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A Crise dos Mercados

Por a 22 de Fevereiro de 2008 as 15:00

alexandre mota“A notícias sobre a minha morte foram largamente exageradas” – Mark TwainO início de 2008 foi extremamente interessante nos vários mercados. Em resumo, a crise que assola o sector financeiro resultou de uma expansão desmedida do crédito, cujas consequências nefastas podem ser confirmadas nos balanços e resultados dos bancos e se estenderão muito provavelmente ao resto da economia mundial, em virtude do aperto das condições monetárias e da maior incerteza económica.

Conforme afirmou George Soros em Davos esta crise não é normal. Contudo não caímos na tentação de a classificar como muito diferente das anteriores. A crise actual teve origem essencialmente nos excessos dos bancos americanos e dos credores hipotecários, na fraca regulação e na ganância e ingenuidade de alguns gestores de grandes casas de investimento. Será uma situação completamente nova? Parece-nos que não.

Em “A crise do capitalismo global” escrito brilhantemente por Soros em pleno Verão de 1998, o homem que tirou da libra do sistema monetário europeu antevia uma mudança de paradigma capitalista e, no limite, o fim do capitalismo. Se os reguladores dessem mais atenção às propostas de Soros nessa altura e menos às suas previsões, geralmente exageradas ou erradas, talvez se evitasse esta e outras crises. O que se sabe hoje é que a falta de regulação pode minar as estruturas capitalistas e, em grande parte, foi nisso que pecaram as autoridades monetárias e políticas.

Recordamos que, em 1998, a falência de um fundo liderado por prémios Nobel com amplíssima liberdade de actuação e crédito generoso criou uma situação de pânico generalizado nos mercados. Nessa altura, o FED reagiu rápido e conseguiu conter o contágio da crise ao resto da economia. Desta vez, o que é diferente poderá ser a dimensão dos estragos e a sua generalização a quase todo o sector financeiro, mas, no essencial, trata-

-se de um fenómeno recorrente de expansão, euforia e implosão, igual a tantos outros, embora numa escala e dimensão superiores. Normalmente os mercados antecipam as recessões (diz-se com ironia que acertem dez em cada duas).

Por outro lado, começam a subir antes dos dados macroeconómicos confirmarem a saída da crise. Nos últimos meses, o que aconteceu nos mercados accionistas foi a antecipação total de uma recessão. Será que tal vai mesmo ocorrer? As probabilidades são altas, mas não há certezas.

Já no que diz respeito ao timing para comprar acções é curioso que CEO`s, directores e outros membros da administração das empresas americanas, pela primeira vez desde 1995, estejam a comprar mais acções das suas empresas do que a vender. O valor das compras é 1.44 vezes superior ao das vendas. As últimas sete vezes em que o rácio foi superior a 1 o índice S&P subiu uma média de 21% nos 12 meses seguintes.

Por exemplo, August Busch, membro da administração da AT&T desde 1980, comprou $2.27 milhões em acções da empresa de telefones durante o mês de Janeiro, o que representa a sua maior compra de sempre. O director da Monsanto (líder mundial em sementes), William Parfet, adicionou acções da empresa ao seu portfólio pela primeira vez em 8 anos. As compras por parte de insiders, não sendo um sinal definitivo, parecem-nos uma indicação forte de que poderemos ter uma recuperação significativa do mercado, mesmo que tal aconteça num contexto de volatilidade e indicadores económicos pouco sólidos.
No fim da crise podemos dizer como diria o inventor de Tom Sawyer e Huckleberry Finn: “as notícias sobre a morte do capitalismo foram largamente exageradas”.

Alexandre Mota, Analista da Golden Assets

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