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Francisco Lino, Responsável Operacional da 1.ª Feira Nacional do Azeite

Por a 20 de Abril de 2007 as 10:00

 francisco lino

 «Os clusters regionais potenciam a marca nacional»
A realização da 1.ª Feira Nacional do Azeite, no Fundão, foi o pretexto para a entrevista ao responsável operacional do evento. As expectativas são animadoras, levando Francisco Lino a admitir que o sector oleícola vai certamente surpreender o panorama agrícola nacional, pela positiva

Num ano em que mais de 400 produtores fecharão as portas e os lagares, em que os dados indicam que importamos 50% do nosso consumo, o responsável operacional da 1.ª Feira Nacional do Azeite e chanceler da Confraria do Azeite reconhece que «contra todas as expectativas o ano acabou por correr mal». Os desafios estão aí: compreender os novos comportamentos dos consumidores e produzir sabores elegantes, suaves e controlados sempre com as mesmas características. «O ID é a chave deste problema».

Hipersuper (H): Que importância possui a realização da I Feira nacional do Azeite?
Francisco Lino(F. L.): A criação de um centro de negócios ligado ao sector, faz todo o sentido, sendo certo que estamos perante uma nova plataforma de interesses vários.

É necessária uma nova ofensiva, um novo modelo. As verdadeiras “Estrelas” estão nos agentes transformadores e estas precisam de ser ambiciosas, tendo em atenção a boa relação qualidade/preço. É aqui que reside um dos segredos! E é seguramente na Feira Nacional que iremos aferir a real importância do evento.

H: Qual a razão de organizar este evento no Fundão?
F. L.: A cidade do Fundão apresenta actualmente uma elevada capacidade para se realizar uma feira deste cariz. Tradicionalmente apresenta-se como um centro de negócios ligados ao sector agro-alimentar, à agricultura, fruticultura e é reconhecida como a capital agrícola da Cova da Beira.

H: Que investimentos foram necessários efectuar para a realização deste evento?
F. L.: Diria que o orçamento da I edição andará à volta dos 130.000 euros. A verdade é que provavelmente estamos a realizar a feira em contra ciclo, pois o ambiente económico não nos é favorável, contudo este é um desafio para os próximos anos, pois a feira tem um calendário bienal.

H: Que utilidade/interesse possui este evento para produtores e consumidores?
F. L.: Despertar os produtores para “O génio dos bons produtos”. Sendo certo que este mesmo génio está ameaçado pelas grandes superfícies, que preferem grandes quantidades e este comportamento é incompatível com a qualidade de gama alta. Um frango de aviário não é a mesma coisa que um frango do campo, esta é a questão! Alguma reflexão deveria ser feita.

Por outro lado este é um evento que pretende ir ao encontro dos consumidores e fazer com que eles venham ao nosso encontro, lagares, quintas, turismo rural e aproveitar para provar este bem que é um luxo.

H: Quantos produtores/expositores e visitantes esperam ter no evento?
F. L.: Estamos na 1.ª edição com cerca de 70 expositores e esperamos cerca de 35.000 visitantes.

H: Há expositores estrangeiros?
F. L.: Não.

H: O tema “Azeite” justifica uma feira a nível nacional?
F. L.: Acredito que sim! O tempo o dirá, no entanto será mais fácil viabilizar um evento desta natureza, se entidades responsáveis neste “cluster ” se envolverem com outra postura que não a actual.

Inovação precisa-se
H: Que importância possui este sector de actividade para a economia portuguesa?
F. L.: Se pensarmos que mais de 300.000 explorações agrícolas estão envolvidas em maior ou menor escala no sector, poderemos pensar que é importante para o rendimento das famílias. Estamos perante um novo tempo, mais de 30.000 ha de olival novo entrarão brevemente em produção. Com esta nova realidade a inovação no sector está à porta de dar um salto qualitativo e com esta atitude um contributo na riqueza nacional é o mínimo que se espera.

H: Com as recentes preocupações dos consumidores em relação à saúde, é importante divulgar os benefícios do Azeite?
F. L.: Apesar de todos os benefícios para a saúde, convêm lembrar as donas de casa que o azeite é uma gordura e portanto o seu consumo deve ser moderado.

H: Que benefícios são esses?
F. L.: A dieta mediterrânea tradicional está associada com um baixo risco de doença cardiovascular e o azeite desempenha o papel fundamental, beneficiando a saúde cardiovascular, é um protector contra o cancro do cólon e a osteoporose.

H: Que importância possuem os produtos derivados do azeite?
F. L.: Valorizar a fileira é uma questão estratégica no sector. É necessário ter a obsessão de não limitar as perspectivas. Tenho defendido uma nova atitude dos agentes transformadores com a criação de uma taxa, que desenvolva o Centro de Investigação de Elvas, com um departamento ID (Investigação e Desenvolvimento) a funcionar em pleno e que não fixe qualquer limite ao génio. Atrevo-me a afirmar que é necessário criar marcas com charme, tradição e ligar a imagem ao Vinho do Porto, à luminosidade de Lisboa, às douradas praias do Algarve. Tudo isto pode e deve ser realizado em produtos derivados, não esquecendo a questão das energias alternativas.

H: Numa altura em que a inovação é fundamental, que novidades poderá o azeite apresentar aos consumidores?
F. L.: Algumas certamente estarão no “segredo dos Deuses “. Não sendo porém uma inovação diria que nas embalagens deveria constar a origem do azeite.

H: A cosmética é um mercado que poderá ser explorado?
F. L.: Certamente, e não é por acaso que está a emergir a Olivoterapia associada ao tratamento da pele e ao bem-estar físico.

“Plumas” contra “Pesados”
H: Como caracteriza o actual panorama oleícola português?
F. L.: Está a despertar após um período de grande letargia. Diria mais, vai certamente surpreender o panorama agrícola nacional, pela positiva.

H: Recentemente o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou os números referentes à campanha de 2006/2007, revelando que vamos ter mais, mas pior azeite. Confirma estes dados?
F. L.: É verdade, contra todas as expectativas o ano acabou por correr mal.

Curiosamente estes aspectos colocam-nos desafios, compreender os novos comportamentos dos consumidores e produzir sabores elegantes, suaves e controlados sempre com as mesmas características. Será provavelmente o caminho a percorrer para resistir aos maus anos. O ID é a chave deste problema.

H: É recorrente dizer que existe uma guerra entre “Norte/Sul” no Azeite. Que explicação encontra para esta situação?
F. L.: É útil para o sector haver “guerras”, são elas que provocam uma atitude de desenvolver o conhecimento. Seria fácil afirmar que o Norte produz qualidade superior e o Sul quantidade. Na verdade penso que todas as regiões actualmente debatem-se pela qualidade, pela excelência dos azeites produzidos e com isto diria que o Centro está a ter uma palavra nesta “guerra”.

H: Face à concorrência espanhola, maior produtor de Azeite do Mundo, não seria melhor o sector do Azeite estar unido na promoção do azeite nacional?
F. L.: Permita-me uma opinião calculista, os efeitos da globalização irão sentir-se dentro de 20 anos ou menos. Significa esta afirmação que uma só empresa, oriunda do sector financeiro, será detentora de 60 a 70% da decisão estratégica da produção mundial de azeite.

Acredito que um peso pesado estará a emergir em algum lugar, com todo o poder de comunicar, fabricar opinião junto dos consumidores e com uma logística eficiente. Os outros 30/40%, serão oriundos de pequenos produtores, os quais designaria por “pesos plumas” e que só poderão resistir se entretanto se organizarem em organismos regionais e se tiverem como objectivo nas suas explorações a paixão de produzir azeites elegantes e de alta gama.

Certamente que poderão sempre aproveitar as energias que as fusões regionais podem despoletar, desde logo na produção de azeites de sabores e características controladas, para não falar de custos optimizados, logísticas mais eficientes e planos comunicacionais com maior eficácia.

É sempre bom ter em conta que clusters regionais potenciam a marca nacional.

Estamos a lutar com pesos pesados e nós somos os pesos plumas, é um combate difícil.

H: Sendo Portugal o 5.º país produtor europeu de azeite, que explicação encontra para o País importar 50% do consumo do azeite?
F. L.: Desde 1960 que o olival em Portugal tem vindo a perder importância estratégica no panorama agrícola e foram vários os motivos, o resultado está à vista, agora estamos no tempo de inverter a situação.

H: Importando 50% do consumo, que peso possui a exportação de azeite para o sector nacional?
F. L.: Não conheço os números exactos, presumo que não ultrapassem os 10% da produção nacional.

H: De onde vem o azeite importado?
F. L.: A grande maioria de Espanha.

H: Qual o maior mercado de exportação do azeite português?
F. L.: Brasil

H: Qual o volume e valor de azeite consumido em Portugal?
F. L.: Estimo em cerca de 80.000 toneladas, gerando um valor de 160 milhões de euros.

H: Poderão estes aumentar?
F. L.: Vai ser um crescimento lento, mas sustentado.

H: Que iniciativas estão a ser organizadas para promover o azeite português no estrangeiro?
F. L.: Com o ICEP as iniciativas decorrem à boa maneira Portuguesa.

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