Tec & Log

RFID: ferramenta ou objectivo

Por a 11 de Julho de 2008 as 17:00

rfid


Dezenas de especialistas reuniram-se em Lisboa para encontrar respostas e pôr em cima da mesa os principais desafios da tecnologia mais cobiçada no mundo dos negócios.

O RFID (Identificação de Produtos por Radiofrequência) é uma moda “e isso constitui um problema”, alertou João Vilaça, director-geral da CreativeSystems – Sistemas e Serviços de consultoria, na conferência promovida pela Codipor que debateu o estado da tecnologia RFID em Portugal e reuniu dezenas de empresários e especialistas, nacionais e internacionais, do sector, em Lisboa.

“Ainda bem que as etiquetas electrónicas (tags) têm custos elevados porque não existem nem técnicos nem recursos a nível mundial para implementar projectos de RFID”. Além disso, o RFID não é resposta para todos os problemas, avisa, é preciso definir se a tecnologia é uma ferramenta ou um objectivo. “Tal como, por exemplo, a certificação, o RFID é uma ferramenta que permite concretizar objectivos”. Saber onde está determinada mercadoria na fábrica ou melhorar a experiência de compra numa livraria, constituem alguns exemplos.

“Não existe uma receita, cada caso é um caso”. Por isso, há numerosos factores a ter em conta quando se investe num projecto desta natureza, entre os quais João Vilaça destaca três: a definição de objectivos tem de ser transparente para as partes envolvidas, criar uma metodologia de trabalho e ter uma boa equipa.

Ecoam rumores no mercado que acusam a tecnologia de não ser operacional em certos ambientes, acusa o director-geral da CreativeSystems, no entanto, “são muito poucos os ambientes onde a tecnologia não funciona”. E dá exemplos: actualmente, há tags para metais ou para ler a 40 metros de distância, ou seja “para todas as necessidades”.

Por esta razão, “o RFID não é uma novidade, está é sempre em evolução e a oferecer desenvolvimentos”.

O conferencista chama ainda a atenção para o facto de a tecnologia ser mais do que um projecto de hardware e software. “Tem de haver comunicação entre as pessoas e o sistema”. Apesar disso, o software desempenha papel fulcral porque gere quantidades de dados elevadas e “pode ser concebido à medida. Por exemplo, na livraria Byblos basta passar o leitor na prateleira para fazer o inventário”.

A par e passo
Há vários tipos de tag e estas também podem ser criadas à medida das necessidades: passivas (sem bateria), BAP (autocolante) e activas (com bateria). Quanto às frequências, a HF (High Frequency) e UHF (Ultra High Frequency), a opção depende do preço, capacidade e memória.

A implementação do projecto RFID “deve ser faseada para dar certo”, sublinhou João Vilaça. E resumiu: o primeiro passo é perceber “o processo de registo das peças e provar o conceito”. Logo de seguida, tem lugar o “piloto controlado e a redefinição de processos porque há sempre alterações a efectuar. No que diz respeito ao roll-out, deve ser feito loja a loja”.

O resultado é só um: velocidade: “Maior rotação de stocks, mais vendas, expedição e recepção mais rápida, menos registos e mais consultas”.

A retalhista inglesa Tesco, por exemplo, colocou uma antena RFID em cada prateleira que permite saber qual o linear que vende mais, que artigo é vendido e a que horas, e quebrar as falhas de stock.

José Alves Marques, presidente do conselho de administração da Link Consulting, por sua vez, chama a atenção para o facto de o custo das etiquetas estar a atingir “patamares interessantes”. O responsável destacou projectos universitários nacionais que investigam formas de “pôr o custo das tags ao nível da impressão” e ainda o crescimento das áreas de aplicação da tecnologia: logística, tracking e trace; produção monitorização, controlo de suporte; qualidade e segurança dos produtos; controlo de acessos, tracking de pessoas; pagamentos; health care; desporto e lazer, e serviços públicos.

Por último, salientou que o investimento na tecnologia tem “período de validade e situa-se em áreas nucleares de negócio” e que “o valor obtém-se através da optimização dos processos”. E lançou um desafio à plateia: “pensem na Internet em 2005”.


Respostas legais aos desafios do RFID

A implementação do sistema RFID levanta questões em aspectos de segurança e privacidade de dados pessoais. No entanto, os cidadãos europeus têm a beneficiar com o avanço desta tecnologia. Assim, a Comissão Europeia propôs algumas acções que facilitam o desenvolvimento e aplicação de um quadro político e jurídico ajustado, uma vez que é determinante que as empresas utilizadoras dos sistemas RFID estejam preparadas para os desafios provenientes da aplicação dos mesmos.

São várias as questões legais que determinam o seu funcionamento. Numa abordagem jurídica, a preocupação com a segurança, privacidade e dados pessoais é ponto fulcral. No entanto, questões como gestão, utilização de frequências, interoperabilidade dos sistemas e propriedade intelectual, devem da mesma forma ser consideradas.

Magda Cocco, Associada Sénior da Sociedade de Advogados Vieira de Almeida, esclareceu as linhas essenciais para a aplicação adequada deste sistema: o consentimento por parte do titular (consumidor), assim como a certeza de que este está convenientemente informado são obrigações a ter em conta pelos responsáveis do tratamento de dados. O que significa que todos os produtos e os locais com aplicações RFID estejam adequadamente identificados.

O sector retalhista carece de medidas mais exigentes. Deve identificar adequadamente as etiquetas tag, assim como actuar de acordo com os procedimentos de opt-in/opt-out (saída/entrada de dados) no ponto de venda, de acordo com os resultados do PIA (Privacy Impact Assesment). A advogada destaca ainda as diferentes áreas de actuação e como devem proceder. No caso de ser fabricante ou integrador, “tenha em consideração as exigências de privacidade no desenvolvimento das soluções tecnológicas, assim como deve observar de perto a ‘política da CE para os sistemas RFID'”. Se é utilizador da tecnologia e/ou responsável por ela, certifique-se que “adquire sistemas que ofereçam soluções técnicas que permitam dar respostas às questões de privacidade” e garanta ainda que detém “uma estratégia de privacidade para o ambiente RFID (obtenção da autorização dos clientes/legalização dos sistemas, etc.)”. Uma vez que é cliente/consumidor “mantenha-se atento”.

O que é?
Um sistema RFID consiste numa tag (constituída por um microchip e uma antena) e num interrogador, ou leitor, com uma ou várias antenas. O leitor envia ondas electromagnéticas. A antena da tag está sintonizada para receber estas ondas. Uma tag passiva (as mais comuns) retira energia do campo magnético criado pelo leitor e usa-a para alimentar os circuitos do microchip. O chip consegue então modular as ondas que são enviadas de volta para o leitor, o qual, por sua vez, converte estas novas ondas em informação digital, passível de ser processada num qualquer computador. (fonte: portalrfid.net, autor: Francisco Teixeira, director técnico do RFID Solutions Center da Sybase).

Caso prático Byblos
A maior livraria do país, com 3.300 m² de linear, localizada no edifício Amoreiras Square, foi desenhada para ser um caso de sucesso. 350 mil unidades, 150 mil referências, mais de 750 mil fornecedores. Dada a dificuldade em gerir uma loja com esta dimensão, a opção foi a implementação do sistema RFID. A ideia de Rui Gaspar, CEO da Byblos, era criar uma livraria em tempo real. Para isso, foi necessário reunir alguns dos melhores especialistas do mundo na matéria.

A implementação de uma loja totalmente equipada com este sistema não foi tarefa fácil. “Na abertura demos entrada de mais de 200 mil unidades em seis dias, ou seja, lançámos as entradas no sistema informático, imprimimos as tags e associámos o ID à unidade identificando-o no sistema. Em seguida, colocámos os produtos no linear de acordo com uma livraria virtual da nossa livraria física criada previamente”, explica o CEO.

A maior dificuldade esteve na escolha do mobiliário que teria que ser específico para a correcta leitura dos tags. O objectivo foi conseguido e hoje a Byblos disponibiliza: 35 quiosques com RFID, que permitem a localização imediata de cada unidade em mais de 5300 locais diferentes da loja; uma estante robotizada para 65 mil unidades, integrada no sistema de RFID e do ERP, permitindo pedidos à estante a partir dos postos operativos da loja; cinco estações de etiquetagem; 14 POS IBM SUREPOS 300, com RFID e código de barras; 13 security gates; duas unidades de saída de mercadoria e ainda 12 PDA com RFID e código de barras.

Rui Gaspar garante que “os principais benefícios são para o cliente, que tem a localização exacta dos produtos que consulta nos quiosques dirigindo-se à estante exacta onde estes se encontram”.

O CEO sublinha ainda que “não deve ser desprezada a enorme vantagem obtida em termos de gestão do negócio, uma vez que proporciona o controlo total do processo, reduzindo significativamente o stock necessário”.

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