Outras Opiniões

O consumidor e a informação nutricional

Por a 15 de Setembro de 2006 as 16:19

Raquel Abrantes, Nutricionista

Diariamente assistimos à publicação e divulgação de notícias sobre a situação da epidemia do séc. XXI – a obesidade – e o alerta dos profissionais para os cuidados a ter com a alimentação.

Açúcares simples, fibra, lípidos, sal, proteínas e outras são palavras cada vez mais comuns no vocabulário do consumidor português, o que indica uma crescente preocupação com a saúde e com a alimentação saudável. No entanto, no momento das compras para o lar surgem as primeiras dúvidas relativas às escolhas alimentares mais acertadas.

Grande parte dos consumidores sabe que consumir em excesso alimentos ricos em gorduras e em açúcar é prejudicial para a saúde e que os alimentos ricos em fibra contribuem para a regularidade intestinal. Mas aquando do acto de compra como podem saber quais os alimentos que devem preferir?

A informação nutricional contida nos rótulos desempenha um papel fundamental nas escolhas alimentares, embora, em alguns casos, a falta de sensibilização para a utilidade da rotulagem dos géneros alimentícios faça com que esta informação seja ignorada ou esquecida. É imprescindível incentivar os consumidores para a leitura dos rótulos dos alimentos.

Nesse sentido, em 2002, o Instituto do Consumidor e a Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação da Universidade do Porto desenvolveram um Guia para uma Escolha Alimentar Saudável – a leitura do rótulo, cujo objectivo é disponibilizar um conjunto de informações necessárias para a compreensão dos rótulos de produtos alimentares pré-embalados, que possibilite a escolha adequada dos alimentos, e desta forma, contribuir para a promoção da saúde e prevenção da doença. Iniciativas como esta deveriam ser mais divulgadas ou mesmo fazer parte de um programa educativo, a nível nacional, que visasse a educação nutricional dos consumidores, de modo a prevenir e controlar a frequência dos erros alimentares junto da população portuguesa.

No entanto, não é só o consumidor que tem de estar atento para os rótulos, é responsabilidade e dever das empresas do sector alimentar fornecerem correctamente essa informação. Mas será que o fazem da melhor forma?

De acordo com a legislação actual a inclusão de informação nutricional na rotulagem é obrigatória apenas se constar no rótulo, na apresentação ou na publicidade do alimento uma alegação nutricional, ou seja, se apresentar expressões como “rico em …”, “com alto teor de …”, ” baixo em …” entre outras, caso isso não se verifique a rotulagem nutricional é facultativa. No entanto, segundo a Federação Portuguesa das Indústrias Agro-Alimentares (FIPA) “muitas empresas já incluem a informação nutricional no rótulo dos seus produtos de forma muito mais completa do que as regras legais”.

Na realidade, a European Food and Drink Industry Association (CIAA) apresentou à Plataforma de Acção sobre Dieta, Actividade Física e Saúde um projecto inovador, de aplicação voluntária e transversal a toda a indústria. Neste, as empresas comprometiam-se a incluir nas suas embalagens informação nutricional relativa à Recomendação Dietética Diária, ou seja, a quantidade dos diferentes nutrientes que deve ser ingerida diariamente para manter uma vida saudável, bem como o conteúdo nutricional de uma dose de produto.

Tal iniciativa facilitaria a comparação do conteúdo nutricional dos diferentes produtos, ou seja, permitiria fazer opções alimentares mais saudáveis. Assim, em Julho deste ano, empresas tão prestigiadas como a Coca-Cola, a Danone, a Kellogg’s, a Kraft Foods, a Nestlé, a PepsiCo e a Unilever aceitaram a proposta e comprometeram-se a introduzir voluntariamente, na rotulagem dos seus produtos, a quantidade por dose de calorias (valor energético), proteínas, hidratos de carbono, açúcares, lípidos, lípidos saturados, fibra e sal, assim como a respectiva a percentagem em relação à Recomendação Dietética Diária.

Infelizmente, no nosso país, foram poucas as empresas que já implementaram esta iniciativa, mas esperemos que em breve todas sigam o seu exemplo, para que o consumidor português possa optar conscientemente por uma vida mais saudável e fazer as melhores escolhas alimentares.

Em suma, num mercado de globalização e inovação constante é fundamental informar, educar e sensibilizar o consumidor para a leitura da informação nutricional contida nos rótulos, de modo a melhorar a sua capacidade de fazer escolhas conscientes e informadas. E simultaneamente, é essencial que todas as empresas do sector alimentar disponibilizem a informação nutricional de uma forma completa, uniforme e facilmente compreensível, nas suas embalagens.

Só com a contribuição de todos os intervenientes no sector alimentar será possível satisfazer plenamente as necessidades dos consumidores!