Editorial

Transparência

Por a 7 de Outubro de 2005 as 18:30

É com agrado que vejo continuidade na elaboração do Ranking APED, que de forma transparente e objectiva caracteriza detalhadamente os principais operadores do retalho português, com excepção da cadeia Lidl, da qual se continua a saber muito pouco. É uma iniciativa de louvar num país onde o “segredo” continua a ser a alma do negócio. E é também uma demonstração de credibilidade.

A capacidade de radiografar um sector e de o fazer de forma pública, através dos meios de comunicação social, só traz credibilidade. É um factor que gera confiança, elemento no qual o nosso país tem vindo sucessivamente a bater recordes negativos. Sempre estranhei, por exemplo, que a actividade estatística em Portugal, e concretamente a nível oficial, raramente apresentasse números actualizados. Será que conhecer a fundo e de forma actualizada o País não será o primeiro passo para a elaboração eficiente de políticas, incluindo a vertente macro da nossa Economia? Felizmente, têm sido dados passos muito positivos neste particular, mas o défice comparativo face a uma Europa que se conhece a si mesma é ainda assinalável.

Queixa-se o INE que a grande dificuldade é o facto de as respostas aos questionários enviados não chegarem com a celeridade pretendida. O grau de participação é, de facto, pouco elevado, bem como o detalhe informativo. A verdade é que as empresas continuam a ter muito que esconder. E nós, na actividade jornalística, sentimos isso na pele. As informações “confidenciais”, também apelidadas de estratégicas, contribuem para um obscurantismo que não me parece saudável, nem elemento de desenvolvimento da actividade.

Em Espanha, por exemplo, há muito maior abertura para publicação de dados financeiros sobre as empresas, sabem-se as quotas de mercado, fala-se mais abertamente de fusões e aquisições, etc. É claro que existem factores de ordem competitiva que devem ser salvaguardados. Mas a posição de mercado não me parece um deles. Em última análise, a ausência dessa informação pode até distorcer a saudável concorrência, pois nem todas as empresas têm possibilidade de comprar os estudos das consultoras que monitorizam os mercados, os quais também são vedados aos órgãos de informação para que não comprometam o negócio da sua venda.

O cenário, como o comprova o ranking que publicamos nesta edição ou a actuação de algumas companhias na divulgação dos seus resultados financeiros, tem vindo a mudar. Mas há ainda muito para fazer. Curiosamente, são precisamente os operadores que têm políticas mais abertas a este nível, nem que seja por serem obrigados por via da cotação bolsista, quem, regra geral, está melhor no mercado. A transparência, entre outros aspectos, gera confiança nos accionistas. Mas também o faz junto dos parceiros de negócio e do consumidor.

Geralmente, só as marcas de maior expressão comunicam com regularidade e precisão, enquanto as mais pequenas insistem em permanecer num limbo impenetrável. Este complexo de inferioridade limita a actividade dos jornalistas mas também o desenvolvimento do próprio mercado, pois a definição de estratégias de gestão será tanto melhor quanto mais apurada for a radiografia disponível ao sector em que se inserem os diferentes concorrentes.

É, acima de tudo, uma questão mentalidade. E Portugal continua a ter um universo empresarial demasiado fechado, muitas vezes voltado apenas sobre a realidade particular de cada unidade de negócio. O nosso propósito, enquanto revista profissional, é precisamente proporcionar aos operadores de mercado ferramentas de trabalho que permitam uma visão mais global do segmento em que se inserem. Revistas especializadas fortes são sinal de vitalidade do próprio sector. Para alcançar esse objectivo, a transparência e a interacção são absolutamente fundamentais.