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Charcutaria mostra dinâmica

Por a 15 de Maio de 2009 as 5:57

charcutaria

Apesar da crise, consequente falta de confiança do consumidor e de este estar a canalizar as compras cada vez mais para as marcas próprias da distribuição, o mercado da charcutaria mostra-se dinâmico, acompanhando as necessidades e exigências do consumidor.

Há um ano a análise efectuada pelo Jornal Hipersuper ao mercado da charcutaria concluía que as marcas de distribuição estavam a ganhar terreno às marcas de fabricante, roubando espaço e diminuindo a notoriedade das marcas dos produtores. Impulsionado pelas dificuldades económicas, o consumidor nacional dava primazia ao preço em detrimento da qualidade.

De há um ano para cá, o mercado conheceu algumas alterações, sabendo-se que existem menos dois players no mercado da distribuição – Carrefour e Plus -, que as marcas de distribuição estão a ganhar cada vez mais quota de mercado e que a crise económica agudizou as dificuldades sentidas pela população portuguesa.

Os dados mais recentes da Nielsen mostram que a maioria das compras de produtos de charcutaria é efectuada nos supermercados, em detrimento dos hipermercados e do comércio tradicional. De facto, as vendas no conceito super são o triplo das vendas realizadas pelos outros dois canais, comprovando-se, assim, a proximidade como um dos factores principais e que o consumidor está a realizar compras mais pequenas, mas a visitar mais insígnias.

No computo geral, a liderança no mercado nacional de charcutaria pertence claramente às salsichas em lata, seguidas do fiambre e salsichas em frasco. (ver quadro).
De acordo com alguns dos players ouvidos pelo Hipersuper, “o mercado português tem-se mostrado nos últimos anos mais dinâmico, acompanhando as necessidades dos consumidores, procurando a sua satisfação”, salienta Hélder Ruivo, administrador da Probar. No entanto, este responsável admite que “se denota, cada vez mais, uma maior dependência dos fabricantes face às cadeias de distribuição, principalmente, por estas optarem pela sua marca em detrimento da marca de fabricante”.

Concordando com o responsável da Probar, no que diz respeito à dinâmica demonstrada pelo mercado de charcutaria, Artur Moreira, director comercial da El Pozo, refere, contudo, que “o crescimento da categoria se deve essencialmente ao segmento de aves (corte e livre-serviço) e área de livre-serviço (fatiado e pré-embalados), embora existam outros segmentos com crescimento importantes, relacionados com o canal Horeca”.

Como combater a crise?
Sabendo-se do peso crescente que as marcas próprias da distribuição têm vindo a ganhar no retalho, os players do mercado tentam inverter esta realidade, salientando Hélder Ruivo que “os fabricantes terão de se mostrar pró-activos e estarem constantemente a desenvolver produtos alternativos para que o consumidor se mantenha fiel à sua marca”. Esta “luta” contra as marcas da distribuição é também salientada por Artur Moreira, admitindo que as marcas de fabricante “podem e devem diferenciar-se das marcas próprias, através de um reforço e aposta na transmissão de uma imagem de marca associada ao factor confiança e qualidade, inovando e colocando ao dispor do consumidor produtos claramente inovadores e de valor qualitativo acrescido”. O responsável pelo departamento comercial da El Pozo critica, contudo, a postura dos operadores de retalho, manifestando a “falta de visão e o carácter algo ‘tradicionalista’ da Distribuição Nacional (nomeadamente a dita Moderna), que não poucas vezes impede os fabricantes de colocarem à disposição do consumidor português as diferentes soluções, para ele pensadas e criadas, não permitindo as respectivas presenças nos lineares ou posicionando os mesmos a preços ‘proibitivos’, impedindo ou dificultando, assim, o ‘contacto’ entre Produto e Consumidor”.

Assim, a crise combate-se com “produtos inovadores, novos formatos de conveniência e soluções adaptadas às necessidades dos consumidores”, refere Ana Paula Marinho, responsável de Marketing das Carnes Primor. Exemplos disso mesmo foram apresentados pelos players ouvidos: se nas Carnes Primor foi feito o relançamento do Fiambre da Perna Extra, bem como da gama de peru, com teor de sal reduzido e baixo teor de gordura, adaptadas às exigências do mercado português, a El Pozo deu continuidade à aposta na gama “BienStar” e o recente lançamento da nova gama “All Natural” (produtos isentos de conservantes, corantes, lactose, fosfatos e glúten), ou seja, sem aditivos/conservantes artificiais, “como forma de dar resposta a um sector muito importante da nossa população (cerca de 15%), que manifesta alergias ou intolerâncias a determinados tipos de alimentos (a taxa desta incidência duplicou nos últimos 20 anos)”. Também do lado da Probar, admitindo que “as empresas deste sector optam por se virar para o mercado de exportação para combater a estagnação do mercado português”, a empresa aposta no desenvolvimento de produtos alternativos que “trazem uma mais-valia para o mercado, contribuindo para o desenvolvimento do sector”.

As tendências
Reconhecendo que o mercado, embora dinâmico, não é imune à crise, as tendências da charcutaria mostram que uma transferência do consumo de produtos de maior qualidade e de preço mais elevado para produtos de preço inferior, sobretudo devido à diminuição do poder de compra. Além desta tendência, Hélder Ruivo destaca ainda a existência de uma segunda vertente, ou seja, “deparamo-nos com a evolução do próprio mercado, no qual os consumidores procuram cada vez mais produtos alternativos, tanto ao nível de produtos de maior conveniência como é o exemplo dos fatiados, pratos preparados e sopas, como ao nível de produtos que tenham uma maior preocupação do bem-estar dos consumidores”. Apesar de cerca de 70% do volume comercializado no mercado do fiambre ser efectuado em balcões de atendimento, segundo dados Nielsen, assiste-se a um crescimento muito acentuado nos produtos pré- embalados. “Os formatos conveniência estão cada vez mais em voga, pois responde às necessidades dos consumidores, que têm cada vez menos tempo para perder nas longas filas de espera para serviço de charcutaria”, refere Ana Paula Marinho.

“No que diz respeito ao tipo de fiambre, existe um peso muito elevado de Fiambre de Porco no mercado português, cerca de 85% do consumo total, mas com tendência para uma alteração deste hábito, como se confirma pela taxa de crescimento das aves que anda na ordem dos 50% ao ano. Existe, cada vez mais, uma preocupação por parte dos consumidores com a alimentação saudável, aliada a uma ‘moda’ da carne branca, que por si só justifica esta alteração”.

Então quais os segmentos com maior potencial de crescimento? Hélder Ruivo destaca “os fatiados, pratos preparados e sopas”. Estes dois últimos especialmente devido ao facto de irem de encontro das necessidades dos consumidores das grandes cidades, que por uma razão ou por outra não sabem, ou não têm tempo para cozinhar”.

Reconhecendo que “todos os segmentos de charcutaria apresentam taxas de crescimento superiores a 10% ano”, segundo dados Nielsen, Ana Paula Marinho salienta o segmento do fiambre de aves, com um crescimento superior a 50% no último ano, “dados que não se estranham, dada a clara tendência de alimentação verificada pelos consumidores”. Além disso, “existem alguns segmentos com dinâmicas interessantes, como é o caso do bacon, da mortadela e do presunto”, conclui.

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