IA poupa em média uma hora aos trabalhadores mas receio do futuro persiste
Quase três quartos dos utilizadores afirmam que a aplicação de IA no trabalho tornou-os mais produtivos. Mas apenas um quarto refere ter concluído a formação sobre como utilizar IA.
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O inquérito ‘Global Workforce of the Future 2024’, realizado pelo Grupo Adecco a 35 mil trabalhadores, em 27 da economias mundiais, incluindo Portugal, capta os primeiros sinais de ganhos de eficiência proporcionados pela Inteligência Artificial (IA).
Revelou que a poupança média de tempo para os trabalhadores que utilizam IA é de uma hora por dia, embora um quinto dos utilizadores afirme que a tecnologia lhes permite poupar até duas horas diárias. Em contrapartida, 5% dos inquiridos referem poupar entre três e quatro horas por dia.
A utilização de IA “está a poupar aos trabalhadores, em média, uma hora por dia, permitindo-lhes dedicar mais tempo a tarefas criativas, a pensar de forma mais estratégica ou a alcançar um melhor equilíbrio entre a vida profissional e pessoal”, conclui o inquérito sobre como trabalhar em tempos de mudança.
Trabalho criativo e pensamento estratégico
As poupanças de tempo parecem ser consistentes entre os diferentes setores. Os trabalhadores nos setores da energia, utilities e clean technology foram os que pouparam mais tempo, 75 minutos por dia, enquanto os do setor aeroespacial e de defesa foram os que apresentaram as menores poupanças, com 52 minutos por dia. Os trabalhadores na área da tecnologia pouparam, em média, 66 minutos diários, os dos serviços financeiros 57 minutos, e os da indústria transformadora 62 minutos por dia.
O inquérito sugere que o tempo poupado está a ser utilizado para acrescentar mais valor, com 28% dos utilizadores a afirmarem que utilizam o tempo extra para trabalho mais criativo, 26% dizem que a IA lhes permite dedicar mais tempo ao pensamento estratégico e 27% referem que a IA os ajudou a alcançar um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. “No entanto, há indícios de que o tempo poupado graças à IA nem sempre é usado de forma produtiva, com 23% dos utilizadores a afirmarem que continuam a lidar com o mesmo volume de trabalho e 21% a referirem que estão a gastar mais tempo em atividades pessoais”, revela ainda o estudo, citado pelo Grupo Adecco.
Trabalhadores: futuro incerto?
Os trabalhadores estão cada vez mais preocupados com um futuro incerto, sendo as condições económicas e a segurança no emprego as principais prioridades. Embora mais colaboradores estejam a optar por permanecer com os seus atuais empregadores, o impacto da IA na estabilidade do emprego tem sido largamente subestimado no último ano: 13% dos trabalhadores afirmaram ter perdido o seu emprego devido à IA, indica o estudo. Se 40% expressa preocupações quanto à segurança do emprego a longo prazo, 83% afirma que tenciona permanecer na sua atual entidade patronal.
No entanto, a perspetiva sobre os efeitos perturbadores da IA torna-se mais equilibrada quando se analisam outros aspetos, por exemplo, 51% dos trabalhadores concordam que as competências em IA aumentam as suas oportunidades de emprego e 46% dizem que a IA lhes deu mais oportunidades para aprenderem novas competências e progredirem nas suas carreiras.
Poucos estão preparados
Ainda segundo o estudo, atualmente, apenas 11% dos trabalhadores estão preparados para o futuro, ou seja, são indivíduos que se destacam pela sua adaptabilidade, flexibilidade nos planos de carreira e abordagem proativa à aquisição de novas competências. Dentro deste grupo de trabalhadores, o inquérito revelou que 93% recebem um plano de desenvolvimento personalizado, em comparação com 51% da força de trabalho em geral. Além disso, 95% destes trabalhadores preparados para o futuro participam em ações de formação em liderança proporcionadas pelas suas empresas, em comparação com apenas 57% da restante força de trabalho.
“Atualmente, 76% dos trabalhadores acreditam que as empresas devem priorizar a formação dos colaboradores existentes para diferentes funções dentro da organização antes de contratarem externamente, um aumento de 12 pontos percentuais desde 2023. No entanto, apenas 9% planeiam permanecer nas suas empresas para serem requalificados, uma queda de 7 pontos percentuais em relação ao ano anterior”, destaca ainda.
40% sofreram burnout
Outra questão levantada pelo estudo refere-se à saúde e ao bem-estar. “Cuidar da saúde mental dos trabalhadores deve ser uma prioridade, e as empresas devem responder às preocupações de que a IA possa favorecer determinados grupos de trabalhadores, demonstrando um compromisso com a inclusão e práticas de trabalho sustentáveis”, indica. Nos últimos 12 meses, 40% dos trabalhadores sofreram burnout, devido a excesso de trabalho, um número que sobe para 62% entre aqueles que estão preocupados com o impacto da IA e foram negativamente afetados por ela.
Menos de metade dos trabalhadores confia nas competências e conhecimentos dos seus líderes em IA (46%). Mais de três quartos valorizam a experiência humana de um recrutador (76%), que consegue ver o seu potencial para além das suas competências e experiência, um aumento face aos 64% do ano passado.