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A sustentabilidade na Distribuição, por José António Rousseau

Por a 8 de Janeiro de 2013 as 18:29

ADN da Distribuição

12º Gene: SUSTENTABILIDADE

Por José António Rousseau, consultor e docente universitário

 

 

Há um reconhecimento crescente que os modernos padrões de consumo possibilitados pelas actividades da Distribuição têm um impacto significativo no meio ambiente, uma vez que o consumo mundial, especialmente em economias emergentes, é cada vez maior. Esse consumo, por um lado, está aumentando a pressão sobre as bases limitadas de recursos disponíveis e, por outro lado, resulta em volume crescente de resíduos despejados no meio ambiente.

A mudança para padrões de produção e consumo mais sustentáveis tem sido uma preocupação mundial e a Distribuição tem tido um papel fundamental na efectivação desta mudança. Além do sector da Distribuição assumir um papel principal na economia, é também o elo fundamental de ligação entre fornecedores e consumidores. Esta posição garante que as mudanças verificadas no sector beneficiarão a sociedade como um todo e, ao mesmo tempo, também beneficiarão o próprio sector. Por meio da promoção de produtos mais eficientes e menos poluentes, da mobilização da cadeia produtiva e da educação e informação dos seus consumidores, os distribuidores estão a responder ao anseio dos consumidores que buscam consumir de forma a produzir menores impactos sociais e ambientais.

Ao nível interno, as áreas da Distribuição onde as empresas têm tido mais oportunidades de evidenciar politicas sustentáveis têm sido, essencialmente, três: 1) Operações e Lojas. As empresas da Distribuição controlam e gerem os impactos sócio-ambientais nas construções e operações de suas lojas. Apesar dos impactos ambientais directos da Distribuição corresponderem a valores reduzidos face aos impactos totais, a sua gestão é importante para garantir a coerência e o exemplo para os demais elos da cadeia de valor; 2) Gestão da Cadeia Produtiva. Os Distribuidores sensibilizam os seus fornecedores a desenvolver produtos com diferenciais ambientais e/ou sociais. Alocar esforços para tornar a cadeia produtiva mais sustentável, implementar compras sustentáveis e encorajar o desenvolvimento de pequenos fornecedores são alguns exemplos de contribuições para tornar a cadeia produtiva mais sustentável; 3) Educação e Informação dos Consumidores. Os Distribuidores incentivam os consumidores a comprar produtos sustentáveis e procuram educá-los para usar e descartar produtos de forma apropriada. Outra contribuição importante é a disponibilização de pontos de recolha selectiva e a sinalização de aspectos de sustentabilidade nos produtos por meio de etiquetas informativas. Particularmente o retalho, através dos seus inúmeros contactos diários com o consumidor, tem sido uma peça fundamental para a mudança de comportamentos nas escolhas diárias dos consumidores.

Nível externo

Ao nível externo, podemos identificar igualmente três áreas de actuação, da Distribuição, nomeadamente, ao 1) Eliminar a sua contribuição para a concentração de substâncias tóxicas na natureza, quer sejam extraídas do subsolo ou produzidas artificialmente. Comprometer-se com este principio significa para as empresas de distribuição, por exemplo, obter independência de combustíveis fósseis e seus derivados; recolher e encaminhar os resíduos sólidos, tais como, embalagens, resíduos orgânicos, equipamentos eléctricos e electrónicos, pilhas e acumuladores, pneus, óleos industriais ou alimentares usados; eliminar o uso de gases nocivos à atmosfera (CO2 e CFCs); privilegiar os fornecedores que acatem e implementem estes mesmos princípios; 2) Eliminar a sua contribuição para a alteração física dos ecossistemas e da sua capacidade de regeneração. Para evitar a alteração física dos ecossistemas, o sector da Distribuição tem, por exemplo, adoptado critérios de sustentabilidade na construção de suas lojas e na adopção de equipamentos; respeitado os ciclos naturais e a biodiversidade no seu processo de compra, observando a sazonalidade dos produtos e garantindo que a cadeia não está comprando mais recursos do que a Natureza possa renovar; mapeando sistematicamente os impactos das suas actividades e estimulando colaboradores, clientes e fornecedores a fazer o mesmo; 3) Eliminar a sua contribuição para a destruição do tecido social. Na verdade, o factor humano deve ser sempre considerado no processo de construção de uma sociedade sustentável. Além das questões ambientais é muito importante que as empresas da Distribuição continuem a promover a negociação transparente e equilibrada com fornecedores; a comunicação e informação responsável; a consciencialização dos clientes acerca do crédito; o respeito e remuneração justa aos colaboradores; a educação ambiental e o consumo consciente de bens e serviços entre seus consumidores; uma especial atenção para com as comunidades em que estão implantadas as lojas e, no fundo, para com a sociedade em geral.

Compras sustentáveis

Todas as empresas de Distribuição têm processos de compra nos quais utilizam critérios para comparar e escolher produtos de diferentes fornecedores. Na sua maioria, estes processos utilizam o preço, a qualidade e prazo de entrega como critérios essenciais mas a sustentabilidade é cada vez mais também um critério essencial de compra. Nas compras sustentáveis adicionam-se outros critérios, tais como o bom aproveitamento dos recursos e sua origem, a poluição gerada na produção e transporte e as condições de trabalho e remuneração das pessoas envolvidas na cadeia produtiva. É importante que os distribuidores informem o mercado destes novos critérios de selecção a fim de garantir condições semelhantes a todos os interessados em lhes fornecer produtos e serviços.

Por outro lado, em termos de sortido, as empresas procuram oferecer, cada vez mais, produtos com características sustentáveis nas suas lojas e os consumidores desejam, por sua vez, que esses produtos lhes sejam oferecidos a preços acessíveis. Mas os consumidores sabem, por experiência própria, que sai caro ser um consumidor consciente. Normalmente, os alimentos biológicos ou os produtos biodegradáveis podem custar entre duas a cinco vezes mais do que os produtos similares convencionais. Tal facto, torna o preço um dos principais obstáculos à disseminação do consumo de produtos sustentáveis, sobretudo, entre os consumidores das classes com menores rendimentos.

Por força de falta de escala e do alto custo de desenvolvimento, ao nível da produção, ainda há pouca disponibilidade de produtos sustentáveis nas lojas. Isso faz com que os preços sejam bem maiores que os produtos similares, dificultando o seu acesso aos consumidores. Fica assim difícil que o consumidor adquira produtos sustentáveis, uma vez que eles não estão ao seu alcance, mesmo que ele tenha a intenção de comprá-las e pagar um pouco mais por esses produtos. E, se é verdade que a maioria dos consumidores se diz preocupada com questões ambientais, também é certo que apenas um terço pagaria mais por um produto ecologicamente correto. (Guia Exame de Sustentabilidade, 2008)

As parcerias com os fornecedores para oferecer opções mais sustentáveis de produtos, com preços competitivos pode ser uma solução. Quando a aliança entre retalhista e fornecedor acontece, nem sempre os produtos sustentáveis se tornam mais caros que os convencionais. Mas, independentemente destas dificuldades, é inegável que os distribuidores têm aumentado substancialmente o percentual de produtos sustentáveis nas categorias de produtos existentes nas lojas para além de criarem áreas específicas para a sua promoção.

(continua…)

José António Rousseau

Consultor e docente IADE/IPAM

www.rousseau.com.pt

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