Editorial

Insurreição Alimentar

Por a 2 de Maio de 2008 as 9:30

vitor jorge

No mundo cada vez mais global, assistimos, actualmente, a uma luta histórica pelos alimentos, ou melhor, pelo preço dos mesmos. Se as grandes potencias não estavam, até agora, muito preocupadas com a situação, verifica-se, infelizmente, que o medo não está em ver milhares de pessoas morrerem à fome, mas nas possíveis insurreições sociais que poderão surgir.

A actual conjuntura levou mesmo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação a admitir que a reserva de cereais poderá cair para o mínimo dos últimos 25 anos, alertando o responsável pelo FMI para as “consequências terríveis” que a subida dos alimentos criarão por todo o planeta. O certo é que, de Março de 2007 a Março de 2008, os preços dos principais cereais aumentaram, registando-se subidas de 31% no milho, 74% no arroz, 87% na soja e 130% no trigo, entre outros.

Mal de nós se pensarmos que estas questões estão longe e que não nos irão bater à porta, já que os desequilíbrios comerciais causados por esta realidade chegarão, mais tarde ou mais cedo, aos países desenvolvidos.

Olhemos para alguns dos exemplos que já se fazem notar por todo o mundo, verificando-se em países como Paquistão ou Tailândia, que as autoridades foram obrigadas a movimentar tropas para proteger as plantações e quintas, de modo a evitar pilhagens.

Com os dados da ONU a indicarem que em 2025 seremos mais de 8 mil milhões a habitar este planeta e com as economias emergentes a ocidentalizarem cada vez mais o seu estilo de vida, as soluções terão de ser encontradas. E de forma rápida.

Ora, em Portugal ainda não chegámos ao ponto de falar em insurreições sociais, consequências terríveis ou protecção de plantações e pilhagens, mas também o nosso “cantinho” é afectado – e bastante afectado – pelas sucessivas subidas dos preços das diversas matérias-primas e consequente crise alimentar que se regista a nível mundial.

Estranhamente não se regista qualquer medida para minorar esta realidade, autorizando cada vez mais construções de estradas, linhas de comboio de alta velocidade, aeroportos, campos de golfe, resorts de luxo, e uma diminuição dos campos de cultivo de Norte a Sul do País.

Construiu-se o Alqueva com o objectivo de levar água às populações e às diversas culturas agrícolas existentes no antigo celeiro de Portugal, mas rapidamente somos confrontados com a desertificação da região e uma aposta quase cega no sector que virá salvar a economia nacional – o turismo.

Portugal receberá até 2013 vários milhares de milhões de euros provenientes da Europa, não se vislumbrando grandes apoios ou investimentos para o desenvolvimento do sector agrícola.

Talvez a simples constatação de que os consumidores portugueses gastam mais do que a média europeia em comida e Portugal importa cada vez mais alimentos para satisfazer a procura e compensar a falta de produção seja suficiente para olhar para estas questões e tomar medidas.

Assim esperamos!

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