Distribuição

69% dos consumidores portugueses ainda sentem a crise

Por a 23 de Dezembro de 2009 as 2:00

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A crise económica está a ter reflexos nos hábitos de consumo e no índice de confiança em cerca de três quartos dos consumidores, mas os resultados revelam que há menos 3% de consumidores pessimistas face a igual período do ano passado, conclui o estudo “Radar Crisis” da GfK Metris, que monitoriza os comportamentos e expectativas dos consumidores no cenário de crise.

Os resultados da terceira vaga do “Radar Crisis”, de Novembro de 2009 (as outras duas vagas foram efectuadas em Dezembro de 2008 e Maio de 2009), são mais optimistas, revelando que esta descida em 3% leva a que “somente” 69% dos inquiridos admitirem sentir a crise. Contudo, os consumidores ainda se mostram muito receosos e cautelosos face à situação financeira, e por isso não entram em grandes euforias no que diz respeito ao consumo.

O estudo da GfK monitoriza as alterações de consumo em bens imediatos, avalia o nível de redução ou transferência para consumo de marcas mais baratas e identifica os “pilares” da sociedade (categorias que não são afectadas pela crise) através de um índice criado para o efeito, o Economics Value Index (EVI) – que identifica as categorias “pilar” do consumo, calculadas pela quantificação das atitudes dos inquiridos face à redução do consumo em cada categoria.

Ao longo do ano de 2009,, refere a consultora, “o consumo dos inquiridos é influenciado pela crise e, nos três momentos de análise, as categorias de consumo base, como o ‘consumo de energia’, o ‘papel higiénico’, outros produtos para a casa e higiene pessoal, mantiveram-se na franja das categorias mais consumidas, com penetrações a rondar os 100″, sem alterações significativas”.

“Ainda no nível de baixo impacto de redução de consumo encontram-se categorias como os ‘medicamentos’, principalmente com receita médica, uma categoria com uma elevada penetração de consumo, a rondar os 82%. Entre estes consumidores, 92% dizem não ir alterar os hábitos a este respeito.

Segundo o estudo, grandes marcas de categorias, como os “detergentes de roupa e loiça”, também sofrem com a crise. Mesmo sendo indispensáveis, os inquiridos não deixam de consumir estas categorias, observando-se uma mudança para uma marca mais barata: 72% dos inquiridos que admitem poupar nesta categoria optam por uma marca mais barata.

A categoria “jantar fora, num restaurante” foi sempre a com maior percentual de inquiridos a dizer que iriam reduzir e que efectivamente reduziram, com um EVI de 56.

Por sua vez, categorias como as “sopas pré-feitas”, acusam o carácter supérfluo que lhes está associado e mantêm-se, ao longo do ano, como a categoria com maior percentual de inquiridos a dizer que vão abandonar o consumo.

De acordo com o estudo GfK, a crise tem sido mais sentida pelas faixas etárias entre os 35-44 anos e os 55-64 anos, respectivamente, por contemplar muitos casais em início de vida, com filhos pequenos e consequentemente um leque de despesas muito elevadas com saúde e educação, ou por contemplar a fase pré-reforma e o trabalho em muitas das empresas e fábricas que faliram este ano, e a dificuldade em encontrar um novo emprego nesta fase da vida.

Em termos geográficos, a zona do País mais afectada foi o Sul, com a contenção de despesas dos inquiridos a centrar-se sobretudo nas despesas supérfluas, o que incluiu gastos com turismo. “A redução de custos com as férias fez com que uma percentagem dos inquiridos, que normalmente viaja para fora do País, tenha passado as ‘férias cá dentro’ este ano, o que poderia ter induzido um aumento da receita interna, mas, por outro lado, os gastos foram mais reduzidos em termos de refeições, nas próprias actividades efectuadas nas férias e nos gastos com alojamento”. “Consequentemente”, conclui a GfK, “o turismo foi mais modesto, o que teve reflexos negativos no comércio e hotelaria do Sul do País”.

No estudo GfK, foi analisado o GfK Consumer Confidence Index – índice composto pela situação económica familiar dos últimos 12 meses e expectativas face aos próximos 12 meses, com valores entre -100 e 100: um valor negativo reflecte o nível de pessimismo e os valores positivos o nível de optimismo – que ainda apresenta valores negativos (-11,3), contudo as expectativas para os próximos 12 meses são menos pessimistas face à evolução económica nos últimos 12 meses (-17,1 face a -5,6).

Ao longo de 2009, e não sendo claro que a crise já tenha passado, os portugueses adaptaram-se a viver sobre uma nova realidade e intrinsecamente alteraram os hábitos de consumo, já não estando apenas a reduzir por causa da crise, passando algumas mudanças do dia-a-dia a fazerem sentir um clima de recuperação e optimismo.

“O fenómeno não é exclusivo a Portugal”, salienta a GfK. “Um estudo conduzido recentemente nos Estados Unidos da América, o epicentro da crise financeira, mostra que os consumidores que se viram forçados a optar por marcas com um menor custo acabaram por ficar surpreendidos com a prestação positiva destes produtos. Eles, como nós, poderão continuar a preferir, em termos absolutos, as marcas premium que utilizaram no passado, mas agora vêem estas alternativas mais económicas como claramente superiores no que ao binómio qualidade/preço diz respeito. Esta situação pode trazer desafios às marcas, principalmente se levarmos em conta a importância que a relação qualidade/preço ganhou para os consumidores com a recente crise”.

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