Bebidas

Os desafios do sector de bebidas nos próximos 20 anos, segundo Alberto da Ponte

Por a 14 de Dezembro de 2010 as 12:14

O Hipersuper desafiou Alberto da Ponte, CEO da Central de Cervejas e Bebidas, a enumerar os desafios que enfrentam os sectores da produção/bebidas nos próximos 20 anos, por ocasião do 20ª aniversário do jornal feito à medida dos profissionais da produção e distribuição.

Por Alberto da Ponte, CEO da Sociedade Central Cervejas e Bebidas (SCC)

Os desafios para os próximos 20 anos da Produção/Bebidas em Portugal


Nos últimos 25 anos, temos assistido a várias mudanças no panorama nacional de retalho com os principais players da Distribuição a modernizarem-se e a inovarem, quer na oferta, quer no formato. Em 1985 abriu o primeiro hipermercado, mais especificamente o Continente de Matosinhos, um marco da Distribuição Moderna em Portugal. Em 1991, o Intermarché, assim como o Carrefour, entraram em Portugal. O Lidl entrou de seguida em 1995 e 1998 marcou a compra das lojas Minipreço por parte do Carrefour.

A subida das marcas da Distribuição em Portugal tem sido gradual. Em 1994, estima-se que valeriam entre 5 a 10% do mercado e dizia-se na altura que rapidamente se atingiriam valores de 25 a 30% como noutros países da Europa. Em 2007, estima-se que valiam entre 15 e 20%, abaixo dos níveis de outros países Europeus, o que equivale a falar em taxas de crescimento anuais inferiores a 1%.

Ultimamente, é patente uma maior visibilidade das marcas da Distribuição, devido quer ao crescimento explosivo dos Discounts, que são conhecidos por privilegiarem as marcas próprias, quer à própria conjuntura económica que favorece a procura de produtos mais baratos.

É neste contexto económico adverso dos últimos anos que as marcas da Sociedade Central de Cervejas e Bebidas, nomeadamente a cerveja Sagres® e a Àgua de Luso® têm vindo a desenvolver, em crescendo, um momentum que resultou no ganho de quota versus as marcas concorrentes, determinante em última instância na obtenção (Sagres®) ou manutenção (Água de Luso®) da liderança de Mercado nos seus segmentos, Cerveja e Água Lisa.

Esta liderança passou por trabalhar o mercado na sua plenitude, ou seja, o On-Trade e o Off-Trade, e mais especificamente a Distribuição Moderna. De há algum tempo para cá, fruto dos tempos em que vivemos, temos vindo a assistir a uma mudança no comportamento do consumidor, o que tem levado que a contribuição de cada um destes canais de fornecimento se tenha vindo a alterar. Como resultado de um consumidor mais racional, que planeia as suas compras no sentido de optimizar o seu investimento no cabaz de consumo essencial, e que mudou os seus hábitos de consumo de fora para dentro de casa, o chamado Homing, a Distribuição Moderna tem assumido um papel cada vez mais preponderante na vida dos consumidores Portugueses.

De acordo com um estudo de uma conhecida consultora, no início de 2010, a atitude dos Portugueses era de 1 em cada 5 ter mudado o seu padrão de consumo de acordo com o exposto atrás. No entanto, e de acordo com o mesmo estudo, se a crise continuasse a expectativa era que 1 em cada 2 mudasse o seu comportamento de forma continuada.

Se considerarmos o diminuto crescimento económico dos últimos anos, e previsto para os próximos, o alto nível de endividamento das famílias e do estado, e, com as medidas de austeridade a condicionar o rendimento disponível das famílias, parece que o panorama actual não terá razões de fundo para se alterar. Haverá assim certamente, oportunidade para as lojas de maior dimensão crescerem ao lado de insígnias da Distribuição baseadas numa forte imagem de marca associada ao preço. A sensibilidade ao preço por parte do consumidor continuará a impactar o mercado levando ao aumento da oferta das marcas da Distribuição.

O maior desafio será certamente para as marcas do Produtor, cujos gestores, terão de enfrentar um dos piores cenários que viveram à data no mercado Doméstico. É pois crítico o desenvolvimento de marcas fortes, quer no mercado Doméstico, quer no mercado Internacional. Temos de viver o desígnio Nacional de sermos Internacionais explorando o potencial de consumo de Produtos Portugueses além fronteiras, e de sermos capazes de identificar quer as oportunidades, quer os obstáculos, seja na forma de impactos externos ou de concorrentes locais e internacionais. O Governo poderá aqui desempenhar um papel fundamental criando condições às indústrias que podem contribuir para o fomento de uma Balança Comercial economicamente favorável para terem sucesso além fronteiras. Esse sucesso depende da capacidade de inovar, de ser o primeiro a chegar ao mercado, ou de identificar e satisfazer as necessidades emergentes do consumidor, hoje mais do que nunca, em constante mutação. Em duas palavras, Inteligência Competitiva.


Um comentário

Deixe aqui o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *