Editorial

Diferencial Competitivo

Por a 19 de Setembro de 2005 as 11:14

O sector Horeca é naturalmente muito importante para a produção nacional, e em particular para determinados sectores, consoante a tipologia de estabelecimento de que falamos. Não é por acaso que os principais operadores grossistas, sem excepção, decidiram canalizar esforços no sentido de direccionar cada vez mais a sua oferta para o canal. Enquanto a Recheio criou uma zona de loja identificada por cor e com uma marca específica, a Makro reorientou toda a sua estratégia de sortido. Ao mesmo tempo, a GCT reforçava a actividade promocional instore e criava serviços inovadores, como o Elos 24, numa lógica de distribuição directa dos produtos entretanto também já implementada na insígnia da Jerónimo Martins.

Os conceitos de retalho não foram por este caminho, mesmo sabendo-se que muitos dos comerciantes Horeca deslocam-se a estas superfícies comerciais para abastecimento, particularmente no caso de bebidas, se não beneficiarem da excelência dos sistemas de distribuição implementados pelas empresas produtoras. As duas grandes cervejeiras são disso um bom exemplo, ao que se junta agora a nova filosofia de alargar portfólio, com vista a um fornecimento mais global das necessidades de cada unidade. A Coca-Cola também já o entendeu e vai alargar gama. E até a Delta, via Nabeirodist, já tem na sua oferta outros produtos, como por exemplo a cerveja, ainda que o sistema de distribuição seja totalmente independente da comercialização de cafés

Pela sua importância para o Grande Consumo, decidimos fazer um especial dedicado ao canal, onde, entre outros aspectos mais relativos ao comportamento de mercado, damos a conhecer um estudo elaborado pela associação representativa do sector no qual fica bem expressa a diferença de competitividade face ao cenário espanhol. Com uma taxa de IVA que já apresenta um diferencial de cinco pontos, a possibilidade de se acabar com a taxa intermédia de 12%, passando nesse caso para 21%, seria trágico para um sector decisivo no contexto turístico.

De qualquer modo, e apesar do recuo governamental, o estudo de que falamos dá conta de uma diferença de produtividade na ordem dos 40%, o que revela a existência de grandes dificuldades a nível endógeno que invalidam um desempenho mais eficiente. A fraca qualificação da mão-de-obra é evidentemente um problema, mas a Aresp alerta igualmente para aspectos como o baixo nível de profissionalização da gestão e a inexistência de organização por departamentos, bem como a excessiva lógica familiar que impera.

Tudo isto num contexto de «excesso de oferta». Não havendo um cadastro dos estabelecimentos à escala nacional, estima-se que o número possa ascender a 85 ou mesmo 90 mil casas comerciais, quando os estudos, também da Aresp, indicam que 50 mil unidades seriam suficientes e não colocariam em causa a viabilidade financeira dos projectos pela via concorrencial.

Portugal beneficia, em contrapartida, de uma série de apoios e incentivos ao desenvolvimento e modernização da actividade, mas os níveis de utilização são perfeitamente ridículos. No país vizinho estas ferramentas não estão disponíveis, mas existe toda uma envolvente económica e fiscal que permite uma dinâmica bem mais acelerada. E também bastante mais estratégia na definição de políticas comerciais.
O Grande Consumo deverá manter as dificuldades, tanto no canal Alimentar como no Horeca. Neste último caso, face a uma realidade produtiva com um diferencial tão alargado, é caso para nos questionarmos se não deveria, precisamente, haver novas estratégias e visões empresariais, mais profissionais, que garantissem a actividade numa lógica de médio/longo prazo, em vez do dinheiro fácil e imediatista que tantas vezes condiciona o futuro dos negócios em Portugal.

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