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Bebidas em recuperação, mas ainda sem perspetivas de alcançar 2019

Por a 24 de Março de 2022 as 17:23

cervejaPrevê-se um ano de franco crescimento nas bebidas alcoólicas e não alcoólicas. Mas não é ainda expectável que se atinjam os valores anteriores à pandemia

O setor das bebidas, alcoólicas e não alcoólicas, não se vislumbrado o decretar de novas medidas de confinamento, está em trajetória de crescimento. A questão que se coloca é, se depois de dois anos com um dos canais fechados durante os períodos de confinamento, o valor das vendas poderá regressar aos níveis anteriores à pandemia.

O cenário é ainda difícil de prever. Mesmo com as projeções oficiais a dar conta de um crescimento da economia portuguesa, há quem acredite que ainda será difícil voltar aos níveis de 2019. “A nossa previsão é de alguma recuperação, embora não de regresso aos níveis de 2019”, afirma Graça Borges, diretora de comunicação, relações institucionais e sustentabilidade do Super Bock Group, em declarações ao Hipersuper. “Continuamos muito dependentes do evoluir da pandemia, que se mantém muito presente e é o maior risco para o crescimento económico, além dos constrangimentos globais nas cadeias de fornecimento e consequente pressão inflacionista. Continuaremos a viver contextos de grande incerteza”, justifica a responsável.

A convicção da responsável é ainda sustentada pela influência que todas estas variáveis estão a ter na capacidade de retoma do canal Horeca e do setor dos eventos. “Impactam diretamente com a nossa atividade e a dinâmica das nossas marcas, as quais vivem sobretudo dos momentos de convívio e ambientes festivos. Portanto, a nossa expectativa é que haja alguma recuperação gradual este ano, nomeadamente no consumo fora de casa e que este possa ser cada vez mais feito nas condições que tradicionalmente conhecemos”, explica Graça Borges.
Não fazendo projeções para este ano, os valores alcançados em 2021 pela Sociedade Central de Cervejas e Bebidas (SCC) ainda andam longe do período anterior à pandemia. O que é natural se for recordado que, o ano passado, foi marcado por um período de confinamento. “A performance da SCC durante o ano de 2021, em termos de volume de vendas globais de cerveja, registou um crescimento abaixo dos 6% quando comparado com o ano anterior, mas ainda sem atingir os valores registados em 2019, com um volume inferior entre os 10 e 15%”, adianta fonte do grupo. Estes valores estão em linha com os resultados da Heineken, detentora da SCC, que registou um crescimento de 4,6% em volume no ano transato. As vendas líquidas do grupo cresceram 8,6% em território europeu.

A mesma fonte adianta, por outro lado, que “os rácios de peso das exportações no volume vendas globais mantêm-se face ao ano anterior, bem como a relação percentual das vendas nos dois canais, com Horeca a registar cerca de 66% e os restantes 34% no retalho”, salvaguardando que 2021 foi “muito condicionado pela pandemia, sobretudo no consumo noturno no canal Horeca e nos eventos”. “O consumo per capita de cerveja em 2020 foi de 46 litros, um decréscimo face aos 53 litros registados em 2019, prevendo-se que em 2021 haja um ligeiro crescimento”, acrescenta a mesma fonte.

O regresso do turismo também será determinante para a recuperação do setor. Porém, a retoma prevê-se que seja gradual. “O regresso do turismo, mas também a dinâmica no mercado interno, é determinante para reanimar o consumo de forma global, o que possibilitará uma recuperação mais forte da economia”, salienta Graça Borges. “Embora não estando ainda numa situação pós-pandemia é desejável que possamos assistir a uma retoma gradual que se vá acentuando nos próximos meses e em particular nos meses de verão, na expectativa que não soframos de novos contratempos, com novas vagas pandémicas, mas que possamos assistir ao aliviar das restrições e consequentemente a uma maior disponibilidade para deslocações internas e viagens internacionais para o nosso país”, acrescenta.

Da parte da Coca-Cola Europacific Partners, acredita-se que haverá uma rápida recuperação. “Encaramos 2022 e os próximos anos com otimismo e seria extraordinário podermos manter a rota de crescimento que estávamos a seguir até 2019. Em 2021 continuámos a manter o nosso foco no apoio às nossas pessoas, clientes e comunidade e agora será tempo de continuar a investir e a procurar as melhores soluções de negócio para todos os setores da economia”, refere Rui Serpa, VP & country director Portugal da Coca-Cola Europacific Partners (CCEP).

O crescimento das vendas da companhia, sobretudo na zona Iberia, suportam estas projeções de crescimento. Em 2021, a CCEP registou receitas de 13.763 milhões de euros. Na zona Iberia, que inclui Portugal, Espanha e Andorra, a receitas atingiram 2.495 milhões de euros, um crescimento de 15%. Porém, o negócio poderia ter ido mais longe. “No caso da Coca-Cola Europacific Partners em Portugal, o consumo dos nossos produtos feitos em território nacional é sem dúvida afetado pela quantidade de turistas que nos visita. Uma melhoria de todo o setor turístico, da hotelaria e da restauração em particular, trará sempre benefícios ao país como um todo”, salienta Rui Serpa.

O grupo Domus Capital – que lançou em 2018 a cerveja Quinas -, estando a expandir a sua posição nos mercados internacionais e no mercado nacional, acabou por não sofrer perdas.  “O nosso volume de vendas tem sido crescente desde 2018”, afirma Sérgio CEO do Grupo Domus Capital, acrescentando que a meta da companhia para este ano é ultrapassar o volume registado no ano anterior. “O mercado nacional tem tido um crescimento positivo, que aliado às crescentes vendas nos mercados internacionais, que estamos já neste arranque do ano a abrir novos mercados, só trazem boas perspetivas. A nossa operação em 2019 não estava com maturidade suficiente daí não sentirmos as quebras dos demais”, explica o CEO do grupo.

Apesar de o grupo não estar muito dependente do turismo a nível nacional, o CEO da companhia diz ser desejável uma retoma deste setor, uma vez que está nos seus planos a expansão no canal Horeca. “Não temos grande dependência do setor turístico, ainda não afeta muito diretamente as nossas vendas – temos ainda pouca expressão no canal Horeca-, mas esperamos que o reanimar do setor aconteça pois é positivo para todos. Permitir-nos-á crescer no canal on trade, que é algo que ainda não exploramos muito dadas as limitações destes últimos anos, mas que é importante tanto para a nossa marca Quinas como para todo o portefólio complementar das soft drinks e bebidas espirituosas”, explica Sérgio Duarte.

 

Take-away ajudou a mitigar encerramento do Horeca ao público

Ao contrário do sucedido no primeiro confinamento, o Governo permitiu que a restauração pudesse servir refeições para fora quando o canal esteve encerrado ao público nos primeiros meses de 2021. Amenizaram-se as perdas e os fabricantes tiveram de reinventar o negócio. “O take-away e o delivery ajudaram sem qualquer dúvida a mitigar as perdas no canal Horeca, contudo também investimos bastante para dotar de ferramentas digitais os sectores mais tradicionais da hotelaria e restauração. Também em 2021, a inovação foi a nossa aposta como motor de recuperação do Horeca”, afirma Rui Serpa.

Neste âmbito, a companhia avançou para o lançamento de novos produtos para criar dinâmica nas vendas. “O foco na inovação em plena pandemia permitiu a introdução de novos produtos exclusivos para o mercado português como Fanta Guaraná e Tropico de forma a continuarmos a dinamizar o mercado, a dar aos nossos clientes argumentos de captação da confiança e preferência dos consumidores”, afirma o responsável máximo da CCEP em Portugal.

Contudo, Graça Borges salienta que a especificidade do negócio das bebidas faz com que as perdas no canal Horeca não tivessem sido recuperáveis.  “O que esta nova realidade proporcionou foi obrigar-nos a ser ainda mais ágeis e flexíveis e a encontrar novas oportunidades de negócio, que respondem às novas exigências do consumidor, de forma a mantermos a relevância, a proximidade e a preferência pelas nossas marcas”, afirma a diretora de comunicação, relações institucionais e sustentabilidade do Super Bock Group, lembrando que a recuperação do negócio está relacionada com a circulação e consumo de bebidas sem qualquer tipo de condicionamentos. “Sendo um sector extremamente resiliente, encontrou formas de mitigar os impactos com take-way e marketplaces. Para nós, isto significa que, embora mantendo a prioridade nos canais de comercialização tradicionais, reforçamos a nossa presença nas plataformas de e-commerce, tirando partido de todo o potencial tecnológico. E assim continuamos a responder de forma conveniente e eficaz à procura pelas nossas marcas, com reforço no online”, explica.
O grupo sedeado no Norte criou, por exemplo, a Super Bock Store, além do reforço da presença das suas marcas em lojas digitais e marketplaces. “O e-commerce traduz-se, portanto, numa oportunidade complementar aos outros canais de comercialização, mas de todo os substitui. Ainda assim, tem existido uma forte adesão dos consumidores, beneficiando o comportamento das marcas do Super Bock Group”, revela Graça Borges.

O grupo Domus Capital aproveitou também o contexto para fazer crescer o negócio no online. “A presença em diferentes plataformas online, desde lojas a sistemas delivery, tiveram um crescimento em 2020 e 2021, o que nos permitiu crescer também neste segmento porque aproveitamos a oportunidade de nos mantermos próximos e disponíveis aos nossos consumidores”, afirma Sérgio Duarte. “Os volumes de Horeca com online ainda não podem ser comparáveis, mas acreditamos que é importante mantermos ambos ativos”, acrescenta.

O canal online, por outro lado, ajudou as marcas do grupo a manterem a proximidade com o consumidor. Sérgio Duarte diz tratar-se de “uma oportunidade que deve continuar a ser trabalhada pois o consumidor percebeu que pode adquirir cerveja, vinho, espirituosas online, de forma prática, segura e rápida e usufruir das mesmas em casa”. “Ainda não conseguimos atribuir um valor no peso das vendas totais, ainda não é significativo, mas contamos que, no final de 2022, já possa ter um peso substancial. Estamos a investir numa equipa dedicada e especializada para trabalhar esta área, não só a nível nacional, mas também internacional”, revela o CEO do grupo.

 

Canal alimentar longe de compensar perdas no Horeca

Para o Super Bock Group, o negócio das cervejas foi particularmente afetado em 2020 e 2021, por ser o que representa mais vendas. E o desempenho foi semelhante nos dois anos em questão. “Tendo-se verificado uma conjuntura muito instável quer em 2020 como em 2021, com várias restrições, o desempenho foi similar nestes dois períodos, ou seja, registou-se um comportamento mais positivo no canal alimentar do que no canal horeca, já que este esteve mais exposto às medidas de combate à pandemia, com períodos de confinamento ou restrições no acesso aos estabelecimentos”, salienta Graça Borges. A responsável ressalva, no entanto, que o “maior dinamismo do canal alimentar não compensou de todo as perdas no consumo fora de casa ao longo destes dois anos de pandemia”.

Na CCEP, o comportamento foi o mesmo. “A oscilação das restrições pandémicas provocou naturalmente variações positivas no consumo e respetiva distribuição por canal de venda”, diz Rui Serpa. O foco da empresa, acrescenta, “esteve sempre em garantir capacidade de resposta quer tem termos de volume quer em termos de formatos, trabalhando muito de perto com os nossos clientes de forma a superar os desafios que se colocaram com o reforço do consumo através deste canal”. Outra preocupação passou pelo lançamento de novos produtos.

No caso do grupo Domus Capital, 2021 foi um ano de particular crescimento na distribuição. O que não se ficou só a dever às restrições relacionadas com a pandemia. “A marca Quinas entrou na cadeia Modelo Continente e solidificou a sua presença nos cash & carrys – Recheio, Teixeira Lopes, Mcunha, Arcol-, tendo atingido marcas em quantidade e volume. Tendo o grupo marcas recentes, isso permite crescer na distribuição pois estamos a trazer novidades e valor acrescentado ao mercado, e por isso a procura existe”, explica o responsável.

De todas as bebidas que compõem o portefólio do grupo, a cerveja Quinas é a que tem mais peso nas vendas. Representa 70% do total, seguindo-se o “segmento das soft drinks com 20% e os restantes 10% são distribuídos pela água, café e bebidas espirituosas”. “De 2020 para 2021 as soft drinks tiveram um crescimento importante dentro do grupo, resultante da marca Sumovite, que cresceu significativamente dada a competitividade, qualidade e comunicação do produto que tem suscitado cada vez mais procura”, conclui Sérgio Duarte.

*Artigo publicado na edição número 400 do Hipersuper

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