Não Alimentar

Os olhos também comem

Por a 25 de Julho de 2008 as 9:30

embalagem


Longe vão os tempos dos produtos embalados em cartuchos de papel. As embalagens de cartão dispensam frio, economizam espaço e tornaram-se indispensáveis no nosso dia-a-dia.

Já lá vai o tempo em que a função da embalagem se confinava ao acondicionamento e transporte de produtos. A caixa que se impôs no quotidiano dos consumidores é actualmente um autêntico instrumento de marketing e publicidade ao serviço da indústria. Através de novos materiais, formatos e grafismos, as embalagens comunicam com o consumidor, apelam aos sentidos, saltam à vista nos lineares e convidam-se, por si só, a fazer companhia aos restantes produtos do carrinho de compras, mesmo o do consumidor mais desatento que circula nos corredores do supermercado.

Mas como no que diz respeito a gostos cada um tem o seu, as embalagens diferem consoante o público-alvo e fazem pompa em atribuir um status social ao consumidor. Projectar a embalagem ideal para cada tipo de produto e consumidor exige, actualmente, levar a cabo uma parafernália de testes e estudos junto do consumidor, para aferir a disponibilidade do consumidor sobre a mesma.

Quando surgiram, em 1908, as primeiras embalagens de cartão vieram tão somente substituir as garrafas de vidro utilizadas para distribuir leite. Apesar da inovação, os transeuntes das ruas de São Francisco e Los Angeles, nos EUA, não se entusiasmaram com a descoberta, explicou ao Hipersuper Filipe Porto, responsável pelas contas da Elopak em Portugal.

De tal forma que, apenas 21 anos depois, nasce, na Suécia, a primeira fábrica especializada em embalagem, pela mão de Ruben Rausing e Erik Akerlund, cujos apelidos formam o nome da empresa. As dificuldades de acondicionamento e transporte de alimentos, sobretudo leite, na Europa, entre a primeira e a segunda Guerra Mundial, conduziram à criação de uma embalagem de cartão não retornável, assente em técnicas completamente novas de revestimento de papel com plástico para alimentos líquidos, recorda Vanessa Baldeante, responsável da Tetra Pak.

A multinacional com grande peso no universo das embalagens de cartão conhece a luz do dia em 1951, mas só 13 anos mais tarde, instala a primeira máquina de enchimento Tetra Pak no País, na fábrica da UCAL.

Tecnologia asséptica
As embalagens de cartão apresentam numerosas vantagens, sobretudo para a indústria. A começar pelo custo da matéria-prima, já que sofre menos a influência das variações de preço do petróleo face a outras matérias-primas, como o plástico, por exemplo. Do ponto de vista ambiental, destaca-se o menor consumo de dióxido de carbono. “A utilização do papel enquanto matéria-prima reduz para cerca de um terço os níveis de CO2”, sublinha Filipe Porto.

Além disso, o cartão é 100% reciclável. As embalagens da Tetra Pak, por exemplo, são estruturadas por multi-camadas cuja composição resulta da junção de três materiais: cartão (cerca de 75%), plástico (20%) e alumínio (5%). “A embalagem pode ser reciclada de diversas formas, utilizando todos os componentes em conjunto ou valorizando-os separadamente”, descreve a responsável da marca. Além disso, “é a única embalagem de alimentos líquidos que utiliza 50% de um recurso natural renovável, a madeira”. O material reciclado dá origem a numerosos produtos, mas nunca é transformado novamente em embalagem.

O responsável de marketing da Elopak valoriza ainda o “espaço para branding”, que permite a diferenciação nos lineares e passar mensagens ao consumidor, através do painel frontal.

A embalagem de cartão asséptica (tecnologia que mantém intactas as propriedades naturais dos alimentos) constitui uma das maiores inovações da última década, já que dispensa refrigeração, facilitando a armazenagem e manuseamento dos produtos ao longo de toda a cadeia de valor. Além da economia de espaço, reduz as despesas com energia e veículos, uma vez que não necessita câmara de frio, e permite elevada eficiência nas linhas de enchimento.

Em Portugal, a evolução desta indústria está “de alguma forma controlada pela Tetra Pak”, afirma Filipe Porto. “Contam-se pelos dedos das mãos, o número de marcas que não utilizam embalagens da marca. Desta forma, o mercado evoluiu tanto quanto a multinacional permitiu. Com a introdução de novos players, com a Elopak e SIG, as marcas ganham novos formatos e conceitos de embalagem, ou seja novas ferramentas, mais diferenciação e maior poder negocial”.

Alternativa à lata
E aos olhos do consumidor, em que consiste a embalagem exemplar? Deve ser funcional, prática, resistente, segura e adequar o volume às ocasiões de consumo. Na sua produção, deve respeitar o meio ambiente e ser eficiente no consumo de recursos naturais e de energia. Mas, sobretudo, ser constituída por materiais recicláveis.

O mais recente lançamento da Elopak, está a mexer o mercado, garante Filipe Porto. A Slim and iCone caracteriza-se por apresentar no topo da embalagem uma inclinação, independentemente da forma, e está a substituir gradualmente o formato brik, menos apelativo em termos de marketing.

A Tetra Pak, por sua vez, desenvolveu os formatos Tetra Prisma (sumos Compal) e Tetra Genina, embora não exista nenhuma empresa em Portugal que o utilize. As inovações apresentaram sistemas de abertura mais funcionais e novos volumes. No entanto, a grande novidade é o sistema Tetra Recart para alimentos sólidos. É a primeira embalagem de cartão alternativa às latas.

Além da renovação do portfólio, as inovações trabalham na optimização dos equipamentos de produção. “As máquinas de enchimento, por exemplo, a TP A3/Flex, são cada vez mais rápidas, mais fiáveis, eficientes, flexíveis, eficientes, porque consomem menos matéria-prima e energia”, remata Vanessa Baldeante.

Cartão canelado ajuda a vender
O aumento do investimento de multinacionais no País na última década contribuiu em grande força para o desenvolvimento do sector industrial de embalagens de cartão canelado para transporte, armazenamento e exposição de mercadoria. O progresso deu-se, sobretudo, a três níveis: “a matéria-prima evoluiu para gramagens mais leves, com total garantia da performance, e a utilização de papéis kraft (fibra virgem) têm vindo a ser substituída por cartão reciclado. Em segundo lugar, as tecnologias de impressão permitem actualmente comunicar de forma apelativa com o consumidor. Por último, a parte das embalagens transitaram para expositores no ponto de venda, graças ao desenvolvimento do formato discount”, sintetizou ao Hipersuper, Ilídio Praça, director comercial da Norbox.

Caixas com abas, expositoras, com divisórias na grelha, bandejas, tabuleiros, publicidade no ponto de venda, constituem alguns artigos do portfólio da Norbox.

Entre as vantagens deste tipo de material, Ilídio Praça destaca, a nível logístico, a economia de espaço no transporte e armazenamento. No que diz respeito à imagem, as diversas opções de comunicação e promoção no ponto de venda. Para o consumidor, os benefícios passam pela possibilidade de contactar directamente com o produto, através da personalização da impressão, ou visualizá-lo mesmo, no caso das embalagens expositoras.

Além disso, são 100% amigas do ambiente, já que o papel é reciclável e as tintas de impressão utilizam produtos de base aquosa. A empresa implementou um sistema centralizado de gestão de todos os resíduos industriais com um operador acreditado.

A Norbox presta apoio na concepção da imagem e desenvolvimento das embalagens, embora a primeira palavra seja sempre do cliente. “Verifica-se actualmente maior envolvimento dos criativos e designers das agências na fase de criação e definição da embalagem”.

Metal: protector dos alimentos
A origem da utilização do metal na indústria alimentar não é consensual, mas todos reconhecem a sua resistência e capacidade para aumentar a vida útil dos alimentos.

O início da utilização do metal para embalagem e preservação de alimentos perde-se um pouco na história da conservação de produtos perecíveis. Sabe-se que a necessidade de conservação dos alimentos remonta ao período que se convencionou chamar de Civilização e que só no início do séc. XIX esta indústria atinge níveis de desenvolvimento até então nunca alcançados. Mas no que diz respeito ao embalamento de conservas em metal – actualmente uma prática corriqueira da indústria transformadora -, existem várias correntes de opinião.

Há quem atribua a Nicolas Appert, um francês que se dedicava à confeitaria e considerado o pai da industrialização das conservas, o início das latas que hoje conhecemos. Appert começou por utilizar garrafas de vidro para prolongar a vida e a qualidade dos alimentos e obteve grande sucesso sobretudo junto das tropas de Napoleão e da marinha mercante. No entanto, a Associação Internacional Nicolas Apper reconhece que o francês apenas começa a utilizar este método a partir de 1814, enquanto na Grã-Bretanha o metal já era matéria-prima para embalamento e conservação de alimentos.

Outra versão defende que em 1810 um indivíduo de nacionalidade inglesa ou francesa, de apelido Durand, era detentor de uma patente do Rei George III porque já utilizava “estanho ou outros materiais adequados” para o efeito.

Polémicas à parte sobre quem terá na realidade sido o percursor na aplicação deste tipo de material na indústria conserveira, o certo é que o papel do metal na história da conservação de alimentos ganhou uma dimensão tal que se arrasta até aos dias de hoje.

Descrever os alimentos que podem ser sujeitos às técnicas de embalamento em metal é uma tarefa quase impossível e desgastante. É certo que os mais conhecidos, entre nós, são o atum, a sardinha e as salsichas, nas suas múltiplas variantes que resultam da vontade do consumidor e da imposição da indústria, mas muitos outros, como frutas, legumes, carnes, chás, cafés e leites, ganham cada vez mais o papel de protagonistas nas prateleiras das grandes superfícies ou do comércio tradicional.

Além de aumentarem o tempo de venda do produto, as embalagens em metal são resistentes e, acima de tudo, recicláveis. Depois de utilizadas e colocadas nos locais próprios, estas embalagens são sujeitas a um processo de reaproveitamento para os mais diversos fins. Utilizadas em sectores tão diferentes como o ramo automóvel ou o dos electrodomésticos, as latas que já contiveram sardinhas ou salsichas podem agora fazer parte das peças do nosso automóvel, do fogão, do esquentador, do micro-ondas ou de qualquer aparelho doméstico.

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