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Carlos Morais, Administrador do SISAB: “A exportação não é uma opção, é a solução”

Por a 17 de Fevereiro de 2011 as 15:39

Serão três dias dedicados exclusivamente à exportação. No Pavilhão Atlântico estarão 400 empresas portuguesas de 28 sectores, com 4.000 marcas que mostram os seus produtos a 1.200 compradores estrangeiros provenientes de 80 países. Esta é a altura certa para ir ao encontro das palavras recentemente proferidas pelo primeiro-ministro, José Sócrates, no Congresso das Exportações: “a aposta nas exportações é essencial”.

Hipersuper (H): Quais são as novidades para a 16.ª edição do SISAB?
Carlos Morais (C.M.):
A primeira grande novidade é o facto de termos quase 50% de novos participantes nesta edição. Crescemos em participantes, em número de mercados, mas, acima de tudo, cresce a qualidade económica dos agentes que vêm.

H: Quando se refere a participantes, são expositores ou profissionais ?
C.M.:
O evento cresceu 25% em termos nacionais, ou seja, em espaço útil, atingimos o limite da exposição. Hoje, confrontamo-nos com problemas reais de logística de todo um processo profissional. Se tivéssemos a falar de um simples processo de circulação de visitantes, em teoria, a maioria dos problemas nem se poria. Facto é que temos, actualmente, 400 empresas expositoras e com sectores completamente novos, com empresas como a Vista Alegre, Cosec, Renova, Porto de Sines. Ou seja, juntamente com o sector alimentar e bebidas, sempre sonhámos que deve­riam marcar presença o que chamamos de sectores colaterais.

H: Mas o SISAB deixou de ser dos sectores alimentar e bebidas?
C.M.:
Não, mas já não é só dos sectores alimentar e bebidas. O salão acoplou outros sectores importantes para a exportação nacional. O SISAB tinha 14 sectores até 2008 e na edição de 2011 apresentamos 28 sectores. A questão é que esses 28 sectores só podem aparecer quando fazem sentido. Ou seja, quando vêm as grandes cadeias de supermercado de todo o mundo, faz todo o sentido ter no mesmo espaço produtos da Renova, Vista Alegre, Delta, Sagres, etc..

H: Mas talvez esteja na hora de mudar o nome ao salão?
C.M.:
Mas aí estaríamos a não dar continuidade a uma marca. Quando se fala em SISAB tem de se pensar automaticamente em exportação de produtos portugueses e, acima de tudo, profissionalismo. Isto não é para o povo, para o cidadão anónimo. Quem tem de saber isto são os profissionais. Pode-me dizer, mas há pessoas que nunca ouviram falar do SISAB. Eu respondo: ainda bem, porque o que nos interessa é que sejam os profissionais a ouvir falar no nome SISAB. Nós não queremos que o nosso evento destrua outros eventos nacionais. Existem outros certames em Portugal para o mercado nacional e que nós dizemos: ainda bem que existem. Nós nunca quereremos abrir o SISAB ao mercado nacional e, portanto, posicionamo-nos de forma completamente diferente. Não queremos olhar para dentro. E não queremos tirar o negócio e actividade aos outros que existem, mas também gostaríamos que nos respeitassem como somos e o que fazemos. Seria muito fácil para nós fazer o que os outros fazem, ou seja, mais do mesmo. Ao alargar o salão para mais 14 sectores não foi em desespero. Não foi na ideia de “já não sei o que hei-de fazer, vou meter todos juntos”. O SISAB já não é o que era. Hoje, podemos dizer que o SISAB é a verdadeira plataforma de marcas e produtos portugueses só para a exportação. A questão é que, quando falámos, há 16 anos, em exportação, parecia algo efémero e marginal. Actualmente, o mundo mudou e só se fala em exportação. Portanto, quem é que estava certo há 16 anos e remava contra a maré? A conclusão a que chegámos é que o mercado estava distraído.

H: Então quem está, actualmente, no SISAB já não está distraído e quer, efectivamente, exportar?
C.M.:
No SISAB só podem estar empresas com “calibre” para o mercado internacional. A organização recusou mais de 70 expositores de Portugal que queriam, legitimamente, participar no evento. Legitimamente, obviamente na percepção das próprias empresas.

H: Não possuíam então “calibre”?
C.M.:
Não possuem massa crítica, mas acima de tudo, o seu sector e/ou produto não se encaixa no valor acrescentado que o agente económico internacional procura. As empresas que estão no SISAB são empresas que investem em produto, investigação, marketing e comunicação. Não queremos que no SISAB existam produtos de marca branca. Não nos limitamos a dizê-lo, mas a praticá-lo.

H: E é um evento para portugueses no estrangeiro?
C.M.:
70% dos compradores no SISAB não falam português. O que estamos a dizer é que mantivemos os mais famosos e importantes agentes económicos de língua portuguesa, acrescentámos a essa diáspora os africanos, brasileiros, russos, polacos, chineses, japoneses, árabes, americanos. Mais de metade destes compradores vêm pela primeira vez a Portugal e o SISAB foi capaz de ser um pólo de atractividade.

H: Mas exportar para Angola é uma coisa. Exportar para Angola, acrescentando-lhe o Brasil, China, Rússia, Alemanha, não são muitas as empresas portuguesas que o conseguirão fazer?
C.M.:
O problema é que, até hoje, mais de metade dos dinheiros comunitários que veio foi para alimentar instituições e não para apoiar as empresas. Posso garantir que 80% do dinheiro que vem, fica no intermediário e nunca chega efectivamente a quem necessita dele para produzir e, posteriormente, exportar. Isto fez com que as empresas portuguesas tivessem sido defraudadas nas suas legítimas expectativas e não tivessem sido financiadas para o arrojo que o mercado internacional necessita. Ora, o que o SISAB faz é substituir-se à incapacidade económica que cada uma dessas empresas tem de percorrer 80 países. É o SISAB que percorre esses 80 países, desbrava novos mercados, fá-lo pelas empresas e identifica agentes económicos. Assim, ir ou estar no SISAB é como ir a uma feira num país longínquo. Uma empresa do Porto que está no SISAB, sai do Porto e ao fim de três horas, está na Rússia, Angola, EUA, Qatar, China, Japão, etc.. Quanto é que isto custa a uma empresa? Há que fazer ver às empresas portuguesas que a exportação não é uma opção é a solução.

H: Isto facilita-vos então a tarefa?
C.M.:
Naturalmente, mas há 16 anos que dizemo-lo. Até a própria imprensa já nos respeita enquanto promotor principal da exportação. Aquela imagem que havia do SISAB, do evento apenas para a diáspora portuguesa, está errado. Nós somos o verdadeiro evento para a exportação. Se quem consome fala português, óptimo. Se o empresário que importa também fala português, ainda melhor. O SISAB foi capaz de ir buscar os rejeitados pelos organismos oficiais e pelo mercado nacional e dar-lhes o devido valor.

H: Mas essas instituições já estão a olhar para a exportação?
C.M.:
Não estão, não. Estão a propagandear sem qualquer tipo de prática responsabilidade. O SISAB continua a não ter qualquer tipo de apoio de nenhum ministério. Porquê? Porque não querem! Não têm vontade política concreta de apoiar o mérito. Ou seja, em vez de trabalhar para projectos meritórios, continuam a existir apenas para apoiar instituições e alimentar um sistema que já implodiu.

H: Mas imagina o SISAB a ser apoiado pelo ministério da Economia ou dos Negócios Estrangeiros? O SISAB perderia a sua autonomia?
C.M.:
O SISAB não perde a sua autonomia. Os apoios, a existir, terão de ser para manter a fórmula, sem ceder nos princípios. Ou seja, não há convidados, não há visitantes, não há mercado nacional, importadores que não fazem sentido só porque são amigos. O grande dilema é que estas instituições que dizem trabalhar para as empresas, não metem o dinheiro nas empresas, auto-alimentam-se.

H: Esse é então o grande problema das instituições públicas?
C.M.:
Mas a “coisa” pública tem de mudar. É tempo de a “coisa pública” apoiar o mérito daqueles que, sem nada, são capazes de fazer e singrar para irem ainda mais longe, em vez de apoiar aqueles que eternamente nunca foram capazes de viver sem o subsídio, apoio, e nunca fizeram nada pela verdadeira causa pública. Porque razão é que as entidades públicas estão sempre disponíveis para facilmente ir ao estrangeiro e levar consigo muita gente a um único país, quando o SISAB tem, de uma só vez, 400 empresas nacionais num único evento? Porque razão é que as entidades públicas não apoiam quem, em vez de trazer 1.200 compradores internacionais, eventualmente, poderia trazer 2.200? O que o SISAB demonstra é que o País real é um e o mundo do discurso é outro. Houve mais um congresso para a exportação, mais um fórum para a exportação, mais um seminário … Pergunto: existem ainda dúvidas do que é necessário fazer? De uma vez por todas, não se pode dizer às empresas para ir bater à porta de um QREN e não haver apoio, bater à porta do ministério da Economia e não existir apoio e, de repente, chega-se ao fim com tudo na mesma. É tempo de os políticos serem responsabilizados pela sua incapacidade de apoiar, efectivamente, aqueles que o mercado justifica como meritórios.

H. Mas para esses serem responsabilizados …?
C.M.:
Tem de haver iniciativas para tal. O problema não está na Lei, está na opinião pública. O bom-senso, hoje, diz que não faz sentido financiar uma ANUGA. Isso é estar a financiar organismos estrangeiros para, cada vez mais, fazerem da Alemanha a centralidade que Portugal não consegue ter.

H: Mas voltando ao SISAB 2011, quantos são e de onde vêm os agentes económicos?
C.M.:
O SISAB vai receber mais de 100 agentes económicos da Rússia, prevendo que esse país, depois de ter ganho a organização do Mundial de Futebol, em 2018, é um mercado a desenvolver. Vai ter mais de 100 agentes do Brasil, mais de 200 agentes de África que falam português, mais de 100 da Arábia e pela primeira vez estarão cá mais de 100 agentes dos EUA.

H: Dentro dos 28 sectores presentes no SISAB 2011, há sectores mais “exportáveis” do que outros?
C.M.:
Todos são exportáveis. O SISAB respeita o mercado, cria condições e incentiva todos os sectores. Alguém tem de ouvir os 1.200 compradores e perceber o que eles querem comprar. O mercado é que tem de decidir o que quer e a quem quer comprar. Não compete ao SISAB estar a definir os sectores com maior potencial de crescimento. Enquanto para Rússia pode fazer sentido o azeite e a conserva, para o Brasil será o papel e loiça e para Angola poderá ser o vinho.

H: Os países/agentes económicos que estarão no SISAB são fruto de um trabalho feito junto das empresas que querem exportar?
C.M.:
Não. Se fossemos unicamente perguntar às empresas para onde querem exportar, só tínhamos o que as empresas querem. O nosso vanguardismo é abrir portas a mercados que as próprias empresas não estão à espera. Se formos somente atrás do senso-comum, já tínhamos morrido. Temos de ouvir as empresas, mas acrescentar todos os anos novos mercados que nem as empresas se aperceberam ainda o quanto são importantes. Marrocos, Líbia, Argélia, Qatar. Esses países, por exemplo, apareceram agora, mas economicamente não há nenhuma estratégia, apoio, linha de crédito. Ou seja, nós fomos lá antes de tudo e todos. Nós para trazermos compradores destes países, temos de trabalhá-los há, pelo menos, oito meses. Não estão cá compradores do Qatar, porque o Primeiro-Ministro foi lá há pouco tempo com uma delegação. A Rússia, por exemplo, há pouco mais de dois meses se sabe que vai organizar o Mundial de 2018. Ora, é em menos de dois meses que se consegue trazer 100 compradores russos? Não podemos tentar entrar num país quando ele está a abrir. Temos de aparecer quando o mercado começa a ter ínfimos indícios de abertura, mas que efectivamente, ainda não são reais. Essa é a grande vantagem. Quando outros ainda não ouviram falar desses mercados, já estamos a trabalhá-los.

H: Mas de alguma forma, já têm alguma forma de medir a opinião desses compradores relativamente aos produtos portugueses?
C.M.:
Esse é que é o grande problema: é zero! Não conhecem. E esse é o nosso trabalho: dar a conhecer Portugal e os produtos portugueses.

H: Quando o entrevistei em 2007, na véspera da 12.ª edição, disse-me: “o problema é que Portugal só promove no estrangeiro quando há dinheiro”. Mantém esta afirmação?
C.M.:
Mais do que nunca. O SISAB promove Portugal, as empresas e os produtos portugueses mesmo sem apoio dessas enormidades de campanha que nunca ninguém viu.

H: Que resultado o deixaria satisfeito no final da 16.ª edição do SISAB?
C.M.:
Honestamente, que as pessoas digam que, de facto, ficámos surpreendidos com toda esta diversidade. Porque o grande problema é que 90% das empresas nem está preparada para a diversidade cultural, económica e especificidade de cada um dos mercados que está presente no SISAB.

H: Gostaria de ter algum país nesta edição que não foi possível ter?
C.M.:
Naturalmente, mas não vou dizer qual. Mas vamos continuar a apostar em trazer esses países para próximas edições do SISAB.

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