Feiras

30 anos de alimentação

Por a 10 de Janeiro de 2006 as 18:00

Alimentaria

A Alimentaria Barcelona celebra o seu 30º aniversário com a conquista do segundo posto no panorama das feiras internacionais de alimentação. Na edição de 2006 serão 115 mil metros quadrados de área de exposição, mais de 5.000 empresas e qualquer coisa como 150 mil visitantes, num percurso evolutivo que faz deste certame uma manifestação obrigatória para a cadeia comercial do Grande Consumo alimentar. O evento tem lugar entre 6 e 10 de Março.

Depois do enorme salto conseguido em 2004, quando a Alimentaria Barcelona passou a ser dividida em dois espaços diferenciados, o certame continua o seu processo de crescimento orgânico. Na verdade, esta é já a segunda maior feira especializada no sector alimentar, estando em pleno crescimento à escala mundial através de diversos projectos em diferentes regiões do globo, como América Latina, Ásia ou Europa do Leste. Tendo por base a parceria estabelecida entre a Reed Exhibitions e a Fira de Barcelona, e que deu origem à Alimentaria Exhibitions, o evento tem hoje em dia um alcance muito mais vasto, como o prova o facto de já existir a Alimentaria México ou estar em fase avançada de negociações a possibilidade de o certame se expandir até ao Brasil.

Dividida agora em dois recintos (a tradicional Fira com 55 mil metros quadrados e outro espaço na Gran Via, estreado na última edição e desta feita com 60 mil), a Alimentaria 2006 estará segmentada em quinze salões temáticos específicos. A saber: Congelexpo, Expobebidas, Expoconser, Intercarn, Interlact, Interpesca, Intervin, Multiproducto, Mundidulce, Olivaria, Restaurama, Vegefruit, Alimentación ecológica e ainda os pavilhões destinados às comunidades autónomas espanholas e à participação internacional. A feira conta igualmente com um espaço dedicado à inovação, que incluirá cerca de 100 empresas e 400 novos produtos.

Em relação aos salões temáticos, destaca-se a dimensão do salão de vinhos, que ascende aos 27 mil metros quadrados. Ou seja, só neste sector a Alimentaria de Barcelona é maior do que toda a Alimentaria Lisboa, onde curiosamente a participação do sector vitivinícola tem ficado muito aquém das expectativas da organização. Sendo este um produto nobre em ambos os países ibéricos, não deixa de ser interessante salientar a diferença de atitude registada nos dois países. Em boa verdade, a dimensão do Intervin permite-lhe já medir forças com os maiores eventos especificamente destinados ao vinho, como a Vinexpo ou a Prowein, entre outros.

Também é de salientar o crescimento dos salões mais recentes, como por exemplo o Olivaria, dedicado ao azeite. Espanha, ao contrário de Portugal, tem vindo a apostar nesta cultura, o que justifica a realização de um salão específico e confirma a abrangência cada vez maior deste certame, concretamente através de uma crescente segmentação por subsectores, os quais ganham visibilidade à medida em que as edições vão tendo lugar.

Aliás, em 2004 a Alimentaria Barcelona sofre uma evolução considerável, ao aumentar cerca de 30% face a 2002. De pouco mais de 80.000 m2 passou-se para 105 mil, contabilizando-se 4.087 empresas por comparação com 3.283 em 2002. Para a edição deste ano, o espaço ascende a 115 mil metros quadrados e são esperadas cerca de 5.000 empresas, confirmando a evolução crescente daquela que é já a segunda maior manifestação do ramo alimentar à escala mundial.

Por outro lado, é também de destacar o cariz cada vez mais internacional da Alimentaria Barcelona. Para 2006, espera-se que participem qualquer coisa como 1.200 empresas oriundas de outros países, ao mesmo tempo que as expectativas apontam para 40 mil visitantes estrangeiros face a um universo total à volta das 150 mil pessoas, o que representa sensivelmente cerca de 25% do total de visitas ao recinto. O facto é que a Alimentaria Barcelona ganha força crescente no panorama internacional, ao mesmo tempo que a própria feira se vai segmentando em salões cada vez mais consistentes e que concorrem mesmo com os certames especializados em cada sector.

Estamos, portanto, a falar de um certame que tem vindo paulatinamente a ganhar muito maior consistência, sendo hoje uma mostra representativa não só do que é o sector agro-alimentar em Espanha mas também das grandes tendências e desenvolvimentos à escala mundial. Com a criação do novo recinto da Gran Via, a Alimentaria Barcelona alcança o segundo posto em termos de dimensão internacional de feiras inseridas neste ramo de actividade, ultrapassando o Sial e Paris e colocando a Catalunha com um carácter de centralidade face a uma Europa onde a alimentação e bebidas constitui uma das indústrias de maior importância.

Sector em Espanha

O sector alimentar em Espanha caracteriza-se por um elevado dinamismo praticamente a todos os níveis, mostrando um interesse muito claro na internacionalização, sentida em praticamente todos os segmentos de mercado. Para além do azeite, onde o país fez uma aposta estratégica e é de longe o maior produtor mundial, Espanha é extremamente forte nos ramos hortícola e frutícola, bem como nos vinhos, lacticínios, transformados de carne e pescado, por exemplo. A isto acresce ainda a força do sector conserveiro, pois esta é uma questão cultural ao nível dos hábitos de consumo no país vizinho, contrastando claramente com o que acontece em Portugal.

A produção alimentar espanhola está muito dependente da agricultura, sendo certo que qualquer coisa como 70% da produção é depois transformada a nível industrial. Contudo, e ainda que existam empresas de dimensão internacional, o sector permanece extremamente atomizado, pois calcula-se um total perto de 32.000 empresas do ramo alimentar, das quais cerca de 60% são consideradas micro-empresas, ou seja, com menos de dez colaboradores. Com uma dimensão laboral entre os dez e os 50 empregados encontramos 36% do universo total, sobrando apenas 3% para as empresas que têm entre 50 e 200 colaboradores e menos de um ponto percentual para as que empregam mais de 200 pessoas.

Mas a importância do sector de alimentação e bebidas fica clara quando é assinalado que representa 18% do emprego em Espanha e contribui com 16% para o PIB industrial do país vizinho, estando entre os cinco maiores a nível europeu. De facto, calcula-se que signifique 9% do total do sector a nível europeu, sendo apenas ultrapassado por França (20%), Alemanha (19%), Reino Unido (16%) e Itália (15%). Em conjunto, estes cinco países representam quase 80% do sector de alimentação e bebidas europeu, estimado em quase 700 mil milhões de euros por exercício.

Em Espanha, este sector é igualmente caracterizado pelos elevados níveis de investimento em equipamento tecnológico, bem como pela implementação de processos de certificação e garantia de qualidade, tais como o HACCP (incluindo na restauração, onde é obrigatório), normas ISO ou sistemas de rastreabilidade animal. Em acrescento, o país tem vindo a desenvolver um esforço no sentido de criar denominações de origem e protecções geográficas, o que tem defendido a sua especificidade e potenciado a diferenciação dos produtos agro-alimentares espanhóis.

A indústria cárnica é particularmente importante no ramo alimentar espanhol, pois representa cerca de 22% do total de facturação e 24% do emprego, destacando-se também os leites e lacticínios (perto de 10% das vendas), os vinhos (8%) ou os óleos alimentares (7%).

Universo da Distribuição

Na Distribuição, os últimos 25 anos marcam uma evolução considerável, particularmente ao nível de fusões e aquisições e também através da entrada em cena de diversos players internacionais. O líder de mercado é o grupo Carrefour, com quase 20% do total de vendas, seguindo-se a Euromadi e a IFA (duas centrais de compra), a cadeia de desconto Eroski e a Mercadona, em quinto lugar. A Auchan, com a insígnia Alcampo, consegue o sexto posto, seguida da Capabro, da Ahold e do El Corte Inglês. Os nove maiores operadores representam 84% do mercado total, o que diz bem dos níveis de concentração existentes.

Por formato de loja, os últimos estudos relativos ao país indicam que os hipermercados significam 27,4% das vendas a retalho, contra os 26,5 pontos dos supermercados. O autoserviço tem uma quota estimada em 12,8%, enquanto o discount consegue, até agora, 11,3% das vendas, mas em clara fase de ascensão. O comércio tradicional e as lojas de conveniência representarão, em conjunto, 12% das vendas.

Este é um mercado onde se espera um aumento de competitividade e um crescimento dos níveis de concentração nos operadores retalhistas, esperando-se igualmente a entrada de novos operadores internacionais no país, por contraponto com a escassa internacionalização das insígnias espanholas, que continuam muito centradas no mercado doméstico. Já do ponto de vista do consumidor, o paralelismo com as grandes tendências é inevitável, nomeadamente com o desenvolvimento de produtos de conveniência e favoráveis à saúde.

Em suma, a Alimentaria Barcelona é uma referência incontornável do sector de alimentação e bebidas à escala mundial, sendo igualmente muito importante para o mercado português, não só porque ali se encontram os produtos que vão chegar às prateleiras nacionais, como através da possibilidade de se estabelecer contactos para que alguma da produção portuguesa possa fazer o caminho inverso. Os exemplos são ainda poucos, mas demonstram que o mercado ibérico é uma realidade à qual as empresas que pretendam verdadeiramente ter sucesso e ganhar dimensão não poderão fugir.