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Filipe Simões Jorge (Lisie.app): “Estamos à procura de investidores e a definir o modelo de negócio”

Por a 16 de Junho de 2023 as 9:08
A equipa fundadora da Lisie.app

A Lisie.app nasceu com a missão de apresentar os preços dos produtos em diferentes supermercados, permitindo ao consumidor fazer escolhas mais informadas. A equipa fundadora está a estudar fontes de receita e à procura de investimento para definir o modelo de negócio

É do desafio de gerir o orçamento para o supermercado de uma família numerosa, da dificuldade em fazer uma lista de compras sem esquecer produtos e dar resposta à complexa tarefa de descobrir o preço mais baixo a cada momento, que nasceu a Lisie.app. Na tentativa de facilitar e agilizar o processo das compras de supermercado, Alexandre Salsinha escreveu o código que deu origem à Lisie, a aplicação mobile que permite comparar os preços dos produtos nos diversos supermercados e criar uma lista de compras de forma rápida e intuitiva.

A informação que suporta a aplicação é pública. Está nos sites dos retalhistas com lojas online. “Temos uma série de crawlers [rastreador web] a ler um conjunto de produtos por minuto e a devolver-nos esta informação”, explica Filipe Simões Jorge, designer e co-fundador da Lisie.app, acrescentando que a empresa reúne um manancial de informação que resulta de quatro anos de recolha destes dados que podem dar origem a fontes de receita. Mas já lá vamos.

Depois de desenvolver o código, Alexandre Salsinha desafiou três colegas de trabalho – Filipe Simões Jorge, André Dargains e Renato Simões Jorge (a equipa é constituída por dois designers e outros tantos programadores) para “dar corpo e voz” à aplicação e melhorar a experiência de utilização. Este é o núcleo fundador da Lisie. Este processo de aperfeiçoamento da proposta de valor demorou cinco anos, desde a epifania, passando pela análise e estudo de mercado, estudo de usabilidade e desenvolvimento de protótipos de testes de utilização, até chegar ao design final.

Filipe Simões Jorge, designer e co-fundador da Lisie.app

Filipe Simões Jorge, designer e co-fundador da Lisie.app

Como funciona?

Para adicionar um produto à lista de compras na app basta fazer a leitura do código de barras. “É feita a identificação automática do produto e disponibilizado um conjunto de informações entre as quais o preço daquele produto nas diferentes cadeias de supermercado”, explica o co-fundador da Lisie. Caso o consumidor não tenha acesso ao código de barras, pode pesquisar pelo nome do produto para o integrar na lista de compras.

“Por que é por vezes não aparecem todos os produtos e supermercados? Porque há produtos que só estão disponíveis em certos supermercados e porque há supermercados que não têm loja online. Enquanto houver esta limitação, não conseguimos dar essa visibilidade aos consumidores”, admite.

Na data em que escrevemos este artigo, (25 de maio), a aplicação conta com 90 825 produtos, 122 404 preços registados e 2 350 utilizadores. E um total de 219 074 de interações entre os utilizadores e a aplicação.

“O feedback que temos recebido tem sido bastante positivo e gratificante”, afirma Filipe Simões Jorge. “Fizemos questão de estudar o mercado e realizar testes de utilização para criar um produto realmente útil” e “o resultado desse esforço tem sido visível, com referências positivas nas redes sociais e contactos de interessados em investir e colaborar”. Os bons produtos vendem-se a si próprios, considera o responsável. “A qualidade do produto é a chave para o sucesso e o feedback que temos vindo a receber comprova isso mesmo”.

Lisie_01Consumo informado

O estudo de mercado confirmou a recetividade do consumidor português a utilizar este tipo de aplicações no processo de compra e a definir um target. “Percebemos que tipo de pessoas utilizariam a app, em que faixas etárias e construímos as nossas personas”, salienta Filipe Simões Jorge, dando como exemplo duas. “Mulher, 35 anos, casada, com dois e filhos e com preocupações alimentares” e “rapaz, informático, vive sozinho e não tem preocupações alimentares”.

A adesão à app veio, no entanto, mostrar que o público é mais alargado. Destina-se a todos os consumidores que querem praticar um consumo informado, que pretendem estar a par das flutuações de preço nos diferentes supermercados e procuram criar uma lista de compras de forma prática pratica e intuitiva. “Focámos-mos nestes dois porque na construção da interface precisamos de definir quem é o nosso utilizador, mas, neste caso, acabou por se revelar uma preocupação pouco relevante uma vez que a aplicação abrange um espectro tão grande de utilizadores que qualquer família que tenha de fazer a gestão das compras é um potencial utilizador”, sublinha o designer.

Identificado o público-alvo, o passo seguinte foi mapear o processo que estes consumidores fazem desde o momento em que identificam as suas necessidades até irem às compras. “Definidos estes users flows, começámos a perceber como é que a app devia ser construída e fizemos uma versão low fidelity para fazer testes de utilização. Melhorámos e, em cima disto, fizemos uma versão mais bonita com uma camada de design de interface mais trabalhada. Voltamos a fazer testes. Tivemos uma série de interações até chegar a um produto sólido e o máximo simplificado possível”, resume o designer.

O lançamento nas lojas Google Pay e App Store foi há cerca de dois anos, mas na altura a equipa optou por não comunicar o produto. “Falámos com as pessoas mais próximas, um núcleo mais fechado, para fazer uma fase real de testes. Recolhemos feedback e só ao fim de alguns lançamentos é que criámos as redes sociais e começámos a comunicar a Lisie”.

Lisie_03O sobe e desce dos preços no supermercado

“Há vários caminhos que podemos seguir com diferentes possibilidades de fontes de receita”, salienta Filipe Simões Jorge. Não há muito tempo foi notícia que o Governo contratou uma empresa para fazer um estudo sobre as flutuações de preço nos supermercados nos últimos anos, lembra o responsável para indicar que a Lisie tem o registo das flutuações de preço nos vários supermercados nos últimos quatro anos. “Conseguimos apresentar gráficos que provavelmente irão chocar as pessoas ao perceber que, quando um supermercado diz que está a fazer promoções, há uma estratégia por detrás, literalmente. O que os gráficos ilustram é que está tudo planeado para descer de repente e, depois, subir”.

O Lisie Business, “um produto mais focado em negócios que já tem protótipos em fase de teste”, pode passar pelo lançamento de soluções de “contas premium” que conferem acesso aos dados de flutuação de preços e promoções, tirando partido da riqueza desta informação.

A venda desta informação é uma possibilidade de fonte de receita, mas há mais. “Estamos também a desenvolver a Lisie Home, um dispositivo físico que permite adicionar produtos à lista, sem necessidade de abrir a aplicação no telemóvel”. Por exemplo, colocando o dispositivo na cozinha, perto do caixote do lixo, os produtos consumidos serão automaticamente adicionados à lista de compras.

A equipa fundadora da Lisie está, por ora, focada no desenvolvimento do Minimum Valuable Product (MVP) mas aberta a todas as possibilidades. “Estamos focados no MVP, que são os mínimos olímpicos para o produto funcionar bem, e vamos deixar o utilizador decidir o futuro”, explica Filipe Simões Jorge. “Imagine que os utilizadores usam a app só para a parte da comparação de preços então é por este caminho que temos de ir”.

Existem, no entanto, “várias possibilidades” de monetização “que não podemos, para já, revelar”. No entanto, algumas “são evidentes e bastante lucrativas, como é o caso da publicidade direcionada a públicos-alvo específicos, as contas premium, e a aplicação de uma comissão sobre as compras efetuadas”, exemplifica.

*Artigo originalmente publicado na edição 413 do Hipersuper

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