Futuro do grupo DIA em aberto
Uma Assembleia Geral de acionistas poderá aprovar no próximo mês um aumento de capital de 600 milhões de euros. Caso este não seja aprovado, a administração tem como plano B […]

Filipe Pacheco
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Uma Assembleia Geral de acionistas poderá aprovar no próximo mês um aumento de capital de 600 milhões de euros. Caso este não seja aprovado, a administração tem como plano B a venda de ativos fora de Espanha. O desfecho da OPA do fundo Letterone também será decisivoO futuro do grupo DIA poderá ficar traçado a 20 de março, data da realização de uma Assembleia Geral de acionistas, que tem como ponto fulcral a aprovação de um aumento de capital de 600 milhões de euros. Plano que não convenceu o principal acionista do DIA, o fundo Letterone do magnata russo Mikhail Fridman, que detém 29,1% da companhia, e que levou, a 5 de fevereiro, ao anúncio de uma OPA sobre os restantes 70,9% da companhia de retalho. O fundo já formalizou a OPA e apresentou documentação comprovativa de uma garantia de 296 milhões de euros.
A sobrevivência do grupo poderá estar dependente dos quinto e sexto dos oito pontos que estarão sob aprovação dos acionistas. Trata-se, no primeiro caso, da compensação de prejuízos e da redução de capital com o objetivo de restabelecer o equilíbrio e a estrutura patrimonial da empresa. A compensação de prejuízos, caso aprovada, será feita com recurso a 63,785 milhões de euros de reservas. O grupo DIA, em 2018, sofreu uma deterioração do seu desempenho nos mercados onde está presente, nomeadamente em Portugal, apresentando um prejuízo de 352 milhões de euros.
A companhia prevê ainda uma redução de capital de diminuição de capital de 56,02 milhões de euros, acompanhada por um aumento de 600 milhões de euros. A redução de capital será feita através da redução do valor nominal das ações de 0,10 euros para 0,01 euros. “O objetivo da redução de capital é compensar parcialmente as reservas negativas registadas” resultantes dos “resultados negativos de anos anteriores”, refere a companhia em comunicado com data de 17 de fevereiro.
A proposta de aumento de capital de 600 milhões de euros já era conhecida. E prevê o direito de subscrição preferencial dos acionistas, através da emissão de novas ações ordinárias. Apesar de o grupo ter conseguido junto da banca um refinanciamento da sua dívida, que lhe permite no curto prazo ter acesso a 215 milhões de euros, a sua sobrevivência está dependente do aumento de capital. Em janeiro, a agência Moody’s baixava a nota da cadeia de retalho, colocando-a perto da insolvência. Deixando claro que o grupo melhorou a sua liquidez a curto prazo, a agência de notação financeira não deixou de dar nota de que “o sucesso do aumento de capital é fundamental para estabilizar a empresa”.
Da parte da administração, o aumento de capital é considerado “essencial para reforçar a estrutura de capital do grupo e a única solução realista para restabelecer o equilíbrio patrimonial e para cumprir todos os compromissos assumidos pelo grupo”.
Venda de lojas fora de Espanha
Os planos da administração do grupo DIA, porém, sofreram novos desenvolvimentos quando foi noticiado pela imprensa espanhola que, no caso de o aumento de capital falhar, a companhia prevê alienar as suas lojas fora de Espanha. Para tal, o grupo já mandatou vários bancos para averiguarem o interesse do negócio no Brasil e em outras geografias. Não está colocado assim de parte que outras empresas de retalho europeias lancem uma oferta ao negócio do dono do Minipreço.
O plano do grupo DIA, que no dia da apresentação dos resultados anuais de 2018, anunciou a intenção de despedir 2.100 funcionários em Espanha, não convenceu, no entanto, o fundo Letterone. Já em dezembro fora noticiada a discordância do Letterone relativamente ao plano de recuperação apresentado pela administração liderada por Borja de la Cierva e à intenção de fazer um aumento de capital de 600 milhões de euros. O maior acionista da companhia de retalho sustenta a necessidade da “elaboração de um plano de sustentabilidade de longo prazo para a empresa” e a realização de “importantes investimentos para revitalizar a empresa”.
Esta discordância conduziu ao lançamento da OPA, com uma oferta de 0,67 euros por ação, o que representou, à data, um prémio de 56,1% sobre o preço das ações no fecho do mercado a 4 de fevereiro. O acionista assumiu ainda o compromisso de concretizar um aumento de capital de 500 milhões de euros e um plano que produza uma reviravolta no negócio nos próximos cinco anos.
Letterone: DIA não acompanhou as tendências de mercado
A sustentar a incapacidade para a gestão dar a volta ao fraco desempenho do grupo, o fundo luxemburguês argumenta que o DIA não acompanhou as tendências mais relevantes para os clientes, apresentou um desempenho inferior à sua concorrência e perdeu quota de mercado, sobretudo em Espanha. Factos que, segundo o maior acionista do grupo, conduziram à danificação da imagem da companhia.
A deterioração do desempenho operacional do grupo começou a notar-se em 2017. Tendo descido os resultados líquidos em 38% para os 109,6 milhões de euros e com o EBITDA ajustado a cair 8,9% para os 586,6 milhões de euros, Ricardo Currás, então CEO da companhia de retalho, assumia que 2017 foi o primeiro ano em que não foram alcançados os objetivos do grupo desde 2011.
O cenário piorou no decorrer de 2018, depois de, em outubro, o DIA ter revisto em baixa os seus resultados. Devido à queda do volume de vendas, a companhia informou o mercado que o EBITDA ajustado previsto para 2018 se situaria entre os 350 e os 400 milhões de euros, uma descida significativa em relação aos 568 milhões registados em 2017. Além disso, a companhia decidiu cancelar o pagamento de dividendos. Esta revisão em baixa conduziu, na altura, a uma desvalorização de 40% das ações do grupo.
Os sinais da perda de competitividade do grupo já eram, porém, evidentes no primeiro semestre de 2018. A vendas brutas por insígnia desceram 9,2% para os 4.600 milhões de euros. As vendas líquidas sofreram um declínio de 10,3% para os 3.795,9 milhões de euros. As vendas líquidas em Portugal baixaram 4,9% e em Espanha 4,5%. A quebra de vendas no mercado brasileiro foi significativa, recuando 16,2%. Já a Argentina, fruto dos efeitos cambiais adversos, sofreu um recuo de 42,3%. Os resultados líquidos ajustados desceram assim 38,2% para os 66,9 milhões de euros, enquanto o EBITDA ajustado recuou 19,1% para os 225,7 milhões de euros.
Grupo com capitais próprios negativos
Os resultados negativos surgiram no final do exercício de 2018, quando o grupo anunciou prejuízos de 352,6 milhões de euros e capitais próprios negativos de 166,1 milhões de euros. Já a dívida líquida situa-se nos 1.452 milhões de euros. A evolução do valor das ações desde 2018 também dá uma noção da desvalorização da companhia no último ano. A 2 de Janeiro de 2018, o preço de cada ação do grupo era de 4,40 euros. A 18 fevereiro deste ano, cada ação estava avaliada em 0,64 euros.
Face ao atual cenário do grupo, o fundo Letterone considera que o plano de recapitalização de 600 milhões de euros não “tem em conta os desafios fundamentais em termos de estratégia, de liderança e de estrutura de capital que o DIA enfrenta e expõe os acionistas do grupo ao risco de diluição significativa sem uma estrutura de capital de longo prazo viável”. O fundo do magnata russo Mikhail Fridman apresenta assim um plano assente em seis pilares, que passam por uma nova proposta de valor em termos comerciais, uma redefinição dos preços e promoções, o recrutamento de uma nova rede de liderança, uma melhoria na execução das operações de retalho e o investimento na marca e em marketing.
Redução de lojas e aposta em produtos de marca própria
O número de lojas em Portugal evoluiu, em 2018, de 559 para 532, o que significa o encerramento de 27. Já em Espanha abriram 62 novas lojas e encerraram 85. A companhia fechou 2018 com 1.200 lojas da Clarel e da Max Descuento em Espanha. Em Portugal fechou o ano com 35 lojas da Clarel. No relatório e contas do grupo DIA, tanto a Max Descuento como a Clarel surgem como operações descontinuadas, depois da companhia ter mandato vários bancos para vender a Clarel e do Max Descuento. A venda das duas insígnias faz parte do seu plano de refinanciamento. Com a venda do Max Descuento, a empresa pretende ter um encaixe de 50 milhões de euros. Com a rede de perfumarias Clarel, entre 100 a 150 milhões de euros.
Com estas alienações e o plano estratégico até 2023 á traçado, a atual administração do grupo DIA pretende fazer uma renovação estruturada do grupo. O que passa pela transformação da oferta comercial tendo em vista colocar a qualidade, os preços competitivos e a proximidade como elementos cruciais da oferta. No capítulo dos produtos de marca própria, a estratégia passa por reforçar a aposta nos produtos com a insígnia do DIA, “potenciando a oferta de produtos frescos mais competitivos com promoções personalizadas e uma racionalização do sortido focada nas necessidades dos clientes”.
Em cima da mesa está também um despedimento coletivo nas empresas DIA e Twins, que afetará até 2.100 empregos em Espanha. E, entretanto, a administração mandatou a PwC para procurar compradores para 300 lojas que o grupo pretende encerrar.
Com a realização de uma Assembleia Geral de acionistas no próximo mês e havendo como plano B, caso não seja possível o reforço de capital de 600 milhões de euros, a alienação de ativos fora de Espanha, nomeadamente em Portugal, o futuro do grupo continua em aberto. Futuro que passa também pelo sucesso, ou não, da OPA lançada pelo fundo LetterOne.