Cerveja, o novo negócio da China
A China é o primeiro mercado de exportação das cervejas do Super Bock Group. No caso da Sociedade Central de Cervejas, o país asiático já o segundo maior importador. A prioridade das grandes cervejeiras nacionais é consolidar a sua posição na China e nos mercados europeus onde estão presentes

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A China é o primeiro mercado de exportação das cervejas do Super Bock Group. No caso da Sociedade Central de Cervejas, o país asiático já o segundo maior importador. A prioridade das grandes cervejeiras nacionais é consolidar a sua posição na China e nos mercados europeus onde estão presentes
Os chineses estão em modo energético no país, investindo e com intenção de investir ainda mais. Portugal está a exportar em força para a China. No caso, cerveja. O volume de exportação cervejeira aumentou consideravelmente em 2017. E a China é já dos principais mercados a absorver a produção do Super Bock Group e da Sociedade Central de Cervejas (SCC). O setor cervejeiro produziu para o exterior 1900 milhares de hectolitros de cerveja, um aumento de 16,5% face a 2016, segundo dados dos Cervejeiros de Portugal.
Bruno Albuquerque, diretor de marketing de cervejas do Super Bock Group, avança que a China é, neste momento, o principal mercado de exportação da empresa. Mais, refere que “é um mercado para o qual temos grandes ambições”. Mas não especifica quais. A comercialização da cerveja portuguesa naquele território foi iniciada em 2009, canalizada para unidades hoteleiras e restaurantes. Informação avançada, no início de 2017, por Rui Lopes Ferreira, presidente executivo do grupo que detém a marca Super Bock.
Da parte da Sociedade Central de Cervejas, o país asiático tem também uma expressão considerável nas exportações da empresa. Mas a Suíça é o país que compra mais cerveja à SCC. “As exportações significaram em 2017 cerca de 12% do volume global de vendas de cerveja, com destaque para o mercado chinês que já é o nosso segundo destino”, adianta Nuno Pinto Magalhães, diretor de comunicação e de relações institucionais da SCC. Para a China, a empresa “exportou seis milhões de litros em 2017”, detalha.
Apesar de a China ser o principal país para onde o grupo que detém a Super Bock exporta cerveja, Bruno Albuquerque adianta que é “ainda no continente europeu que realizamos o maior volume de vendas, nomeadamente em França, na Suíça, no Reino Unido e em Espanha”.
O mercado chinês, como adiantou à imprensa Rui Lopes Ferreira no final de 2017, representa 40% das exportações da empresa e tem um peso de 10% nas receitas totais da empresa. Globalmente, “a componente exportadora representa aproximadamente 30% da receita global do Super Bock Group”, afirma Bruno Albuquerque. Estando a comercializar cerveja para mais de 50 países, o responsável adianta que a estratégia internacional da empresa em 2018 passa por “ter operações sustentadas nos mercados externos para os quais exportamos e atribuir à marca Super Bock uma maior relevância nos países que estabelecemos como prioritários”.
Luxemburgo, Inglaterra e Estados Unidos são, da parte da SCC, mercados que têm grande relevância na estratégia exportadora da empresa, como indica Nuno Pinto Magalhães. A empresa de cervejas está, no entanto, a querer reforçar a sua posição exportadora, através da entrada em “novos mercados e de sinergias com a rede de distribuição internacional do Grupo Heineken”, acrescenta o responsável, não concretizando. No mercado angolano, que passou a ser considerado produção local, as expetativas são otimistas para 2018. “No âmbito dos nove meses de 2017 de efetividade de produção de Sagres em Angola, suportado pelo Trade Mark License Agreement com a empresa local Sodiba, a Sagres vendeu 11 milhões de litros. As vendas dos dois primeiros meses do ano corrente foram positivas e a expectativa é no ano de 2018 duplicar o volume de 2017”, adianta Nuno Pinto Magalhães. Já o Super Bock Group continua com o projeto de construção de uma fábrica em Angola suspenso. “Não há factos novos face ao que já avançamos sobre este mercado, estando a nossa estratégia de internacionalização direcionada para outros países”, refere o diretor de marketing do Super Bock Group.
Má Primavera para o setor das bebidas
O arranque da Primavera não foi famoso para o setor das bebidas. As condições climatéricas adversas, com frio persistente nos meses de março e de abril, afetaram as vendas. Dados da Nielsen indicam que a categoria de bebidas sofreu uma quebra de vendas de 3,2% no período que abrangeu a última semana de março e as três primeiras semanas de abril. As vendas de cervejas não ficaram imunes a esse decréscimo.
A expetativa, no entanto, é que eventos como o Mundial de Futebol que se inicia a 14 de junho, na Rússia, impulsionem o consumo de cerveja e compensem a quebra de receitas homóloga dos últimos dois meses. “Os dois primeiros meses do ano seguiram a tendência do ano anterior, mas março e abril, atendendo as condições climatéricas, foram meses muito desfavoráveis. No entanto, a nossa expectativa continua positiva, contando com boas condições climatéricas, a manutenção do nível de turistas e do nível de confiança económica dos consumidores associado a eventos como o Mundial de Futebol na Rússia”, refere Nuno Pinto Magalhães.
O fluxo turístico no país, o clima quente vindouro e a recuperação económica dos portugueses também fazem o Super Bock Group estar otimista quanto à evolução das vendas da empresa até ao final do ano. “Estamos a entrar no período mais importante para as nossas vendas”, refere o diretor de marketing da empresa, realçando também o Mundial de Futebol como fator determinante para impulsionar as vendas. Mas há ainda os festivais de música, onde o grupo aposta forte em patrocínios. “Vamos estar em todos os pontos de contacto com as nossas marcas, seja com comunicação e ativações, o que contribuirá para alavancar a nossa presença e um expectável retorno em termos de vendas”, afirma.
Deixando as estimativas de lado e fazendo uma análise ao desempenho das empresas do setor em 2017, a conclusão é que este foi um ano favorável para os produtores de cerveja. A produção subiu 8,9% para 6.994 milhares de hectolitros em 2017 (ver infografia). O consumo cresceu 7,4% para 5.251 milhares de litros. No canal horeca, as estimativas apontam para 69% do consumo, segundo dados dos Cervejeiros de Portugal. “Em 2017 a SCC vendeu de cerveja, para o mercado interno, cerca de 240 milhões de litros”, adianta Nuno Pinto Magalhães, acrescentando que “no caso específico do nosso portefólio as nossas vendas cresceram cerca de 6%”. Este valor está em linha com o crescimento das vendas do setor. O valor do mercado cervejeiro em 2017 está estimado em 1.105 milhões de euros, mais seis por cento em comparação com 2016, segundo dados da Nielsen. O volume cresceu 5% para 349 milhões de litros.
O responsável da SCC atribuiu o crescimento das vendas ao ambiente económico favorável e ao crescente número de estrangeiros que visitam Portugal. “Têm sido muito relevantes, pois cria-se uma dinâmica de maior consumo. Note-se que o consumo de cerveja em 2017 atingiu os 51 litros per capita em comparação com os 47 litros do ano anterior, embora ainda aquém dos 61 litros atingidos em 2009 antes do início da crise”, explica o responsável.
O Super Bock Group não revela dados de vendas nem de quota de mercado. Mas Bruno Albuquerque faz um balanço muito positivo ao ano de 2017. “Globalmente conseguirmos consolidar a liderança em valor e em volume no mercado cervejeiro nacional, que tem mostrado uma tendência de estabilidade nos últimos anos”, realça. Albuquerque garante que o Super Bock Group tem dado “um contributo determinante para a dinâmica que se verifica no setor e, sobretudo, no canal horeca”, elencando vários fatores para o bom desempenho da empresa no ano transato. “Este continua a ser o nosso principal canal de comercialização e, naturalmente, é o que mais beneficiou do fluxo turístico que existe em Portugal, do clima quente que se fez sentir em 2017 e, sobretudo, da recuperação do nível de confiança dos portugueses”.
A cerveja catalã Estrella Damm, que entrou em Portugal em 2012 através de uma parceria com a Sumol Compal, tem perspetivas de crescimento em 2018, em Portugal, a ritmo acelerado, à semelhança do sucedido no ano anterior. É o que garante Elsa Cerqueira, marketing manager da Estrella Damm. Citando dados da Nielsen, a responsável pelo marketing da cerveja avança que o mercado cervejeiro teve um crescimento homólogo, em volume, de cerca de 0,6% no primeiro trimestre do ano. Quanto a canal horeca, Elsa Cerqueira informa que houve uma desaceleração de 2,6% em volume. “A marca Estrella Damm continua a apresentar uma performance positiva tanto a nível global como no canal horeca mais especificamente. Cresce a um ritmo várias vezes superior ao ritmo do mercado”, garante. A responsável atribui ainda o incremento das vendas ao bom desempenho da economia e ao crescimento do setor do turismo. A julgar pela dinâmica atual da economia e turismo, a responsável acredita que a cerveja espanhola “está a sedimentar o seu posicionamento premium no mercado”. “Estrella Damm tem apresentado crescimentos muito acima da média do mercado e prevemos assim continuar em 2018”, reforça.
Há cervejas, no entanto, mais imunes aos aspetos conjunturais da economia, mas que não deixam que beneficiar do aumento da confiança dos consumidores. A DCNBeers, responsável pela importação de cervejas como Erdinger, Petrus, La Trappe e Duvel, tem vindo a beneficiar sobretudo da mudança do perfil dos consumidores de cerveja. “O consumidor trocou a quantidade pela qualidade. Esta mudança na forma como vemos a cerveja, implica menos litros mas maior rentabilidade do sector. O facto de o preço médio do produto ser mais elevado torna o sector cervejeiro mais apetecível e consequentemente mais dinâmico”, refere Rita Agrelos, responsável pelo marketing da empresa. A distribuição das cervejas comercializadas pela empresa teve um peso de 55% no canal horeca. “A nossa líder de vendas foi novamente a Erdinger Weissbier, marca que cada vez mais está implementada no nosso país. O número de hectolitros vendidos, traduz um produto de nicho, mas com grande aceitação por parte dos consumidores portugueses”. No caso da DCNBeers, o crescimento da economia reflete-se sobretudo no desempenho das vendas no canal horeca. “Um produto de nicho para um segmento médio, médio-alto, é sempre menos sensível à economia nacional, quando nos referimos ao consumidor final, mais precisamente ao canal off trade. As vendas nas grandes superfícies têm vindo a crescer. No entanto, um clima económico favorável traduz-se em maior confiança e consequentemente abertura de novos negócios, nomeadamente no sector da restauração”, conclui.