras de ouro para o sucesso das empresas. Nas palavras do orador, este desafio «decorre essencialmente das circunstâncias empresariais e processos inovadores que privilegiam a óptica de colaboração, planeamento e focalização no “core business”. Assim como em estratégias de gestão atenta, em modelos de cooperação e na utilização das NTIC».

Apostar na subcontratação

Para o orador, as vantagens da colaboração entre os vários intervenientes da cadeia de valor são imensas. Apontou como exemplo um estudo realizado pelo Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial que «apresenta Portugal como o país da Europa que recorre com maior frequência ao uso da frota própria, com consequentes efeitos penalizantes para as empresas, que se traduzem em baixas taxas médias de utilização quando comparadas com as frotas de transportadores e outros operadores especializados». Tendo em conta a média da performance das empresas do velho continente, Portugal apresenta custos mais elevados, prazos de entrega superiores e níveis de serviço mais baixos, revela o estudo.

Jaime Andrez destacou ainda a projecção realizada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) que assinala o número médio percentual de viagens realizadas em 1999, em Portugal, com utilização de frotas próprias (41%) e subcontratadas (23%). Tendo em conta estes números, «e para que se possa alcançar condições de competitividade mais niveladas com os principais concorrentes externos, importa que as empresas, sobretudo as pequenas e médias empresas (PME), valorizem e repensem a função da logística, inovando nos modelos de aprovisionamento e distribuição», acrescenta.

Novas tecnologias

Um estudo recente, citado por Jaime Andrez, revela que no «segmento das PME a disponibilidade de acesso à Internet ronda os 40 por cento contra os valores de referência média europeia que se situam nos 75 pontos percentuais». Tendo em conta os números apontados pelo estudo, para o orador, investir nas novas ferramentas tecnológicas é fundamental para Portugal. «É reconhecido que os maiores progressos na disciplina logística tiveram como principal suporte o recurso ao desenvolvimento das NTIC, que aceleraram e facilitaram a partilha e processamento de grandes quantidades de informação, de forma mais rápida, segura e eficaz», revelou. Para exemplificar como é possível criar vantagens competitivas, fazendo uso das novas tecnologias e em simultâneo através da cooperação entre os diversos intervenientes da cadeia de valor, destaca a empresa norte-americana Wal Mart: «A aplicação crescente das NTIC ao longo da cadeia de valor da Wal Mart, a par de um ambiente fortemente competitivo, conduziu à ocorrência de uma cooperação vertical de forma a optimizar a gestão da cadeia de abastecimento». A utilização das NTIC «tem reflexos na redução dos custos, prazos de entrega e possibilita a prestação de um serviço com maior qualidade», remata.

Exemplo de sucesso

A importância das empresas se focalizarem no seu negócio principal e apostarem no recurso à externalização é unânime entre os oradores. Partindo do seu ponto de vista mais empresarial, Filipe de Botton, fundador da Logoplaste, empresa industrial que produz embalagens de plástico para vários segmentos de mercado, explica aos congressistas: «A Logoplaste não enche garrafas, pois assim correria o risco de entrar em concorrência com os nossos maiores clientes. Desta forma, passaria a haver uma fronteira muito ténue entre fornecedores e clientes, que geraria certamente constrangimentos de estratégia.»

Filipe de Botton acredita no outsourcing como chave de sucesso para o futuro da logística em Portugal, devido «à escassez de recursos, à flexibilidade na reacção e à possibilidade de produzir em escala», leia-se em massa. E acredita que «num espaço de «dez anos existirão dois modelos de fornecedores, parcerias e leilões através da Internet».

A importância do R&D (pesquisa e desenvolvimento) para a inovação foi destacada pelo responsável da Logoplaste, que mais uma vez deu um exemplo com base na empresa que gere. «Temos 27 engenheiros cuja única função é repensar novas práticas de trabalho e materiais inovadores para a elaboração das embalagens», conclui.

Desafios da normalização

Para abordar as questões da certificação e segurança nas operações logísticas, o congresso contou com Jorge Marques dos Santos, presidente do conselho de administração do Instituto Português de Qualidade (IPQ). «Onde há mais desafios para a logística é na normalização», defende. A normalização é a actividade que trata da elaboração, aprovação, comunicação, produção e venda de todas as normas para o sector da logística.

No que diz respeito ao sector alimentar, a grande novidade é que já se encontra editada a versão portuguesa da norma ISO 22000:2005, que especifica os requisitos para o sistema de segurança alimentar e permite assegurar a segurança dos géneros alimentícios ao longo da cadeia alimentar até ao consumo final. O objectivo da norma internacional é harmonizar de forma global os requisitos para gestão de segurança dos géneros alimentícios pelos operadores da cadeia alimentar de forma a garantir elevado nível de protecção do consumidor em matéria de segurança dos alimentos. Destina-se às organizações que procuram um sistema de gestão de segurança mais focalizado, coerente e integrado do que aquele que é requerido pela legislação.

Num congresso rico em desafios, é a vez de Jorge Marques dos Santos lançar um desafio à plateia. «A norma EN 12507, recentemente editada a nível internacional, como guia de aplicação da EN ISSO 9002:2000 para serviços de logística, deve ser traduzida e publicada enquanto norma nacional, tirando partido da recente atribuição à APLOG do estatuto de Organismo de Normalização Sectorial para o Sector dos Transportes, Logística e Serviços».