FMCG Vinhos

Vinum Soberanas est

Por a 4 de Abril de 2008 as 12:00

soberanas

Localizada em Terras do Sado, perto do Torrão, a produção dos vinhos da Sociedade Agro-Pecuária das Soberanas iniciou-se em 2002. Apesar de ser um projecto recente, Franklim Ferro Jorge já viu dois néctares entrarem no top dos vinhos nacionais. Qualidade é palavra fundamental e surpresas só virão se esse conceito for garantido.

A ideia inicial de plantar vinha nas Soberanas partiu do proprietário Franklim Ferro Jorge, possuindo em João Torres, viticultor experiente e conhecedor profundo das terras alentejanas, um forte apoiante. Apesar de saber que nestas coisas do vinho «nada é fácil», a utilização de técnicas de plantação e cultivo modernas fizeram com que a primeira produção chegasse cedo à adega do Monte das Soberanas. O potencial estava lá e o «objectivo sempre foi produzir uvas da melhor qualidade, sabendo que essa é condição essencial para se aspirar a produzir grandes vinhos».

Estreia em grande
A equipa técnica de viticultura meteu mãos à obra e escolheu as castas Alicante Bouschet (7,4 hectares), Trincadeira (7 ha), Aragonês (3,6 ha), Alfrocheiro (3 ha) e Tinta Caiada (3 ha) para produzir os primeiros tintos que viriam a sair da adega, confessando Ferro Jorge que «a produção de 2002 foi de boa qualidade, mas não deixava de ser ainda uma experiência». Faltava algo para concretizar o sonho de «não ser somente mais um vinho, mas um grande vinho».

Contratados os serviços da equipa de enologia liderada por Paula Laureano da Eborae, o desafio estava lançado e o responsável do Monte das Soberanas salienta que «nós não estamos no mercado por acaso. Não apareceu uma coisa em 2004 de forma casual. Todo o projecto foi pensado e estruturado para a produção de vinhos que se diferenciam no mercado».

E a prova chegou cedo com a eleição de dois dos néctares produzidos no terroir pertencente às Terras do Sado como os melhores da região, obtendo, tanto o Soberana 2004 como o S de Soberanas 17,5 pontos na revista Blue Wine. «Para quem tinha começado há pouquíssimo tempo, ter um prémio destes dá um alento enorme e faz-nos acreditar que estamos no caminho certo», admite Ferro Jorge.

A construção de adega própria, em 2005, foi um passo determinante para a autonomização e consolidação do projecto vitivinícola das Soberanas, possibilitando que a vinificação pudesse ser efectuada com as uvas nas melhores condições, bastando para isso cumprir o pequeno trajecto das vinhas até às cubas de fermentação, já que a adega está “encostada” à vinha.

Adepto dos blends, Ferro Jorge não foi poupado pela equipa liderada por Paulo Laureano, que possui em António Rosado o enólogo residente nas Soberanas. «Estamos a trabalhar no sentido de uma melhoria contínua», refere o enólogo, acrescentando que «o que pedimos foi-nos dado e, por isso, só nos resta produzir vinhos de qualidade».

Com o Soberana a ter produção anual, a partir das castas Alicante Bouschet, Trincadeira, Aragonês, Alfrocheiro e Tinta Caiada, o néctar sai para o mercado no final do terceiro ano, tendo a colheita de 2004 sido lançada em Maio de 2007. «Não temos vinhos correntes», diz Ferro Jorge, adiantando que «os vinhos têm um processo evolutivo e só depois de concluído sai para o mercado».

No que diz respeito ao S de Soberanas, «este só sai da adega em anos excepcionais». Esse foi o caso de 2004 que chegou ao mercado em Outubro de 2007, produzido com as castas Trincadeira e Alicante Bouschet em percentagens de 50%. Com estagio de três anos na adega – dois em barrica de carvalho francês e mais um em garrafa – o próximo “S” (2005) sairá para o mercado em finais de 2009, antecipando Ferro Jorge que 2006 não será ano de S de Soberanas já que não correspondeu às exigências qualitativas que tínhamos. Assim, as uvas que estavam destinadas ao “S” foram “enriquecer” o Soberana.

A desvantagem de não ser alentejano
Apesar de localizado a poucos quilómetros do Torrão, em pleno Baixo Alentejo, os rótulos dos dois néctares do Monte de Soberanas possuem a inscrição de Terras do Sado, o que para Ferro Jorge constitui uma desvantagem. «Sem dúvida nenhuma que existem diferenças entre ostentar a designação Alentejo e Terras do Sado num rótulo de um vinho», admitindo o produtor que «para a maioria dos restaurantes no nosso País existem vinhos do Douro e do Alentejo».

E como contrariar este handicap? «Com qualidade», diz Ferro Jorge. «Actualmente existem vinhos de grande qualidade em todas as regiões do País e, em relação ao Douro e Alentejo, a preços muito mais acessíveis». A desvantagem de ter Terras do Sado não constitui, contudo, desvantagem somente em território nacional. «Também na exportação denota-se uma clara preferência por vinhos destas duas regiões», confessando Ferro Jorge que «este efeito está, no entanto, a desaparecer. O consumidor está cada vez mais esclarecido e não vai tão facilmente atrás de modas. Sabe o que quer e quanto deve pagar por um vinho de qualidade».

Com distribuição entregue a parceiros regionais, os dois néctares das Soberanas estão à venda em garrafeiras, restauração e algumas grandes superfícies comerciais como a Auchan, Intermarché e Gourmet do Corte Inglés, encontrando-se a balança equilibrada no que diz respeito ao peso dos diferentes canais na comercialização dos vinhos.

Defendendo um preço justo para os vinhos saídos da adega das Soberanas, Ferro Jorge admite saber o preço da qualidade dos seus vinhos, salientando que «praticamos os mesmos preços, seja no início ou no final da colheita. Nós não discutimos preço. Sabemos o valor do nosso vinho: quem quer, quer, quem não quer, não quer».

Talvez um branco de excepção
Com uma produção total de 60 mil garrafas por ano, esta divide-se entre 12 a 14 mil para o “S” e o restante para o Soberana, havendo ainda lugar para exportar alguns néctares para mercados como Canadá, Bélgica, Macau, Brasil ou Angola. No entanto, «sabemos que o projecto é muito jovem e estamos a dar os primeiros passos. Certo é que não nos interessa ter muito mercado, até porque não possuímos produção».

Admitindo o enólogo António Rosado que «hoje só produz vinho de má qualidade actualmente quem quer», Ferro Jorge revela que «poderíamos chegar a uma produção de 300 mil garrafas». A preferência, salienta o produtor, vai, contudo, «para a qualidade. Tenho a perfeita consciência de que ainda não tenho o vinho que quero e provavelmente nunca virei a ter. Estamos numa curva ascendente a nível qualitativo e ainda temos muito caminho por percorrer em termos de qualidade e queremos percorrer esse caminho. Mas satisfaz-nos saber que os primeiros vinhos que colocamos no mercado foram reconhecidos».

Projectos também estão na calha, admitindo Ferro Jorge que «temos de fazer coisas diferentes». O ano 2008 poderá ver lançado o desafio de produzir um tinto à base de Alfrocheiro ou Tinta Caiada, não se excluindo a possibilidade de Soberanas produzir também um branco. «Gostaria de um dia ter um branco», admite Ferro Jorge, «mas terá de ser um vinho com muito impacto no mercado».

Deixe aqui o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *