Emprego & Formação

A crise e os recursos humanos

Por a 26 de Dezembro de 2008 as 18:33

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A palavra “crise” é incontornável e repetida até à exaustão nos nossos dias. Está na televisão, na rádio, nos jornais, na internet, está onde quer que estejamos. Dona de uma omnipresença semelhante à de um Deus, se a crise fosse uma marca, a sua notoriedade actual ultrapassaria até a de marcas tão famosas e universais como a Coca-Cola. Fernando Pessoa escreveu uma frase para uma das primeiras publicidades da Coca-Cola que se tornou tão famosa como ele próprio e que encaixa na perfeição na nossa postura em relação à crise: “primeiro estranha-se depois entranha-se”. Mal sabia o poeta que este figmento da sua imaginação seria um dia utilizado para descrever a crise que vivemos nos nossos dias. No entanto, a tenacidade e veemência com que somos expostos ao termo “crise”, leva-nos, invariavelmente, não apenas a identificar mas a conhecer e a sentir a crise de uma forma muito próxima.

Dada esta conjuntura económico-financeira, que é real e que nos afecta directa e indirectamente, são várias as questões que nos sobrevoam a mente: o que faremos nós em relação a isto? Como reagiremos? Está o copo meio-cheio ou meio-vazio? Há esperança?

Aos mais cépticos e pessimistas, aos senhores do copo meio-vazio, os economistas dizem que esta crise não é novidade, é mais uma entre muitas, “a economia é de ciclos” e esta até não é a pior. A verdade seja dita, já houve pior, basta que nos recordemos da maior de todas as crises económicas, que fez a bolsa de Nova Iorque cair 89% entre 1929 e 1932 ou, mais recentemente, a crise da bolsa de Londres que caiu 52% entre 2000 e 2003 com o colapso da bolha tecnológica. Aos mais optimistas, para quem o copo está permanentemente meio-cheio, os economistas dizem que esta crise é mais complexa, mais abrangente e menos localizável que as anteriores e que por isso as suas consequências são imprevisíveis.

Os tempos de crise são normalmente tempos que exigem mudança e reflexão. É nestes momentos que mais se manifestam as nossas limitações como indivíduos mas também como sociedade e colectividade.

Por esse motivo, é importante analisar o que fazemos bem e aquilo que podemos ou temos que melhorar. A psicologia tem dispendido alguns esforços no estudo da capacidade dos indivíduos para lidarem com situações de crise ou stress. O conceito de coping, por exemplo, refere-se ao conjunto de estratégias utilizadas pelas pessoas para se adaptarem e lidarem com circunstâncias adversas. De acordo com alguns autores e estudiosos desta área, alguns traços de personalidade estão mais relacionados com a capacidade de coping de um determinado indivíduo, por exemplo, o optimismo, a flexibilidade e a auto-estima.

Só as pessoas guardam dentro de si a capacidade de lidar com as situações adversas. É isso que nos distingue dos computadores e das máquinas que tanto prezamos. É a nossa capacidade de inovar, de encontrar novas soluções e caminhos alternativos que nos permitiu, e permitirá, dar a volta por cima. Mais do que apenas lidar com a crise e com os problemas que dela advêm nós temos que nos adaptar e superar as circunstâncias que nos são adversas. Temos de ser resilientes. Este termo tem sido consensualmente usado para se referir à capacidade humana para enfrentar, vencer e ser fortalecido pelas experiências adversas. Mais do que resistir é a capacidade de reconstrução positiva, de superação, de dar novos significados aos problemas. Este conceito relativamente recente das ciências humanas não é apenas um fenómeno individual. Pode ser grupal, comunitário e até mesmo empresarial.

Os recursos humanos, as pessoas, são o motor da mudança e o maior activo das empresas. É por elas e através delas que passamos de estados de crise e incerteza para estados de sucesso e prosperidade. Se pretendemos resistir, subsistir e progredir nas empresas, como na vida, o nosso foco primordial deverá ser as pessoas. Além de uma forte aposta na formação, as empresas deverão tentar tirar o melhor partido possível dos seus colaboradores. Deverá ser estimulada e recompensada a participação e o contributo individuais criando-se uma plataforma de partilha de ideias livre de preconceitos e estereótipos.

Miguel Moreira, Consultant – Logistics & Supply Hays Engineering & Construction, [email protected]

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