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Lezírias voltam aos tempos áureos

Por a 2 de Maio de 2008 as 9:30

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Privilegiar a produção integrada, banir e evitar a utilização de químicos e tóxicos prejudiciais ao ambiente, constituem alguns dos principais projectos da Companhia das Lezírias que, por agora, vê afastado o “fantasma” da privatização. Modernizar a adega e aumentar a área de olival são também metas a cumprir.

Com a instalação do novo aeroporto internacional em Alcochete, a cíclica questão da privatização da Companhia das Lezírias (CL), maior exploração agro-florestal do País e, por isso, muito cobiçada, deixará de fazer sentido. A convicção é de Vitor Barros, que assumiu a presidência do concelho de administração da sociedade anónima com capitais maioritariamente públicos no final de Dezembro de 2005. «Apesar da localização do novo aeroporto ainda não estar totalmente definida, a sua instalação em Alcochete reforçará a tendência de protecção da zona envolvente e a questão da privatização deixará de se colocar. A construção do aeroporto nesta região gerará pressão urbanística e, nesse sentido, a CL pode ser um instrumento de ordenamento do território decisivo».

Vitor Barros rejeita impactos negativos para a propriedade secular que se distribui por cerca de 20 mil hectares (ha). «Actualmente, somos sobrevoados a baixa altitude pelos aviões do Campo de Tiro de Alcochete, que se revela um incómodo sobretudo para a Pequena Companhia, quinta pedagógica que recebe crianças da Área Metropolitana de Lisboa. No aeroporto internacional, os aviões levantam voo e vão se embora, por isso esse incómodo vai ser reduzido de forma significativa».

Para travar a privatização, Jaime Silva, ministro da Agricultura, anunciou, no segundo semestre de 2006, uma nova estratégia para a CL. Quase dois anos depois, a palavra de ordem é sustentabilidade e os objectivos traçados foram cumpridos em todas as frentes.

Alvo: distribuição
O primeiro projecto da administração, pioneiro em Portugal, a comercialização de carne de bovino enriquecida com Ómega 3, é uma das grandes apostas da companhia. O produto está à venda nos hipermercados Jumbo à volta de Lisboa, e a administração está actualmente em negociações avançadas com o El Corte Inglés.

Recentemente, a CL e a Equanto criaram a Senhora Companhia, um agrupamento complementar de empresas. O objectivo é aproveitar o know-how da Equanto no mercado de distribuição de carnes diferenciadas, o calcanhar de Aquiles da empresa. A parceria nasceu após a compra das unidades Carrefour pela Sonae Distribuição, uma vez que a CL produzia para a Fileira de Qualidade do grupo francês. «A Sonae tem outro tipo de conceito, não propriamente de parceria, e encontrámos na Equanto um parceiro fundamental neste mercado».

No sector dos vinhos, a grande evolução deu-se no portfólio. «Plantámos 25 ha de vinha e arrancámos 15 em estado degradado. O que nos permite agora oferecer vinhos das castas Alicante Bouchet, Cabernet Sauvignon, Arinto, Fernão Pires e Verdelho».

A área florestal também conheceu avanços significativos. «A floresta, sobretudo o montado de cortiça, é considerada a mata modelo do Plano Regional de Ordenamento Florestal do Ribatejo».

Abrir adega ao público
A segunda fase do mandato visa a modernização da adega, melhorar as condições de funcionamento e estética desta estrutura edificada em 1934, de modo a aumentar a qualidade dos vinhos. Assim como aumentar em, pelo menos, 30 ha a área de olival e consolidar o projecto de abertura da companhia ao público em três vertentes principais: agro-turismo, enoturismo e turismo equestre.

Ainda este ano, a CL vai lançar um mini-piloto de soja, 25 ha, para a Iberol, Sociedade Ibérica de Oleaginosas, para produção de biocombustível.

No que diz respeito à preservação deste pulmão verde que dista a cerca de uma hora da capital, a empresa pública tem uma parceria com o Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade, no âmbito da presidência portuguesa da UE, cujo objectivo é privilegiar a produção integrada, banir e evitar a utilização de químicos e tóxicos prejudiciais ao ambiente, além de muitos outros projectos, dos quais de destacam o repovoamento do coelho bravo, o fomento de aves que se alimentam dos insectos responsáveis pelas doenças do montado e pinhal, entre muitos outros.

Os projectos em curso visam diminuir os efeitos que o “desmantelamento” da PAC (Política Agrícola Comum), em 2013, irão surtir em Portugal, que obrigará os produtores a sobreviverem sem apoios comunitários.

A queda da cortiça
A exportação é outra das grandes apostas de Vitor Barros, sobretudo em dois sectores: vinho e azeite. «No final de 2005, o mercado externo representava 4,5% do volume de vendas. No ano passado, alcançámos 15%». A companhia aposta em feiras internacionais, sobretudo na área vinícola, e esteve recentemente a exibir os dotes dos seus vinhos em Inglaterra e Alemanha.

No ano passado, a CL registou um volume de negócios de cerca de 10 milhões de euros. Os resultados líquidos têm vindo a crescer e alcançaram, em 2007, 1,130 milhões de euros. «Pela primeira vez, temos um contrato de gestão assinado com a Parpública, sociedade gestora dos capitais públicos, e esse plano estratégico obriga-nos a mostrar resultados sob pena de sermos penalizados». Este ano, a previsão é aumentar os lucros em 5% e crescer em vendas nos quatro sectores: agrícola, pecuária, florestal e agro-turismo.

A redução do peso da cortiça nas contas da CL era outra das metas da mais recente administração. «Infelizmente temos conseguido porque o preço da cortiça baixou muito. A primeira cortiça que vendemos custava 31 euros a arroba. Em Janeiro deste ano, vendemos a 22,5 euros. De qualquer modo, os resultados da companhia já são positivos sem a cortiça», remata o administrador da companhia com 170 anos de história.

O vinho das Lezírias
A primeira plantação nas Lezírias remonta a 1881 e conheceu o seu esplendor em 1934, quando a área de vinha atingiu 400 ha. A actual gestão levou a cabo um plano de reestruturação e actualmente são explorados 130 ha, 63% corresponde a castas tintas e a restante área é composta por castas brancas. Há 23 tipos de castas. Castelão e Alicante Bouchet são as mais representativas na gama de tintos, e Fernão Pires e Trincadeira das Pratas, nos néctares brancos.

O portfólio é constituído pelos vinhos que ostentam o nome da companhia, gama premium, englobados na Denominação de Origem Controlada Ribatejo. Os néctares regionais designam-se Catapereiro e são produzidos a partir de um lote de castas regionais. Os vinhos de mesa, por sua vez, são comercializados sob a marca Senhora de Alcamé.

Pastagem biológica
A produção pecuária baseia-se num efectivo de 4.000 bovinos circunscrito a uma área geográfica delimitada. O gado criado nas Lezírias é proveniente de raças autóctones Mertolenga e Preta e do cruzamento destas duas com reprodutores de Charolês e Limousine. Entre as características desta actividade destacam-se a produção em modo biológico do efectivo e das pastagens e o sistema de produção extensivo, ou seja, cinco ha de superfície forrageira (erva) por cada animal. As vacas estão em pastoreio durante todo o ano.

No projecto da produção de carne naturalmente enriquecida com Ómega-3, a CL acrescenta na alimentação dos animais a semente de linho oleagionoso, produzido apenas na companhia. Trata-se de um ácido gordo polinsaturado que o organismo humano não sintetiza e, por isso, tem de ser fornecido.

Pequeno grão certificado
O arrozal é explorado pelo agrupamento de produtores Orivárzea, no qual a CL detém 26% do capital. É o maior produtor português de arroz, responsável por cerca de 15% da produção nacional, ou seja, 20 mil toneladas por ano. A actividade da Orivárzea abarca toda a cadeia de valor: desde a produção até à comercialização do cereal.

O arroz é certificado e comercializado sob as marcas Belmonte, que pertence à CL, mas os direitos estão cedidos, e a Bom Sucesso.

A cultura do arroz remonta ao inicio do séc. XIX e em meados do séc. XX a companhia já produzia um milhão de quilos.

Tecnologia ao serviço do azeite
A área de olival das Lezírias compreende 46 ha de olival e ainda este ano serão plantados mais 30 ha. São utilizados os sistemas de cultura intensivo e super-intensivo na produção de três variedades de azeitona: a Galega e a Cobrançosa, nacionais, e a Arbequina, espanhola.

A produção de azeitona conheceu a luz do dia no inicio do séc. XX, quando foi plantado um olival com 20 mil ha. No entanto, o património de oliveiras encontrava-se degradado após anos de desinteresse e a CL decidiu recuperar actividade com recurso a novas tecnologias.

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