Distribuição

Sector do retalho está a reorganizar-se

Por a 4 de Agosto de 2009 as 2:00

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As conclusões do estudo “O Mercado de Retalho sob Diferentes Prismas”, da Jones Lang LaSalle Portugal, conclui que o sector está a reorganizar-se, em resultado quer dos novos posicionamentos da procura e da oferta, quer das modificações dos hábitos de consumo, realidades impulsionadas pela maturidade do próprio mercado e pelo actual momento de condicionamento económico, onde se destaca a perda do poder de compra e a consequente descida do volume de vendas.

Manuel Puig, director-geral da Jones Lang LaSalle, explica que “em traços gerais, os promotores repensam o lançamento de novos projectos, os lojistas tendem a ponderar a expansão e racionalizam as redes existentes, os fundos mostram menos interesse em colocar recursos num sector com yields crescentes e o próprio consumidor é cada vez menos impulsivo e efectua as suas compras, cada vez mais, obedecendo a uma estratégia. O mercado de retalho está, portanto, a reajustar-se a estas novas tendências observadas em todas as forças que o constituem. Esta é a altura de nos consciencializarmos da nossa realidade e da nossa dimensão, corrigindo alguns erros do passado e apostando em definitivo no que de melhor este sector criou e inovou”.

O estudo da Jones Lang LaSalle Portugal indica que uma das principais tendências registadas no mercado é a alteração da estratégia dos promotores imobiliários, que são bastante mais cautelosos no lançamento de novos projectos, considerando, “a relação entre o consumidor e a procura dos operadores como um factor cada vez mais determinante nas suas decisões, influenciados, sobretudo, pelo decréscimo de consumo sentido”.

Para os próximos três anos, a Jones Lang LaSalle identificou 1.153.000 m² de novos projectos comerciais já licenciados, num acréscimo de 22% ao stock actual, estimando a consultora que parte destes projectos venha a ser adiado ou mesmo não concretizado, tendo em conta esta maior cautela dos promotores, associada à própria saturação da oferta e às dificuldades na obtenção de financiamento. Ainda no âmbito da oferta de retalho, a Jones Lang LaSalle destaca a inovação como uma das principais linhas orientadoras nos novos projectos. Quer ao nível dos conceitos e dos formatos, quer ao nível das experiências de compra, os promotores que operam no sector de retalho procuram criar projectos inovadores que sejam diferenciadores da concorrência e que tenham capacidade para atrair um consumidor que compra cada vez mais de forma diferente.

No que respeita a procura, o relatório da Jones Lang LaSalle refere que também os operadores de retalho adoptaram estratégias diferenciadas, com uma análise mais restritiva no âmbito da expansão das suas redes e com maior necessidade de racionalização das lojas já em operação. “Os lojistas mostram menor disponibilidade para assumir riscos, tendo em conta a redução do volume das vendas e a baixa confiança dos consumidores, e preferem, hoje, optar por projectos prime nas principais cidades, tendo redireccionado estratégias para os mercados mais consolidados”.

Não obstante, continuará a assistir-se à expansão das marcas e os operadores com maior solidez financeira têm potenciado o actual momento para entrar em novos países e ganharem quota de mercado. Este último objectivo tem sido também perseguido através de operações de fusão e aquisição, que marcaram o panorama internacional no último ano e que continuarão a ter lugar em 2009. Em Portugal, nos últimos dois anos, destaque para a aquisição da operação da Carrefour pela Sonae ou do Plus pelo Pingo Doce. Em termos internacionais, uma das maiores operações registadas aconteceu na Polónia, com a compra do grupo Ahold pela Carrefour pelo valor de 2.000 milhões de euros.

Da relação entre a procura e oferta de espaços de retalho, o relatório da Jones Lang LaSalle regista uma nova tendência provocada pelas condições actuais do mercado e que diz respeito ao aumento do processo de renegociação das rendas dos lojistas, uma realidade que começa a denotar-se em alguns centros comerciais.

Patrícia Araújo, directora do departamento de Retail Leasing da Jones Lang LaSalle, refere que “a crise que se vive actualmente, associada ao aumento de concorrência, tem provocado nos últimos meses uma grande pressão por parte dos lojistas para que se verifique um decréscimo das rendas praticadas no mercado. Os lojistas, em geral, têm sentido uma quebra nas vendas das lojas que têm em operação, o que dificulta a decisão de avançar com a expansão das suas cadeias”.

A Jones Lang LaSalle aponta ainda as alterações nos hábitos de consumo dos portugueses como um dos factores na base da reestruturação do mercado nacional de retalho. De acordo com a consultora, “os portugueses têm vindo a alterar os seus hábitos de compra nos últimos meses, sendo um processo que continuará em curso, influenciado pela redução da confiança, pelo agravamento da situação financeira das famílias e pelo desemprego. Os consumidores foram forçados a redesenhar as suas formas de compra para se adaptarem melhor às suas possibilidades e necessidades, sendo a compra cada vez mais um acto planeado e menos impulsivo. Os bens alimentares estão no topo das listas dos consumidores, enquanto que as despesas relacionadas com o lazer têm vindo a ser alvo de uma redução, com perdas mais acentuadas nas estadias em hotel ou na restauração, por exemplo”.

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