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Vinho, sustentabilidade e mudança

Por a 24 de Setembro de 2021 as 17:17

David LacasaPor David Lacasa, partner da Lantern

Sabia que a garrafa de vinho é a que mais contribui na pegada de carbono na indústria vinícola? Mas será posssível mudar um elemento tão icónico e elementar para a qualidade do produto?

A sustentabilidade é uma preocupação cada vez maior nos consumidores e também das empresas. Reduzir a pegada de carbono do negócio é cada vez mais uma prioridade em muitas empresas e o mercado do vinho não é exceção.

As empresas vinícolas têm apostado em melhorar a sustentabilidade, principalmente nas áreas mais agrícolas do negócio. Cultivos mais responsáveis, menos produtos químicos, e maior aproveitamento dos resíduos são hoje práticas comuns na maior parte das adegas. Contudo, na área das embalagens, garrafas e modelos de distribuição, ainda há muito por fazer.

Olhemos para o passado, quando o vinho era vendido a granel e os nossos avós levavam as garrafas ou garrafões de vinho à loja para se reabastecerem. Isso é que era sustentável! Hoje, é verdade que seria muito mais complexo por muitos motivos, mais há opções interessantes para tentar mudar este negócio e em prole de um menor impacto no meio ambiente.

Nos Estados Unidos, a startup Gotham Project – qual Batman – está a tentar mudar o mundo do vinho. A sua proposta é muito interessante e poderosa: começa por eliminar, quase completamente, a garrafa não retornável da equação.

Gothan Project é uma empresa que comercializa vinho em barris para serem vendidos “on tap”, em torneira, como se fosse uma imperial. Até aqui, não há muita inovação.   Em países produtores de vinho tradicional, este sistema não é muito conhecido, mas noutros mercados, onde o vinho ao copo é mais habitual, é fácil ver estas torneiras nas barras dos bares e restaurantes. Este sistema de distribuição permite poupar as garrafas e reutilizar os barris do vinho durante muito tempo, tendo assim um impacto muito relevante na pegada de carbono da companhia.

Mas a startup tem uma ambição maior: mudar a maneira de transportar e distribuir o vinho. Para isso, está a importar o vinho da Europa para os EUA em contentores hermeticamente selados. Um destes contentores pode levar até 24 mil litros de vinho, o que em garrafas significaria precisar de três contentores, além do incremento no peso que as garrafas supõem.

Quando o contentor chega à unidade de engarrafamento para encher barris, latas e garrafas, estas últimas são garrafas retornáveis. A Gotham Project vende estes vinhos a bares e restaurantes em 40 estados. Tendo em conta o grande número de garrafas que ainda não são recicladas, podemos ter uma boa imagem do impacto que este movimento tem na sustentabilidade.

Os investigadores referem que a maior parte da pegada de carbono de uma garrafa de vinho provém da energia utilizada para fabricar essa garrafa, transportá-la para a adega e enchê-la, para depois a distribuir pelo mundo. O desafio é claro e também é urgente. A tecnologia já existe, não tem que ser inventada. O que realmente podemos mudar é o modelo de negócio e, sobretudo, a sua distribuição. A tarefa não é simples, mas deve ser feita. Quando começamos?

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