Balanço do ano

Por a 13 de Dezembro de 2005 as 15:00

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Apesar das dificuldades, o Grande Consumo teve um ano de 2005 animado por negócios em grande escala, alguns deles verdadeiramente surpreendentes, e por batalhas especialmente polémicas, em particular junto do sector retalhista. Tanto do lado da Produção como da Distribuição, regista-se uma dinâmica elevada que tentamos agora sumarizar num trabalho que “dá a volta” por tudo o que de mais importante aconteceu durante o exercício.

A nossa primeira edição do ano reflectia ainda o que se passou em finais de 2004, destacando-se desde logo a integração da Bestfoods na FIMA. A vertente industrial do grupo Jerónimo Martins saía assim reforçada com mais algumas marcas de referência no panorama alimentar nacional, passando para o seu universo nomes tão conhecidos como Knorr, Maizena ou Alsa. Era assim reforçado o espírito de parceria entre a Fima e a Unilever, num acordo que rondou os 80 milhões de euros e permitiu uma reorganização da estrutura accionista nos vários negócios explorados.

Ainda no ramo alimentar, a rastreabilidade passa a ser obrigatória na cadeia alimentar, uma medida com efeitos práticos a partir de Janeiro de 2005. O projecto é ambicioso e certamente de difícil implementação, variando bastante consoante os sectores em causa. Mas o princípio é válido e veio para ficar, ainda que a sua aplicabilidade possa, de facto, gerar algumas reservas, pelo menos no curto prazo. O início do ano, portanto, começava sob o estigma da segurança alimentar, um assunto cada vez mais na ordem do dia.

No sector das bebidas dá-se também um negócio particularmente importante. A Finagra adquire 30% da participação de 50% que a Caves Aliança detinha na Caves Aliança Marketing, empresa distribuidora das bebidas. O grupo passa assim a contar com um novo accionista e integra na sua actividade a área de vinhos da tão conhecida e prestigiada Herdade do Esporão. Nesta fase, todavia, os queijos e azeites ainda não passam para esta esfera, o que viria a acontecer mais tarde, como aliás estava planeado desde o início.

No mundo dos vinhos, o G7, um belíssimo exemplo de como o espírito de parceria entre produtores pode dar frutos caso consigam um entendimento estratégico, celebrava doze anos de existência e declarava que iria investir cinco milhões de euros em marketing durante os próximos três anos. Por esta altura vinha a público a polémica sobre a possível venda do histórico edifício do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), mas o Governo acaba por recuar na sua intenção. Sabe-se igualmente que os australianos atingem a liderança no mercado britânico no que diz respeito à venda de vinho, um tema particularmente sensível aos portugueses na medida em que este é considerado um mercado prioritário, na sequência das ideias defendidas no Relatório Porter.

Do lado da Distribuição, dávamos conta do crescimento do conceito de discount, que no início do ano dispunha já de uma quota de dez pontos percentuais em termos europeus. O universo do desconto contava na altura com cerca de 40 mil lojas só no Velho Continente e, na mesma edição, a Hipersuper noticiava igualmente a intenção da Lidl em entrar em dois novos mercados a cada exercício, confirmando-se, portanto, a oportunidade de crescimento para esta tipologia de loja. Isto numa altura em que a APED apresentava pela primeira vez o Ranking da Distribuição, um documento que sumarizava a posição relativa dos vários operadores presentes em Portugal e tendo por base diversos critérios de avaliação.

Este constituiu, aliás, um ponto de viragem muito interessante, pois representa, acima de tudo, uma vontade de transparência por parte do sector. Os dados, relativos ao exercício de 2003, mostravam um volume de negócios na ordem dos 8,5 mil milhões de euros, numa evolução de 7,5% face ao ano anterior. A dinâmica evidenciada pela Distribuição, que teria seguimento no ano seguinte, como veremos mais à frente, era particularmente assinalável tendo em atenção que na altura estávamos em plena fase de condicionamento legal em matéria de novas aberturas.

O Ranking seguia uma lógica de análise por insígnia e não por grupo de distribuição, mas deixava a nu a força da Modelo/Continente no cenário nacional, com as duas insígnias a ocuparem, respectivamente, a terceira e primeira posições da tabela. Pelo meio situava-se o grupo Auchan, nomeadamente com a insígnia Jumbo e as duas lojas Pão de Açúcar. Contudo, em termos de facturação por grupo era novamente um player português a ocupar o segundo posto, pois a Pingo Doce colocava-se na quarta posição do ranking e o Feira Nova na sétima. O Intermarché situava-se em quinto, seguido da Lidl, enquanto Minipreço e Carrefour, hoje duas insígnias na esfera dos franceses, ocupavam o 8º e 9º postos. O El Corte Inglês ainda não chegava ao top ten, já que era ultrapassado pela Worten, a primeira insígnia de retalho especializado, mais um vez demonstrando a força dos activos da Sonae.

A nível de tendências, o documento era bastante claro, reflectindo o peso crescente dos formatos de discount e igualmente a forte dinâmica ao nível do desenvolvimento de conceitos de retalho especializado, o que um ano depois se mantém intacto como uma clara tendência de futuro no sector retalhista. No fundo, os dados de 2003 antecipavam já o que foi plenamente confirmado quando analisado o exercício de 2004, dado a conhecer pela Hipersuper mais à frente, como teremos oportunidade de verificar.

Neste final do ano, falava-se já mais em concreto sobre a possível comercialização de medicamentos não sujeitos a receita médica fora das farmácias e também sobre a forte possibilidade de se viabilizar a instalação de postos de combustível junto das superfícies comerciais. Entretanto, foi publicado um novo regime de licenciamento para o sector, mas nesta fase os operadores continuam a manifestar fortes reservas quanto à sua efectiva aplicação face aos projectos de expansão, nomeadamente pelo facto de existirem várias autoridades com parecer na atribuição de licenças. Dizia-se mesmo que, em determinadas zonas, a nova lei poderia simplesmente gerar um crescimento zero.

Contudo, noutro artigo a Hipersuper antecipava já o novo cenário para o ano de 2005, dando conta da existência de 325 pedidos de licenciamento, num valor global de investimento estimado em 1,8 mil milhões de euros projectado até 2009. Os sinais eram claros, e todos os grupos de Distribuição, sem falta, apressavam-se a declarar publicamente a sua vontade de investir por terras lusitanas. Pela primeira vez, falava-se da entrada da cadeia Netto (conceito de discount explorado pelo grupo Os Mosqueteiros) em Portugal, projecto que entretanto foi adiado para 2006 mas que dispõe, actualmente, de três licenças para início de operação.

A nível económico, contudo, confirmavam-se as expectativas menos optimistas, pois apesar do aumento das exportações o País via igualmente o nível de importações crescer substancialmente, o que colocava o défice da balança comercial com uma variação negativa na ordem dos vinte pontos percentuais. O PIB, para não variar, continuava a ser revisto em baixa.

Fevereiro

Este é um mês particularmente importante para a Hipersuper, pois é o primeiro número em que damos a conhecer aos leitores a reformulação do nosso projecto editorial, a qual passou por um restyling da revista em termos gráficos e também pela definição de novos conteúdos editoriais, concretamente reforçando a secção dedicada ao universo da Distribuição e criando outros pontos de interesse de forma mais consistente, como uma zona dedicada aos Transportes e Logística, outra ao desenvolvimento do Ponto de Venda ou ainda uma secção de Análise que pretende transmitir uma perspectiva mais macroeconómica de todos os indicadores e tendências que afectam tanto a Produção como a Distribuição.

No estudo central que passámos a integrar de forma regular, abordámos o sector do azeite, dando conta de um consumo de maior qualidade e igualmente perspectivando um cenário internacional particularmente favorável para esta gordura alimentar. Infelizmente, a produção portuguesa, contrariamente ao que acontece do outro lado da fronteira, continua a demonstrar fracos sinais quanto à vontade de apostar nesta cultura, na qual, recorde-se, Portugal já foi autosuficiente.

Em termos de negócios, o destaque terá obrigatoriamente que ir para a aquisição da Gillette por parte da Procter & Gamble, o que custou a esta última qualquer coisa como 43,3 mil milhões de euros. O cenário de concentração a que se tem vindo a assistir por toda a parte tem naturalmente reflexo directo no Grande Consumo, mas neste caso falamos de um acordo de enormes proporções, pois junta duas das principais companhias a nível mundial.

As novas secções estreavam-se em grande: nos Transportes e Logística entrevistámos Vítor Carvalho, presidente da APLOG (Associação Portuguesa de Logística), enquanto na Equipack dávamos à estampa uma reportagem sobre a Tetra Pak, na qual era abordada a estratégia da companhia para o nosso país. No Ponto de Venda era a ADT, como empresa pioneira na concepção de soluções inovadoras, quem “dava a cara”, enquanto na Análise, aproveitando a realização do I Congresso do Comércio Moderno, uma iniciativa particularmente entusiasmante da APED, sumarizávamos o pensamento de Tom Peters, um dos principais gurus da gestão a nível internacional. Ainda neste âmbito, perspectivava-se o retalho num período de cinco anos, antecipando as tendências de mercado e confirmando o pessimismo que tem vindo a caracterizar o sector de consumo em Portugal.

Concretamente no mundo da Distribuição, dávamos início a uma abordagem mais internacional, tendo por base um artigo sobre a posição dos principais operadores retalhistas a nível europeu, e abríamos na lógica editorial um acompanhamento mais aprofundado e acima de tudo permanente dos operadores nacionais. Nesta óptica, Nuno Jordão, considerando o novo regime de licenciamento comercial, confirmava a vontade da Modelo Continente investir 200 milhões de euros durante o exercício de 2005, enquanto o grupo Jerónimo Martins revelava um crescimento de 3,6%, tendo por base o reposicionamento dos negócios em Portugal e o sucesso da operação na Polónia, em clara fase ascendente.

No plano europeu, o destaque ia para a liderança do grupo Carrefour, com uma quota de 7% da Distribuição europeia, e para a agressividade do grupo Schwarz em termos de expansão, na altura colando-se ao grande rival Aldi, nas sétima e sexta posições, respectivamente. O grupo Metro, igualmente de origem alemã, assumia o segundo posto do ranking, seguido dos britânicos da Tesco, da Rewe e do grupo ITM (Intermarché). A Auchan, oitava posição, Edeka e Leclerc, por esta ordem, completavam o leque dos dez maiores retalhistas do Velho Continente.

A nível de conceitos e tendências, um outro estudo salientava o facto de a quota de mercado das marcas próprias se estar a aproximar dos 30%, apesar do desaceleramento dos ritmos de crescimento nos mercados mais desenvolvidos por contraponto com o crescimento exponencial nas zonas onde o conceito ainda não está tão implantado. O sucesso das marcas dos distribuidores fica, aliás, comprovado no quadro que acompanha este artigo, o qual sintetiza a percentagem da marca própria nos principais retalhistas mundiais face ao total de negócio. O líder Wal-Mart, por exemplo, factura 40% com a sua marca, enquanto o Carrefour, segundo operador a nível mundial, consegue uma participação de 30 pontos.

Março

Nesta edição demos sequência à cobertura do I Congresso do Comércio Moderno, desta feita resumindo o essencial das intervenções de Gary Hamel, outro dos mais prestigiados analistas internacionais em matéria de gestão, e do sueco Kjel Nordstrom, que literalmente encantou a plateia com a sua filosofia visionária sobre marketing.

Nesta altura, a principal notícia para o sector era a confirmação da entrada da Aldi no nosso país, após ter procedido ao registo em Albufeira. Muito se especulou sobre a possível aquisição da cadeia Alisuper, mas a verdade é que os modelos de loja são totalmente distintos. Neste momento, ainda não se sabe como será feita a entrada deste operador, mas a via aquisitiva parece ser a alternativa mais viável (Tengelmann ou Dia, por exemplo). Certo é que já existe um site em funcionamento (que anuncia a intenção de compra de terrenos, o que pode pressupor uma lógica de construção de raiz, apesar das dificuldades na obtenção de licenças em número suficiente para gerar massa crítica no negócio) e que os alemães já têm reservados 20 mil metros quadrados no Logisparque, estrutura logística a ser implementada em breve no centro do País.

Entretanto, no plano interno o Governo viabilizava a instalação de postos de combustível junto das superfícies comerciais, uma reivindicação de longa data da Distribuição que tinha sido bloqueada. Apenas Os Mosqueteiros tinham aproveitado o anterior regime, detendo a maior parte dos postos em funcionamento, que em Portugal eram, na altura, cerca de uma centena. O Carrefour, por seu turno, anunciava uma loja para Coimbra com data de inauguração prevista para meados de 2006 e a Sonae reforçava o interesse de investimento no mercado brasileiro, dispondo de 50 milhões de euros para o exercício.

Paralelamente, a GCT assegurava, em regime de exclusividade, a logística do grupo Ibersol, líder na restauração organizada, enquanto um estudo dado a conhecer da MRI Worlwide Corporate Portugal assinalava a intenção do universo da Distribuição em aumentar os seus recursos humanos por via da contratação de colaboradores, o que naturalmente também se explica pelos planos de investimento em sede de um novo regime de licenciamento que desbloqueava o crescimento das cadeias.

Na cena internacional, a quota de 15% no mercado americano dava à Wal-Mart a clara liderança do sector por terras do “Tio Sam”, com uma distância brutal face ao segundo classificado, o grupo Kroger, com um participação de 3,8 por cento. Muito baseados no mercado doméstico, o que mesmo assim lhes permite ser o maior grupo de distribuição à escala mundial, os norte-americanos da Wal-Mart têm vindo paulatinamente a reforçar as operações a nível internacional, especulando-se até a possível compra dos activos da Modelo Continente no Brasil.

Ao nível das tendências de consumo, um estudo internacional da AC Nielsen confirmava em termos estatísticos aquilo que todo o sector já sabia: a conveniência e a saúde são hoje em dia duas alavancas fundamentais para o sucesso das vendas no grande consumo, naturalmente dependendo da categoria em causa. As taxas de penetração dos produtos com estes argumentos, todavia, aumentam exponencialmente por todo o globo. Esta tendência, inclusivamente, foi confirmada por um estudo nosso também publicado nesta edição, o qual referia precisamente a conveniência como grande motor do mercado de refeições prontas e congelados, um dos poucos sectores a escapar à estagnação sentida durante todo o ano.

Ficámos ainda a saber que a Delta, através da distribuidora Nabeirodist, entrou no negócio das cervejas, conseguindo juntar ao seu portfólio a Heineken. Contudo, a operação manteve-se totalmente distinta da comercialização de cafés, pelo menos ao nível da colocação física dos produtos junto dos canais de comercialização.

Abril

Mês de Alimentaria, o que tem sempre uma importância especial para o sector. Em edição especial de 134 páginas, a Hipersuper dava a conhecer o sucesso da remodelação encetada pelo grupo Jerónimo Martins, que culminou numa apresentação de resultados relativos ao ano de 2004 em que o operador confirma a solidez do projecto na Polónia – na altura já com um parque de lojas acima das sete centenas de unidades – e também a recuperação de cadeia Pingo Doce com base em novas políticas comerciais que passam por uma deflação de 3%, redução de sortido e crescente aposta na marca própria. Apesar das dificuldades na vertente grossista e nos grandes formatos, a estratégia revelava-se acertada.

Paralelamente, a Modelo Continente divulgava lucros de 114 milhões de euros, um crescimento superior a 50% face ao ano anterior, e vendas na ordem dos quatro mil milhões de euros, onde também a operação internacional, desta feita no Brasil, revelava finalmente índices de rentabilidade satisfatórios. O grupo, tal como a Hipersuper já havia noticiado, reforçava a intenção de aplicar, a nível interno, 200 milhões de euros durante 2005, mostrando-se empenhado em reforçar todas as vertentes de negócio, ou seja, tanto a área alimentar (a nível nacional e internacional) como o retalho especializado, onde também lidera claramente o mercado.

Entretanto, a Auchan reforçava o projecto de certificação da zona de frescos nas suas unidades de venda, implementando esta lógica na Maia, depois de já o ter feito em Almada. A ideia, num processo voluntário a que cada loja se candidata, é obviamente atingir o maior número de pontos de venda possível, sendo um sinal importante do lado da Distribuição no sentido de contribuir efectivamente para mais garantias ao nível da segurança alimentar.

Ainda na Distribuição, surge uma excelente notícia. Dando sequência ao parecer positivo da Autoridade da Concorrência, o Governo viabiliza a instalação de postos de combustível junto das superfícies comerciais, revogando uma legislação perfeitamente obtusa e baseada em argumentos falaciosos. O sector conseguia assim uma das suas mais importantes reivindicações, abrindo portas para a exploração de mais uma vertente de negócio. Desaparecia assim a incongruente “área sensível”, com natural satisfação por parte dos operadores retalhistas.

Do lado da produção, a americana Sara Lee definia um novo plano de reestruturação que passa pela alienação de activos europeus ao nível da transformação cárnica, entre os quais se encontra a Nobre. Ao mesmo tempo, a Central de Cervejas estabelecia uma parceria com a Empresa de Cervejas da Madeira no sentido de distribuir os produtos desta última no Continente, enquanto no mesmo sector a Unicer lançava a “gémea” da Super Bock (a Twin no segmento sem álcool), e a Cintra reformulava a equipa de distribuição para a zona da Grande Lisboa. A Central, contudo, não se encontrava parada ao nível da inovação, e aproveita para estrear a Zer0%, também no segmento sem álcool, e a Bohemia, que já foi alvo de case study internacional devido ao seu sucesso. Nas águas era apresentada a nova imagem Luso.

O grupo Sumol, por sua vez, voltava a acertar parcerias com futebolistas de elevada craveira a nível internacional, “renovando contrato” com Ricardo e trazendo para a esfera dos Sumólicos Miguel e Maniche. A Compal, que no final do ano viria a ser adquirida precisamente pelo grupo Sumol, mostrava a sua força no mercado ao apresentar um crescimento de vendas na ordem dos 15%, isto quando o mercado de sumos e refrigerantes se encontra em estagnação. Na apresentação de resultados, é dada a conhecer a força crescente da empresa em Espanha e a intenção de caminhar para Angola com um projecto industrial, o qual não se sabe, agora, se terá continuidade face à mudança accionista. Do ponto de vista financeiro, os resultados operacionais são igualmente muito satisfatórios, ascendendo aos 30 milhões de euros.

Nos vinhos, o grupo Amorim reforçava a capacidade de produção de cortiça, não obstante a crescente pressão para maior penetração de sistemas alternativos, e a Viniportugal salientava que o seu orçamento para 2005 incluía um investimento próximo dos 4,5 milhões de euros, essencialmente centrados nos dois mercados prioritários que o Relatório Porter já havia identificado, nomeadamente Estados Unidos da América e Reino Unido. Todavia, o sector recebia igualmente excelentes sinais de outro mercado com elevado potencial: a Associação Brasileira de Sommeliers incluía 35 referências nacionais na listagem que considerou para os 100 melhores vinhos de 2004.

No sector de Transportes e Logística, o grupo Luís Simões confirmava a oportunidade do crescimento para Espanha, sendo já líder no transporte de mercadorias entre os dois países ibéricos, considerando essa uma vertente estratégica fundamental, até porque já contribui com 30% para o volume de negócios. Em sentido inverso, mas falando do sempre importante investimento directo estrangeiro, a Iveco reforçava a sua operação em Portugal, isto numa altura em que cada vez mais o sentido dos centros de decisão é o inverso, nomeadamente transferindo-os para Espanha.

Na secção de Análise, era ainda possível confirmar a recessão técnica da economia portuguesa, com o cenário de convergência real com a União Europeia a continuar apenas uma miragem. Na mesma lógica, António Borges tecia duras críticas a nível económico, mas desta feita à escala europeia, denunciando o excessivo proteccionismo face às empresas, o qual, na sua opinião, constitui elemento de bloqueio. «O PEC é um pacto de Estabilidade e não de Crescimento», sintetizou.

Maio

Esta é a edição em que fazemos a análise do sector de medicamentos de venda livre, um negócio ao qual a Distribuição também aspira – à semelhança da gasolina – e que está estimado em cerca de 270 milhões de euros. Os poderes instalados, todavia, iniciam pesseessões para defender os seus interesses, pois José Sócrates, no discurso de tomada de posse, ameaça a manutenção deste status quo instalado. Eram os primeiros sinais de que o cenário viria a ser alterado, mas por enquanto pouco se sabe quanto aos contornos reais do processo e especialmente acerca das condicionantes à comercialização destes fármacos noutros canais de distribuição, pois desde a primeira hora as reservas quanto a uma liberalização “pura e dura” eram evidentes.

Entretanto, o grupo Jerónimo Martins assumia a presidência da APED, na figura de Luís Vieira e Silva, que mais para o final do ano, depois de devidamente estudados os dossiers, concedia uma grande entrevista à Hipersuper em que se aborda todas as temáticas mais prementes no sector da Distribuição, e na altura já com a confirmação de venda de MNSRM nas superfícies comerciais, ainda que devidamente controlada, como desde o início se podia adivinhar.

No que diz respeito a resultados financeiros, os Mosqueteiros fechavam 2004 com um volume de negócios na ordem dos 1,5 mil milhões de euros, cerca de 10% da facturação total do grupo e revelando crescimentos já na casa dos dois dígitos, o que, face a um cenário de contracção, são resultados manifestamente satisfatórios. A confirmação da Netto no mercado português foi outro dos pontos mais importantes de um artigo de três páginas que revelava, também, um parque de lojas situado já nas 223 unidades.

A Sonae Imobiliária, alvo de um crescimento exponencial acima de todas as perspectivas mais optimistas nos últimos anos, mudava o nome para Sonae Sierra, dando sequência a um posicionamento mais internacional em virtude do reforço de projectos fora de portas, e o Continente de Cascais acertava a certificação ambiental. Nos grandes formatos, é inaugurado o Jumbo de Coimbra, a 17ª loja do grupo Auchan, que aproveita a ocasião para confirmar planos de investimento ambiciosos no País.

Na vertente alimentar, o azeite Gallo, líder de mercado em Portugal, pretende reforçar a sua posição no Brasil, onde já detém uma quota de 16%. A Nestlé, entretanto, retrai-se nos investimentos que tinha previsto, concretamente em relação à fábrica de Avanca, e o país conhece a entrada no mercado da Ben & Jerry’s, uma participada da Unilever a nível internacional que trabalha no segmento de gelados. A marca de atum Bom Petisco, respondendo ao novo contexto de mercado, alarga a sua penetração às lojas discount presentes em Portugal.

Nas bebidas, damos conta da intenção da Coca-Cola em reforçar o seu portfólio, nomeadamente comercializando mais gamas de produto, o que viria a ser confirmado em entrevista exclusiva pelo próprio director geral da companhia em Portugal, numa das edições seguintes da Hipersuper. A Unicer relançava Frutis Natura e a Sumolis divulgava o sucesso da operação no Brasil. Neste sector, contudo, a grande bomba é a aquisição da Allied Domecq por parte da Pernod Ricard, o que permite a esta última companhia ascender ao segundo posto na comercialização de bebidas espirituosas a nível mundial, atrás da Diageo. O negócio, ao qual houve vários candidatos, foi estimado em 11 mil milhões de euros. À semelhança do que se verifica a nível internacional, com esta compra a Pernod atinge igualmente o segundo posto no segmento em relação ao mercado nacional.

Também nas bebidas alcoólicas, mas desta feita mais “light”, dávamos conta das dificuldades da Drinkin no mercado cervejeiro, pois não conseguiu a implementação que tinha planeada para a cerveja Cintra, nomeadamente ao nível de quota de mercado, e também o facto de a Unicer, inversamente, bater o recorde de vendas em volume no conjunto das suas bebidas. A empresa fechou 2004 com mais de 700 milhões de litros colocados no mercado, confirmando-se a crescente importância de outras áreas que não a cerveja, concretamente as águas e os sumos, para além dos vinhos e do café, mas desta feita consistindo em negócios mais marginais. A facturação, em consequência, ascendeu aos 450 milhões de euros, revelou Ferreira de Oliveira, numa evolução de 6,3% face a 2003.

Ainda no mercado de bebidas, a Parmalat dava a conhecer o inovador Santàl TOP, um produto premium na área dos sumos e refrigerantes, e a Nestlé Waters entrava nas águas gaseificadas com sabor, confirmando o excelente desempenho deste segmento de mercado, ao qual todos os principais operadores acabaram por aderir. A Unicer e a Compal detinham já posições cimeiras, enquanto a Central de Cervejas também seguiria este caminho pouco depois, ainda que com um conceito um pouco mais “ligeiro”.

No sector vitivinícola, sabe-se que a Companhia das Lezíras não vai, afinal, ser privatizada, voltando novamente para tutela do ministério da Agricultura, e que o Icep estabeleceu uma parceria com a Viniportugal para consolidação da imagem dos vinhos nacionais nos mercados externos, num espírito de cooperação que parece ser cada vez mais necessário face à dificuldade de implementação dos vinhos portugueses, que aliás a Hipersuper testemunha noutro artigo que revela uma descida nas vendas de Vinho do Porto nos mercados externos.

Junho

Neste mês, o destaque da secção de Distribuição vai claramente para os activos da Sonae, não só devido à inauguração do hipermercado das Antas, com uma nova filosofia de loja que o grupo vai implementar nos seus grandes formatos, mas também pelo facto de os já líderes de mercado serem quem consegue mais licenças para construção de superfícies comerciais.

De facto, dados da Direcção-geral da Empresa estabelecem nesta altura um total de 252 autorizações, correspondentes a 260 mil metros quadrados de ABL (estão incluídas também as insígnias da área têxtil e vestuário) para novos projectos no âmbito do regime de licenciamento agora em vigor. Paralelamente, estima-se que, a nível imobiliário, os crescimentos se possam situar nos 25% até 2007, através da profusão de novos shoppings e conceitos complementares, como outlets e retail parks.

A Modelo Continente consegue a posição cimeira devido à forte aposta nas insígnias de retalho especializado, onde se reconhece haver ainda bastante espaço para crescimento. No total, o grupo consegue 86 licenças, enquanto o principal concorrente contabiliza, nesta fase, apenas 14, uma vez que está centrado na vertente alimentar. Aqui, o destaque recai sobre os conceitos de desconto, com 30 novas lojas para a Plus e 25 para a Lidl. O Carrefour confirma esta tendência, pois apresenta-se com 10 unidades para a cadeia Minipreço e apenas uma para o formato Carrefour.

Aliás, é bem visível a concentração nos médios formatos e no retalho especializado, em detrimento dos grandes hipermercados, para os quais se antevê menores perspectivas de crescimento, mesmo com base nas próprias estratégias dos operadores. A Auchan, todavia, pode abrir quatro hipers e ainda três lojas Box, enquanto os Mosqueteiros detêm 11 autorizações entre as suas marcas, por enquanto.

Entretanto, a Minipreço alarga sortido, justificando a inversão de estratégia dos conceitos de discount, hoje em dia mais preocupados em terem marcas de fabricante. Sabe-se igualmente que a Wal-Mart, líder na distribuição a nível mundial, pretende reforçar a sua posição no Brasil, onde se encontra a Modelo Continente. Nesta fase, porém, ainda não se fala da possível aquisição de activos aos portugueses, que tantos rumores vai gerar um pouco mais adiante neste exercício de 2005. José António Silva, presidente da CCP, afirma que o sector de comércio e serviços deverá perder 100 mil postos de trabalho nos próximos três anos, com base nas dificuldades sentidas no canal tradicional.

Ao mesmo tempo, a Nestlé dá à estampa os seus números de 2004, com uma facturação de 693 milhões de euros, em linha com o registado no ano anterior. Bruno Le Ciclé, novo presidente da companhia em Portugal, concede uma entrevista à Hipersuper em que analisa estes números de forma positiva tendo em atenção a contracção verificada no grande consumo. Crítico em relação a alguns aspectos legislativos, afirma também que a maior companhia de produtos alimentares a nível mundial vai basear a sua actuação na capacidade de inovação.

Nas bebidas, a Delta reafirma a sua intenção de reforçar a posição no mercado espanhol, com objectivo de chegar a uma quota de mercado de 15% no prazo de cinco anos. Nos lançamentos, destaca-se a Luso Fresh, a solução «ligeiramente gaseificada» da Central de Cervejas para um segmento em alta, como podemos também comprovar numa análise de mercado da mesma edição que dá conta de evoluções acima dos 100%. É a resposta à entrada de outros operadores neste mercado e ao reforço de quem já tinha produtos nesta área, como é o caso da apresentação, na mesma altura, do quinto sabor da Frize. A Fresh virá rapidamente a ter também sabores.

Na vertente alcoólica deste mercado, surge a Cristal Weiss para concorrer com a Bohemia, ainda que seja clara a intenção dos dois grandes operadores em concentrar toda a política de comunicação e inovação debaixo da umbrella das suas principais marcas. A Weiss surge assim um pouco fora deste contexto, mostrando que o restante portfólio também não é esquecido pelas empresas cervejeiras. Nos vinhos, um estudo da consultora DBK acentua o facto de as vendas de vinho português estarem a descer, tanto no mercado interno como a nível internacional.

Noutros sectores, a Itautec confirma à Hipersuper considerar Portugal um mercado prioritário, a partir do qual pretende lançar a sua expansão europeia, isto depois de ter apresentado interessantes novidades durante a Loja Inteligente, uma iniciativa da APED que decorreu durante a Alimentaria e que sintetizava as grandes inovações tecnológicas ao nível do ponto de venda. Alguns destes equipamentos estão já a ser implementados nas superfícies comerciais portuguesas, nomeadamente naquelas que inauguraram mais recentemente. Nos transportes, o grupo GLS atinge crescimentos de 10%, facturando 147 milhões de euros, enquanto na logística a Linde inaugura novas instalações em Alcochete, iniciando a representação directa no nosso país, o que significa uma presença mais activa.

Julho

A edição deste mês testemunha bastante agitação na Distribuição. A principal causa reside no facto de o Governo ter subido a taxa de IVA para 21%, o que deixa o sector à beira de uma crise de nervos. «O Governo é a única entidade que consegue resolver os seus problemas à custa do aumento de preços», ironiza o novo presidente da APED, sustentando que o cenário de contracção de consumo está a colocar cada vez mais pressão sobre o preço, e que este aumento é, do ponto de vista da Associação, um erro estratégico que traz claros prejuízos aos seus associados e aos portugueses em geral. A maioria dos grupos afirma que irá absorver o aumento na sua rentabilidade, não penalizando o consumidor pelo menos até final do ano.

Por outro lado, a notícia de que a Associação Nacional de Farmácias adquiriu a Alliance UniChemm, controlando assim 60% da distribuição grossista de medicamentos, perspectiva dificuldades no abastecimento das superfícies comerciais para o novo negócio que se adivinha. O “movimento de bastidores” da ANF, que custou cerca de 50 milhões de euros, é tanto mais curioso quando se sabe que falamos da segunda maior empresa grossista da Europa no ramo da Saúde.

A Distribuição sente-se ameaçada, e com razão, pois no final do ano, já liberalizado o negócio, começam os problemas de fornecimento, com alguns distribuidores a recusarem trabalhar com outros canais e as farmácias a pressionarem a indústria farmacêutica, ameaçando deixar de comprar aos laboratórios, os fármacos de venda livre … e os outros.

Particularmente importante foi também a aquisição de dez hipermercados controlados pela Sonae no Brasil por parte do Carrefour. Com a intenção de reforçar a sua posição face aos avanços da Wal-Mart, o grupo francês investiu neste acordo 105 milhões de euros, pagando a uma média bem superior ao normal do mercado brasileiro, concretamente em relação ao rácio perante as vendas dos activos negociados. Começa a ganhar consistência a ideia de que a Modelo Continente poderá estar vendedora no Brasil, mas os portugueses permanecem mudos quanto ao assunto, apenas adiantando que não recusam olhar para bons negócios.

Nesta mesma edição, é também publicado o ranking da Distribuição internacional relativo ao ano de 2004. Os norte-americanos da Wal-Mart, ainda que continuem muito baseados no mercado doméstico (80% das vendas), lideram claramente o panorama mundial, com uma facturação de 310 mil milhões de euros, quase três vezes mais do que o segundo classificado, precisamente os franceses do Carrefour, com volumes de negócios na ordem dos 113 mil milhões de euros. Para se ter uma ideia da dimensão destes operadores, bastará dizer que o mercado português, no seu conjunto, não chega a 10 mil milhões de euros.

Os holandeses da Ahold, apesar de todos os problemas dos últimos anos, mantêm o terceiro posto, seguidos do grupo Metro (detentores da Makro, por exemplo), da Tesco (Reino Unido) e da Kroger (USA). Das companhias também presentes em Portugal, e falando do top 20, a Auchan ocupa a 13ª posição, o grupo ITM (Intermarché) a 14ª e o Schwarz Group (Lidl) o posto seguinte. A Aldi, que entretanto irá iniciar movimentações em Portugal, é o 16º maior retalhista mundial.

Em termos de empresas, a Central de Cervejas reformula a sua imagem e passa a denominar-se Central de Cervejas e Bebidas, enquanto a Delta bate a concorrência na corrida ao fornecimento da Ibersol, que detém uma participação significativa do canal Horeca através das suas insígnias de restauração colectiva. A Unicer, enquanto lança a Pedras Levíssima, também ganha à Central a disputa pelo fornecimento exclusivo de cerveja, prolongando o contrato anterior e garantindo dessa forma a liderança de mercado.

Agosto

É divulgado o Barómetro AC Nielsen, documento que sintetiza todo o grande consumo anualmente. Sendo a principal referência a nível nacional para monitorização dos diferentes sectores, a consultora dá a conhecer números sobre os quais todos já tínhamos consciência. Com raras e honrosas excepções, o grande consumo encontra-se estagnado ou mesmo em recessão. As variações positivas, quer em volume quer em valor, são poucas em qualquer uma das grandes áreas: alimentar, bebidas, cuidado pessoal ou limpeza doméstica. Seria exaustivo estarmos aqui a pormenorizar a temática, num texto que já vai longo. De qualquer forma, a síntese do documento está publicada para todos os nossos leitores, pelo que deixamos apenas a ideia central que se pode aferir do Barómetro 2004: um cenário de contracção e dificuldades.

Apesar disso, a Distribuição continua animada. A Auchan entra no negócio da gasolina, inaugurando o primeiro posto de abastecimento e garantindo um preço cinco cêntimos inferior à referência do mercado, e pretende alargar o conceito a todas as unidades exploradas. A Netto consegue a sua primeira autorização, em virtude da publicação dos resultados da segunda fase de licenciamento, com todos os grupos a serem contemplados ao nível do aumento de autorizações concedidas, das quais falaremos mais à frente.

Entretanto, os operadores de desconto insurgem-se contra a DGE devido às alterações sobre a percentagem obrigatória de produtos nacionais incluídos nos sortidos das insígnias, o aumento do número de horas de formação e a percentagem de trabalhadores efectivos, aspectos que, segundo afirmaram, foram revistos sem aviso prévio aos operadores. A atribuição de licenças passa a ter em consideração que uma nota positiva dada aos retalhistas, dependerá, por exemplo, de a cadeia em causa ter 75% da facturação conseguida em produtos fabricados no país.

Também no desconto, mas desta feita a nível internacional, o grupo Jerónimo Martins fica a saber que vai contar com mais concorrência no projecto polaco, e oriunda nada mais nada menos do que do líder mundial Wal-Mart, que declara o seu interesse em alguns mercados de Leste, incluindo a Polónia. Já noutro ramo de actividade, a insígnia Aki confirma que irá investir 10 milhões de euros durante 2005 na abertura de mais duas unidades em Portugal, aumentando o parque para 16 superfícies.

Também no plano interno, a APED define o seu plano de actividades para o novo mandato, sessão durante a qual se fica a conhecer os valores pagos pelo sector da Distribuição à Unicre, calculados em 50 milhões de euros por ano. Um dos cadernos reivindicativos da Associação é precisamente dar seguimento à queixa já apresentada junto da Autoridade da Concorrência, face à posição de monopólio da Unicre. Entretanto, em Outubro surgirá um novo operador neste mercado.

Em termos de números, nesta edição damos conta dos resultados da Auchan e do Carrefour para o exercício de 2004. Ambos os operadores declaram crescimentos positivos, tanto a nível nacional como internacional, ao mesmo tempo que confirmam o interesse em investir, reforçando posições, eventualmente através do desenvolvimento de médios formatos, até agora não explorados em Portugal. A Auchan evoluiu 3,7% (facturação superior a mil milhões de euros), enquanto o Carrefour, com uma base mais pequena, conseguiu crescer 13% ao nível dos grandes formatos e 11,3% no global, ou seja, juntando a performance da Minipreço. Ao todo, são já quase 1,2 mil milhões de euros no País, divididos entre partes relativamente iguais pelos hipermercados e lojas de desconto.

Neste mês é também conhecido um estudo que prova os elevados índices de satisfação que a Distribuição assegura ao cliente final, liderando quase todos os índices por comparação com outras áreas de actividade tais como a Banca, Seguros, Comunicações, Telecomunicações móveis, Energia, etc. É a prova de que o trabalho está a ser consistente.

No sector alimentar, a corrida à Parmalat está cada vez mais ao rubro, mas qualquer negócio só será confirmado após a cotação bolsista da multinacional italiana. Por agora, fica a notícia de que a igualmente italiana Granolo é candidata à compra. O conjunto dos dois negócios controla 60% do sector no país, pelo que a solução tem também que passar pelo Governo.

Em Portugal, a United Biscuits, que detém a Triunfo e a Proalimentar depois de as ter adquirido à Nutrinveste, assegura estar disposta a investir no reforço da capacidade produtiva. E por falar em Nutrinveste, a empresa está cada vez mais apostada na área de gorduras alimentares (70% da sua facturação) e, para o efeito, adquire 80% da companhia East Coast Olive, nos EUA. A Holding Alco confirma assim a sua vontade de internacionalização.

Finalmente, o gigante sueco Ikea, ainda em fase de consolidação em Portugal após abertura da primeira unidade, afirma que vai estender a sua actividade à área alimentar, lançando uma marca própria em 2006. O processo, contudo, ainda está na esfera internacional, desconhecendo-se se irá ter sequência em Portugal. Este é, todavia, mais um sinal da crescente penetração dos distribuidores ao nível das suas marcas, sendo um dado importante a reter por parte da indústria, até porque falamos de um conceito especializado noutras matérias.

Nas bebidas, Juan Morales, director geral da Coca-Cola Portugal, confirma em entrevista à Hipersuper que a companhia pretende alargar portfólio às águas e sumos. Mais tarde, será uma das principais candidatas à aquisição da Compal, mas o grupo Sumol irá antecipar-se. A Pernod Ricard, por sua vez, é obrigada a alienar as marcas 1920, CR&F, Moet et Chandon e Don Perignon em função da aquisição da Allied Domecq, evitando a posição dominante no brandy e no champagne com que ficaria no mercado nacional. Aceitam-se candidaturas…

Entretanto, a Central de Cervejas e Bebidas está em força, lançando os primeiros sabores da Luso Fresh e redefinindo a sua política de exportação para o mercado francês, que será agora alvo de maior intensificação. O objectivo é duplicar as vendas no país, atingindo quatro milhões de litros em 2006.

Nos vinhos, a Sogevinus compra a J.W. Burmester ao grupo Amorim. A empresa, detida por capitais espanhóis, nomeadamente pelos galegos da Caixa Nova, igualmente proprietários das Caves Calém, passará assim de 15 para 20 milhões de euros em facturação. Dá-se ainda o regresso do vinho CR&F (Carvalho Ribeiro e Ferreira), aproveitando o capital de prestígio da aguardente com o mesmo nome. A marca já tinha tido referências tintas há mais de dez anos, as quais tinham sido descontinuadas.

Do ponto de vista oficial, o sector vitivinícola fica a saber que o Ministério da Agricultura dotou mais 35 milhões de euros para o programa VITIS, de reconversão e reestruturação de vinha. A designação Vintage, que o Vinho do Porto pretendia em regime de exclusividade, é também possível de ser atribuída a outros licorosos. Uma vez que a designação não é protegida a nível internacional, também não faria sentido que o fosse em termos internos, determinam as autoridades.

Setembro

Enquanto o grupo Jerónimo Martins continua a apresentar resultados «notáveis», desta feita relativos ao primeiro semestre do ano, a Wal-Mart pressiona a Sonae no sentido de adquirir os seus activos no Brasil. O negócio, calcula-se, poderá ascender a 800 milhões de euros, valor que contudo será pouco tempo depois revisto em baixa, passando para os 640 milhões. A Sonae adopta uma postura evasiva, como não poderia deixar de ser. A venda das 161 lojas pode ser por inteiro ou apenas parcial – recorde-se que meses antes foram vendidos dez hipermercados ao grupo Carrefour – e acontecerá caso se concretize uma proposta satisfatória. Nuno Jordão afirma que o interesse existe desde há quatro anos, o que só prova o sucesso da operação no país, mas apenas refere que o grupo ouvirá qualquer proposta concreta e decidirá em função da avaliação de rentabilidade que for feita. De qualquer forma, os valores de que se fala continuam acima do rácio médio para o mercado brasileiro, mas o administrador não se mostra muito convencido.

No que diz respeito a tipologia de loja, um estudo da Nielsen confirma a evolução do conceito de supermercados, uma vez que juntando dois segmentos que considera (de 400 a 999 e de 1.000 a 2.999 metros quadrados) o universo de lojas factura mais que os hipermercados, quando há dez anos atrás assim não acontecia. O recenseamento Nielsen confirma ainda o decréscimo no pequeno comércio, assinalando que em dez anos desapareceram cerca de 10.000 mercearias, a uma média, portanto, próxima dos 1.000 pontos de venda por exercício. Neste momento, existem cerca de 18.000 pontos de venda no canal dito tradicional.

Mas a grande bomba surge dos rumores sobre uma possível OPA hostil da Pepsi Co à Danone, situação muito mal vista pelo próprio Governo francês, que se apressa a fazer “oposição”. Segundo a Hipersuper apurou em Portugal, e para além das movimentações oficiais francesas no sentido de proteger uma das empresas mais queridas do país, ao longo dos tempos tem-se falado muito sobre a possibilidade de venda, mas a fonte contactada duvida que os rumores venham a ter sequência concreta. E a verdade é que, até final do ano, tudo continua na mesma.

No nosso estudo central damos conta da estagnação sentida no canal Horeca, ainda que a restauração moderna continue a evoluir de forma satisfatória. O sector passa por elevadas dificuldades, o que é ainda mais acentuado através do aumento do IVA. Felizmente, referem responsáveis sectoriais, o Governo recua na intenção de fazer desaparecer a taxa média de 12% aplicada ao sector.

Esta conjuntura, contudo, motiva a elaboração de um estudo por parte da Aresp (Associação dos Restaurantes e Similares de Portugal) que analisa o défice comparativo entre Portugal e Espanha, concluindo que este se situa nos 40%. Os resultados e consequências deste trabalho, bem como a quantificação do sector em ambos os países, são alvo de tratamento pormenorizado na nossa edição de Setembro.

Destaque ainda para a compra da marca Bushmills por parte da Diageo, por cerca de 280 milhões de euros, trazendo para a sua gama de whiskies o primeiro irlandês, e para as movimentações no mercado cervejeiro, após a compra do grupo colombiano Bavaria, antigo accionista da Central de Cervejas, por parte dos britânicos da SABmiiller. Em termos internos, merece realce o facto de a Super Bock ter referido nesta altura que bateu diversos recordes de vendas durante o ano, nomeadamente no Festival do Sudoeste, e para o reforço do projecto de internacionalização da Central de Cervejas, aproveitando o know how da Scottish & Newcastle, que detém 100% da empresa portuguesa. Esta última, aliás, que revelou novamente resultados positivos no primeiro semestre, para os quais muito contribuíram as novas referências Zer0% e especialmente a Bohemia, assinalou a administração.

Outubro

A APED divulga pela segunda vez o Ranking da Distribuição. Contas feitas, o sector evoluiu 7,3% em 2004, e isto num cenário de retracção de consumo e ainda sofrendo os bloqueamentos ao crescimento durante o período em análise. Tal como no ano anterior, a dinâmica deste universo empresarial fica bem explícita, calculando-se que tenha investido cerca de 200 milhões de euros no exercício em questão. Estes números, todavia, vão certamente sofrer uma aceleração em virtude do novo enquadramento legal, sendo já visíveis em 2005 e ainda mais em 2006, dado o timing necessário para implementação dos projectos.

Num sector que movimentou qualquer coisa como nove mil milhões de euros, confirma-se a liderança da Modelo Continente, com uma facturação de 2,2 mil milhões de euros. O segundo posto é ocupado pelo Jerónimo Martins (1,7 mil milhões de euros), seguindo-se os Mosqueteiros (1,3 mil milhões de euros), o Carrefour (1,1 milhões juntando os hipermercados e os Minipreço) e a Auchan, que factura números semelhantes com as suas 17 unidades. A Lidl, em valores estimados pela APED porque o grupo não divulga resultados locais, terá rondado os 900 milhões de euros, liderando o conceito de discount.

No retalho especializado, a primeira posição vai novamente para a Sonae, com a Worten a atingir cifras anuais de 380 milhões de euros, quase o dobro da Fnac, com 200 milhões. Office Centre, Aki, Sportz Zone, Ikea, Modalfa, Vobis e Max Mat ocupam, respectivamente, as posições seguintes. O El Corte Inglés, apesar de também serem consideradas as vendas alimentares, é aqui colocado pela APED, registando um volume de negócios de 275 milhões de euros, com apenas uma unidade de grande dimensão (loja de departamentos em Lisboa) e um supermercado Supercor (na Quinta da Beloura) em funcionamento. A abertura no Porto continua em perspectiva, adivinhando uma significativa subida no ranking por parte dos espanhóis.

Por número de lojas, a Dia Minipreço domina com 344 unidades, seguida da Pingo Doce, com 178, e da Lidl, já com 147 unidades. Neste particular, a Direcção-geral da Empresa divulga os resultados actualizados em Julho para novas autorizações, destacando-se outra vez a Sonae, muito particularmente através do número de atribuições para as insígnias de retalho especializado.

Nota-se, claramente, a pouca procura pelos grandes formatos em detrimento das lojas de média dimensão. Os discount são alvo de bastantes licenças (35 Plus, 33 Lidl e 21 Minipreço), num universo que junta nesta fase 344 licenças para novas superfícies comerciais entre os vários operadores. A APED analisa que a área de venda já viabilizada ao abrigo do novo regime represente cerca de 15% da actualmente instalada.

Esta é a altura em que, após meses de especulação, o Governo finalmente publica em Diário da República a portaria que autoriza a comercialização de medicamentos não sujeitos a receita médica e define as regras para o negócio. Uma boa notícia para a Distribuição, que todavia vem balizada com algumas precauções, concretamente em termos de ser necessário um espaço específico e a venda assistida, bem como diversos requisitos ao nível de armazenagem e conservação. De qualquer modo, está aberto um novo negócio para o sector, e as empresas começam desde logo a trabalhar nesse sentido.

Ainda no universo da Distribuição, publicamos os resultados da Modelo Continente, com um semestre novamente interessante e muito impulsionado pelo Brasil, de onde vêm notícias de que os valores que a Wal-Mart estará disposta a pagar pelos activos dos portugueses baixaram 160 milhões de euros, para uma oferta que poderia rondar os 640 milhões de euros. Isto face a um negócio que movimenta anualmente 1,47 mil milhões de euros em termos de vendas brutas e que finalmente está a dar resultados operacionais positivos.

A nível internacional, damos conta de algumas dificuldades da Tengelmann, do crescimento do El Corte Inglês, do Carrefour e também da Wal-Mart, que continua a esticar os seus “tentáculos”. No mercado nacional a Auchan declara estar a repensar a estratégia, até agora focalizada nas lojas de grandes dimensões. Os médios formatos são agora o caminho a seguir pelos franceses. Por outro lado, o grupo Jerónimo Martins atinge a simbólica fasquia dos 1.000 pontos de venda em funcionamento, para o que contribui decisivamente o enorme parque de lojas na Polónia, que já vai em 760 unidades. A Staples Office Centre, entretanto, dá a conhecer os seus planos de expansão, que prevêem o crescimento das actuais 18 para 40 lojas, no prazo de cinco anos.

Nas bebidas, destaque para o facto de a Bohemia ter atingido nove milhões de litros em vendas, volume conseguido em apenas cinco meses e que representava as expectativas da Central para o primeiro ano de actividade, e acima de tudo para o facto de a Cadbury Schweppes pretender alienar as unidades de produção e engarrafamento localizadas na Europa. Paralelamente, um estudo da consultora Mintel assinala o decréscimo das bebidas alcoólicas a nível mundial, por contraponto com o comportamento das restantes bebidas. Nalguns mercados, todavia, o segmento com álcool continua em alta, concretamente no Reino Unido.

No sector vitivinícola, o IVV refaz as suas previsões para a campanha 04/05, estimando uma quebra de produção na ordem dos 20%, com o Alentejo a ser particularmente penalizado. O mesmo se passa em Espanha, onde as autoridades oficiais calculam as quebras em 14%, pelo que a situação tem lugar a nível ibérico, relacionando-se directamente com as condições climatéricas que se fizeram sentir durante o exercício. Já na secção de Transportes e Logística, dá-se um negócio interessante com a compra da Exel por parte da Deutsche Post (equivalente aos CTT na Alemanha), enquanto a Nestlé coloca à venda o centro de distribuição de Alverca, com um preço base a rondar os 10 milhões de euros. A decisão tem por objectivo a concentração da operação logística em Avanca.

Novembro

As perdas no retalho europeu, seja por furto (interno ou externo) ou por ineficiências na cadeia, como por exemplo manuseamento indevido de produtos, ascendem aos 29 mil milhões de euros por ano, o que representa cerca de 1,25% do total da facturação do sector. O crime significa 75% deste universo, o que realça ainda mais a importância dos sistemas de segurança nas superfícies comerciais.

Nesta edição, damos a conhecer as principais conclusões de um estudo elaborado à escala comunitária, ao mesmo tempo que fazemos a análise da evolução do conceito de marcas do distribuidor em termos internacionais, o qual já representará cerca de 17% das vendas no grande consumo, ainda que se verifiquem diferenças assinaláveis entre regiões e entre as diferentes categorias de produto. De qualquer forma, é ponto assente que a marca própria veio para ficar, como aliás nos confidencia em grande entrevista Luís Vieira e Silva, presidente da APED. O responsável aborda todas as grandes temáticas do sector, num trabalho extenso ao qual aconselhamos a leitura pela abrangência dos assuntos abordados.

No mercado nacional, sabe-se que a Aldi fará mesmo a entrada no país em 2006, possuindo já um site na Internet bem como a localização para o centro de operações logísticas, tendo arrendado 20 mil metros quadrados no Logisparque, infra-estrutura que será construída a curto prazo no Montijo, concretamente em Maio de 2006. Ao mesmo tempo, a Tengelmann aposta forte no Sul do país, zona menos desenvolvida do ponto de vista da penetração dos conceitos de Distribuição, tendo obtido diversas licenças para a região, o que aliás também acontece junto do grupo Jerónimo Martins.

Por sua vez, tanto os Mosqueteiros como o Carrefour reforçam a intenção de virem a investir, neste último caso com António Baptista, director geral, a confidenciar à Hipersuper que os médios formatos serão uma realidade. Todavia, o grupo ainda não tem o modelo de loja completamente definido, razão pela qual também não dispõe qualquer autorização para médias superfícies. É certo, contudo, que irá reforçar a presença no país, como grupo de distribuição habituado a liderar os mercados em que opera. Quanto à Auchan, a notícia é que irá reforçar o seu “parque” de marcas próprias, o que aliás confirma em pleno a tendência generalizada a todos os operadores.

Damos ainda conta do projecto Dolce Vita, que irá construir uma zona comercial ainda maior que o Colombo. Falamos de uma ABL de 122 mil metros quadrados e um investimento superior a 200 milhões de euros por parte do grupo Amorim em associação com a Auchan, que ali terá um hipermercado. Espera-se que esteja concluído no segundo semestre de 2007, afirmam responsáveis pelo empreendimento.

Na fase de produção, a Sovena assume a liderança de mercado e alarga a gama Fula, pretendendo dinamizar um linear caracterizado por elevados índices de estagnação nos últimos anos, enquanto nas bebidas a Diageo assume frontalmente a intenção de apostar nos vinhos, como confidencia em entrevista o novo director geral, Pedro Nogueira.

Neste último sector, a Prime Drinks chega a acordo com a Aveleda para distribuição dos seus vinhos, reforçando a posição num segmento em que já havia crescido bastante no início do ano, em função da ligação à Finagra, proprietária da Herdade do Esporão. A revista Wine & Spirits, particularmente prestigiada no mundo vinícola, inclui quatro néctares nacionais entre os melhores vinhos de 2005, o que constitui sempre uma boa notícia.

Chegamos então a Dezembro, que por razões óbvias não iremos colocar nesta análise devido ao facto de muita da informação estar disponível nesta mesma edição. Todavia, merece especial relevo o surpreendente negócio celebrado entre o grupo Sumol e a Nutrinveste para venda da Compal. Perfilhavam-se diversos interessados, mas ninguém esperaria que fosse o grupo Sumol a avançar. Central de Cervejas, Unicer ou Coca-Cola eram apontados como os principais candidatos. Contudo, a Sumolis pôde contar com o apoio da Caixa Geral de Depósitos, que adquiriu 80% das acções, evitando que a Compal pudesse ser negociada até com outros operadores estrangeiros. O grupo Sumol tem agora cinco anos para comprar a participação da CGD ou então para encontrar um parceiro, que até poderá ser um dos anteriores interessados.

No final do ano, o sector de grande consumo sofre, portanto, uma interessante e surpreendente movimentação, deixando claro que neste mundo dos negócios e das empresas tudo pode acontecer. Talvez seja um prenúncio para um 2006 que se pretende particularmente animado e activo, e que a Hipersuper certamente vai continuar a acompanhar com a máxima atenção.