Michel-Éduoard Leclerc, Presidente do grupo E.Leclerc
“Podemos chegar aos 8% de quota de mercado” Presente em Portugal há 13 anos, o grupo Leclerc definiu recentemente uma nova estratégia para o mercado nacional. Para 2008 estão previstos […]

Victor Jorge
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“Podemos chegar aos 8% de quota de mercado”
Presente em Portugal há 13 anos, o grupo Leclerc definiu recentemente uma nova estratégia para o mercado nacional. Para 2008 estão previstos investimentos de 70 milhões de euros e a abertura de quatro novas lojas.
Aproveitando a presença do presidente do grupo e responsável pela operação do Leclerc na Europa na reunião quinquenal realizada em Lisboa, Michel-Éduoard Leclerc revelou ao Hipersuper que pretende continuar a crescer a duplo digito e atingir uma quota de mercado superior a 8%. Para tal, a aposta passa pela “introdução de novos produtos de marcas próprias, bem como por uma focagem significativa no preço”, salientou Michel-Éduoard Leclerc.
Hipersuper (H): O mercado da distribuição alimentar em Portugal está a crescer entre 1 e 3% ao ano. O grupo E.Leclerc Portugal anunciou, recentemente, um crescimento de 14% para o ano 2008. Como vai atingir este objectivo?
Michél-Éduoard Leclerc (MEL): Em primeiro lugar, temos de ter a noção de que o grupo Leclerc possui uma dimensão muito reduzida no mercado português. Por isso, é normal que estejamos a prever uma taxa de crescimento maior do que o mercado e os nossos concorrentes.
Esta previsão de crescimento tem como suporte fundamental a expansão da nossa superfície comercial com a abertura de várias lojas, bem como uma aposta significativa nas nossas marcas próprias.
Actualmente com 19 lojas, detemos 3% de quota de mercado. Com base na estratégia que iremos implementar a partir de agora, penso que podemos chegar aos 8% de quota de mercado num futuro próximo. Este crescimento, além da expansão já referida da superfície comercial e aberturas de lojas, assentará, também, na grande notoriedade e confiança dos consumidores para com a nossa insígnia.
Temos constatado que muitos dos consumidores portugueses já conhecem o Leclerc pela actividade do grupo em França, não possuindo, contudo, a mesma imagem de preço em Portugal.
Assim, para nos tornarmos num operador credível no mercado português, a nossa estratégia terá de passar pela implementação, em Portugal, da mesma imagem de preço que desenvolvemos no mercado francês, assente na abertura de lojas e reforço do poder de negociação junto dos fornecedores.
H: Mas o que distingue o grupo Leclerc da restante concorrência existente no mercado português?
MEL: O preço. Esse é nossa máxima e obsessão. Apesar de ainda não apresentarmos, face à nossa concorrência, uma diferença significativa no que diz respeito ao preço, os consumidores começam a perceber a filosofia e política de preços do grupo Leclerc.
Um factor que nos tem ajudado bastante na afirmação do grupo no mercado português, ajudando-nos a passar essa imagem de preço, tem sido a abertura de estações de combustível junto das nossas lojas.
Além disso, o grupo Leclerc beneficia, desde o ano passado, de um centro logístico novo, permitindo-nos ter uma estratégia de diversidade de produtos e preço constante mais competitiva.
A Central de Compras e Logística [localizada em Oliveira do Bairo] realiza 95% das compras para os hipermercados em Portugal, assegurando, em média, 75% dos aprovisionamentos. O restante é comprado directamente pelas lojas que têm a possibilidade de assim adaptar as compras às especificidades de consumo de cada região e colaborar com fornecedores locais.
Paralelamente, o grupo Leclerc irá desenvolver brevemente uma política de marca própria que permitirá fidelizar o consumidor à insígnia Leclerc.
Abrir a baixo custo
H: No plano de expansão anunciado recentemente, a preferência do Leclerc vai para a abertura de hipers ou supermercados?
MEL: O objectivo é abrir supermercados dentro de galerias ou centros comerciais e hipermercados independentes, encontrando-se esta estratégia sempre dependente da localização da respectiva loja.
Não queremos standarizar o nosso formato, acreditando que os nossos formatos terão de ser evolutivos. Todos as lojas são financiadas pelos respectivos proprietários. É sempre uma aventura iniciar a própria empresa. Se a Sonae, por exemplo, quer abrir 10 hipermercados de 10 mil m2, a direcção financeira do grupo dá ou não o OK.
No caso do grupo Leclerc, cada empresário proprietário de loja que decide qual a dimensão da loja a abrir, avançando em função da sua capacidade financeira. Entendemos que se trata de um projecto de vida e a nossa motivação é a mesma do empresário que decide entrar em parceria com o grupo Leclerc. Por isso, a dimensão de qualquer loja terá de estar ajustada à capacidade financeira e de gestão do empresário, bem como ao objectivo patrimonial.
H: E a preferência vai para a abertura de lojas em grandes centro urbanos ou para centros habitacionais de menor dimensão?
MEL: A nossa prioridade, para um grupo ainda jovem no mercado português, é abrir lojas onde o preço do terreno a adquirir, construção e exploração seja o mais baixo possível.
No entanto, se surgir a oportunidade de adquirir um terreno e abrir uma loja no centro de um grande centro urbano, naturalmente que o faremos, mas a nossa preferência vai para a realização de investimento pouco elevados.
Assim, e prevendo a nossa capacidade financeira futura, não excluo a realização de grandes investimentos no que diz respeito à abertura de lojas.
H: Mas quem decide que o Leclerc vai abrir um hiper ou supermercado em determinada localidade?
MEL: Caberá ao empresário e futuro parceiro do E.Leclerc realizar os estudos de mercado necessários para decidir a localização do seu investimento e da loja que pretende abrir. O grupo Leclerc, naturalmente, analisará a proposta apresentada em todas as suas vertentes, decidindo se o investimento será rentável ou não.
A mais-valia dos combustíveis
H: Actualmente, o mercado tem registado um aumento contínuo dos preços dos combustíveis, bem como das matérias-primas, afectando os bens alimentares. É pela conjugação da oferta de loja alimentar, com forte aposta na marca própria, associada a uma estação de serviço de combustível que o Leclerc pretende crescer no mercado nacional?
MEL: Actualmente, qualquer insígnia afirma que é a mais barata e a diferença poderá ser feita precisamente pela associação do negócio de retalho aos combustíveis. Os resultados da performance de preço nos combustíveis é imediata. Por isso, a venda de combustíveis mais baratos ajuda-nos a transmitir uma imagem de preço.
Além da imagem que se transmite ao consumidor, também o próprio negócio da loja associada à estação de serviço regista um crescimento devido ao tráfego gerado. É uma mais-valia para todos: operador de retalho, estação de serviço e, principalmente para o consumidor.
H: As notícias mais recentes dão conta de que os consumidores portugueses, devido ao contínuo aumento de preços, estão a canalizar as suas compras para os discount. Como é que o Leclerc irá combater esta realidade?
MEL: Constatamos que não é por causa do desenvolvimento do discount que o Leclerc não irá expandir-se. Tanto o Leclerc como os operadores de discount estão em crescimento. No entanto, compreendemos que, dada a situação actual, é normal que os operadores de discount estejam a registar um crescimento.
Em meu entender, o discount constitui uma forte ameaça, não para os restantes operadores do retalho alimentar, ou seja, para os hiper e supermercados, mas para o comércio tradicional. Esta ameaça é feita pela oferta agressiva de preço, pelo que o discount está a roubar quota ao comércio tradicional.
Os hiper e supermercados têm, contudo, a vantagem de conseguir oferecer ao consumidor maior diversidade de produtos e serviços que o discount.
Os operadores da distribuição moderna irão afirmar-se, no futuro, não só pela sua pluralidade e diversidade de oferta, mas pelos serviços disponibilizados ao consumidor, como, por exemplo, proximidade, Internet, venda por correspondência, conveniência e preço.
O Leclerc trabalho hoje sob uma estratégia multi-canal, onde o hipermercado é o elo principal. Mas além da loja física, temos de oferecemos mais-valias aos consumidores.
Um dos conceitos que estamos a colocar em prática, sendo que a primeira experiência está a ser realizada na cidade francesa de Toulouse, passa pela abertura de um Express-Drive, no qual o consumidor faz as suas compras pela Internet, mas em vez de haver um serviço de entrega ao domicílio, é o próprio consumidor que vai buscar as suas compras à loja onde estas já estão devidamente acondicionadas e prontas a levar.
H: Mas não seria preferível efectuar entregas ao domicílio. Não será este o serviço que o consumidor quer e exige?
MEL: Mas a entrega ao domicílio acarreta custos muito elevados à operação do retalhista. Imagine o que é atravessar Lisboa entre as 9 e 11 da manhã ou entre as 18 e 20 horas. Seria uma operação quase impossível de realizar, equivalendo os custos quase ao preço de uma viagem de táxi por cliente.
Não é através das entregas ao domicílio que o Leclerc pretende fidelizar o consumidor, mas sim através da oferta de uma gama de produtos variada, bem como, fundamentalmente, pelo preço.
H: O Leclerc possui marca própria?
MEL: Sim, naturalmente que possui marca própria. Actualmente, não existirá nenhum retalhista que não possua marca própria.
H: E a marca própria do Leclerc em Portugal é importada ou recorrem à produção nacional?
MEL: Cerca de 80% dos produtos de marca própria à venda nas lojas Leclerc em Portugal são de fornecedores portugueses. Naturalmente que existem produtos de marca própria importados de França, mas a maioria é de produção portuguesa.
Actualmente, temos duas marcas próprias – Éco+ e Guia – cuja gestão é feita pela Scamark Ibérica. A nível global, estas duas marcas possibilitam uma poupança média entre 15 a 20% no orçamento de compras do consumidor.
Entre 2006 e 2007, o volume total das marcas próprias do E.Leclerc subiu 64%, de 5.500 para 8.500 milhões de euros, tendo sido introduzidas, entre 2005 e 2007, cerca de 600 produtos. Para 2008, prevemos introduzir mais 100 novos produtos sob as nossas marcas próprias. A marca própria Guia abrange cerca de 2.200 produtos, enquanto a Éco+ conta com mais de 500 produtos.
Mas exportamos, igualmente, produtos de fornecedores portugueses para as nossas marcas próprias à venda nas lojas em França, não só alimentares, como também não alimentares, com especial destaque para a vidraria.
Distribuição Homogeneizada
H: Como responsável pela operação europeia do grupo Leclerc, quais as maiores diferenças entre a distribuição moderna em Portugal e nos restantes países europeus onde o Leclerc desenvolve o seu negócio?
MEL: O mercado português, tal como o francês, possui um grande domínio da componente alimentar dentro das lojas do retalho alimentar. No entanto, essa diferença está a diminuir.
Em Portugal verifica-se que não existe uma grande preocupação relativamente à origem do produto alimentar, tratando-se de um mercado extremamente liberal no que diz respeito às importações.
Quando comparamos Portugal com França, verificamos que no mercado francês existe uma grande resistência aos produtos importados.
O mercado da distribuição português está, actualmente, a evoluir e a acompanhar os restantes mercados europeus. Hoje, é a oferta que cria a procura. Uma multinacional quando traça a sua estratégia, não a define país a país, mas sim para a globalidade do mercado europeu. Existe uma homogeneização do mercado.
H: Em Portugal tem-se debatido, desde há algum tempo, a abertura das grandes superfícies aos domingos e feriados à tarde. A actual legislação teve alguma influência na estratégia definida pelo Leclerc para o mercado português?
MEL: Não, de maneira nenhuma. Se passar a ser autorizada a abertura das grandes superfícies aos domingos e feriados à tarde, penso que isto não representará um grande aumento das vendas dos operadores de retalho em Portugal.
Julgo que irá notar-se mais uma transferência das compras por parte dos consumidores dos dias de semana para esses dias, do que propriamente um aumento das vendas aos domingos e feriados à tarde.
O que irá de certeza verificar-se é um aumento dos custos por parte dos operadores, ou seja, os operadores irão ter um aumento dos custos com os salários, bem como com toda a operação inerente à abertura de um espaço comercial.
H: Qual a posição do Leclerc em relação a esta realidade?
MEL: Ao que tudo indica, Portugal vai mudar essa lei. Ainda recentemente tivemos com o secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor, Fernando Serrasqueiro, e ele colocou a mesma questão.
A lei é igual para todos. Evidentemente, que os operadores com lojas até 2.000 m2 não quererão que as grandes superfícies [com mais de 2.000 m2] sejam autorizadas a abrir aos domingos e feriados à tarde, mas a lei não está feita para um conceito em exclusivo.
Em meu entender, não se trata de um problema económico, mas sim social e político. Deverá ser a sociedade portuguesa a escolher se as grandes superfícies deverão estar abertas aos domingos e feriados à tarde.