Yvan Mendes, marketing manager Terra Nostra, em entrevista ao Hipersuper
Terra Nostra: “A nossa ambição é sermos a marca de laticínios mais sustentável do mundo”
A Terra Nostra, marca do grupo BEL Portugal, reforçou o compromisso para com a sustentabilidade ao redesenhar as embalagens da sua gama de produtos. Às diversas soluções apresentadas em 2023, junta-se agora a nova embalagem Eco-Design, assente nos princípios da sustentabilidade de ‘Recusar, Reduzir e Reciclar’. “Nós somos pioneiros e estamos sempre à procura do que a indústria tem para nos dar”, sublinha Yvan Mendes, marketing manager Terra Nostra, em entrevista ao Hipersuper.
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A Terra Nostra, marca do grupo BEL Portugal, reforçou o compromisso para com a sustentabilidade ao redesenhar as embalagens da sua gama de produtos. Às diversas soluções apresentadas em 2023, junta-se agora a nova embalagem Eco-Design, assente nos princípios da sustentabilidade de ‘Recusar, Reduzir e Reciclar’. “Nós somos pioneiros e estamos sempre à procura do que a indústria tem para nos dar”, sublinha Yvan Mendes, marketing manager Terra Nostra, em entrevista ao Hipersuper.
A decisão de adotar embalagens Eco-Design na gama do queijo de pastagem fatias significou a redução dos materiais usados para a sua produção e a eliminação de outros, como os separadores. Em apenas um dos produtos da gama vai poupar, ao planeta, 20 toneladas de material de embalagem por ano, revela também Yvan Mendes.
Que medidas de sustentabilidade estão em vigor na empresa como um todo?
Atualmente temos várias medidas de sustentabilidade ao abrigo do Programa Leite Vacas Felizes, temos o projeto piloto de agricultura regenerativa, temos os 365 dias de pastagem com uma pegada carbónica cerca de 30% abaixo das vacas estabuladas.
Temos medidas de sustentabilidade ao nível do packaging. No leite de pastagem estamos a falar de menos 2.8 toneladas de plástico por cada milhão vendido no ano passado. Com a incorporação de 35% de material reciclado temos uma poupança de quatro toneladas de plástico virgem.
Na Terra Nostra manteiga houve menos 1.3 toneladas/ano de papel não reciclável, menos 2.6 toneladas/ano de alumínio e 4% a menos de consumo de materiais face ao ano anterior. A icónica Bola Inteira era embalada num papel celofane e passou a ser embalada num papel compostável.
E agora com o programa do ‘Eco-Design’, por exemplo, nas embalagens de queijo de pastagem original fatias, reduzimos em 35% o seu tamanho e retiramos o que não era preciso, como os separadores. Isso poupa 20 toneladas de material de embalagem por ano no planeta: o tamanho de uma baleia azul. Já no queijo de pastagem fatias Light, os separadores, que não podem ser retirados, são compostáveis.
Toda esta abrangência de sustentabilidade tanto da marca, quanto do Grupo, é transversal.
Como assentam nos princípios de sustentabilidade de ‘Recusar, Reduzir e Reciclar’, as novas embalagens ‘Eco-Design’ foram projetadas para a circularidade?
Sim. ‘Recusar’ é olharmos para o nosso projeto de embalagem e perguntarmos: o que posso recusar daqui? Recusamos, por exemplo, os separadores. ‘Reduzir’ passa por diminuir o tamanho da embalagem, o espaço que está lá dentro, o máximo possível. ‘Reciclar’, porquê? Porque, por exemplo, ao serem compostáveis, acabam por voltar a regenerar. Por outro lado, ao serem recicladas estão aptas a serem transformadas em mono material.
Referiu a compostagem. Como surgiu essa preocupação?
A nossa ambição é sermos a marca de laticínios mais sustentável do mundo. Nós somos pioneiros e estamos sempre à procura do que a indústria tem para nos dar. Não abdicamos da segurança alimentar, esse é o nosso foco. Mas aquilo que nos é permitido fazer a nível mundial, no pioneirismo de embalagens, nos programas, nós fazemos. Foi o que fizemos com o Programa Leite Vacas Felizes, em 2015. Desenhado por nós, foi o primeiro programa nacional em parceria, auditado externamente, e de que temos muito orgulho. É essa a nossa filosofia: querer sempre marcar no rumo da sustentabilidade. Não é vender apenas queijos, é ser a marca de laticínios mais sustentável do mundo.
O que têm de sustentável e de inovador, as embalagens ‘Eco-Design’?
Inovador é olhar para a embalagem e recusar o que não é necessário. Retirar coisas que aprendermos serem boas para o consumidor, mas que neste momento não são necessárias, como os separadores no queijo de fatias Original. Inovadora é a redução de tamanho e serem prontas para reciclar. Todas as embalagens.
Quando começaram a projetar estas embalagens e o que foi preciso para chegarem a estas soluções?
São projetos que demoram. Estamos a falar de segurança alimentar, que é a nossa prioridade número um. Juntamente com o sabor. Demoramos cerca de dois a três anos neste projeto específico. A nossa equipa de desenvolvimento na fábrica fez todos os testes e fizemos também um teste ao consumidor entre a nova embalagem e a anterior. A nova embalagem foi melhor avaliada em todas as suas características e também na comunicação do caminho que a marca estava a fazer em termos de sustentabilidade.
Há uma atenção à forma de comunicar essas alterações ao consumidor?
A Terra Nostra é marca co-líder de queijo, em conjunto com a Limiano. O que fizemos foi trazer a informação para a nossa embalagem. Na frente da embalagem está explicado o que é o ‘Eco-Design’ com informação sobre a redução de materiais. No caso do fatias Original, por exemplo, diz ‘menos 35% de materiais de embalagem e menos 20 toneladas por ano no nosso planeta’. Depois, tem uma chamada de atenção para quem quiser saber mais, e que poderá ir ao nosso site. A embalagem de leite explica que é neutra em carbono, as outras embalagens dos outros queijos fatiados explicam também porque são ‘Eco-Design’.
Lançamos uma campanha de comunicação sobre este novo projeto de embalagens da marca, no ponto de venda, em meios de imprensa, junto de influenciadores, para explicar ao consumidor o que é isto do ‘Eco-Design’.
O investimento nestas novas embalagens, sustentáveis, será constante?
Há um investimento tanto na comunicação do propósito do que estamos a fazer, quanto na procura de novas embalagens. Este é um caminho constante, estamos já a trabalhar nas embalagens do futuro em conjunto com outros parceiros. No ano passado fizemos um concurso com a ESAD para tentar encontrar a embalagem do futuro. Surgiram propostas e estamos a trabalhar nelas, com os nossos fornecedores e também com a academia.
Referiu na divulgação das ‘Eco-Design’, que “as embalagens são um dos maiores desafios da indústria alimentar”. Quais são exatamente os desafios no uso de embalagens sustentáveis?
O mais difícil é encontrar uma embalagem que promova, que garanta a segurança alimentar dos nossos produtos e que aderece aquilo que o planeta efetivamente precisa: reduzir o plástico de uma única utilização. E ter os nossos plásticos monomaterial, o mais prontos possível para reciclar. Esses são grandes desafios de toda a indústria e que nós – ao trabalharmos com vários parceiros e vendo tudo o que se passa à volta – gostaríamos de ultrapassar.
Não existe, a nível mundial, uma embalagem selada, para fatias, que consiga ter segurança alimentar e seja compostável ou biodegradável. As fatias estão dentro de uma embalagem, com uma atmosfera protetora, que tem de selar porque se houver um mínimo de fuga corre o risco de criar bolores. E essa é a dificuldade: como vamos encontrar um material compostável que promova a segurança daquele produto que não tem uma proteção, uma casca, e que o leve ao consumidor. A solução que encontrámos atualmente é reduzir o plástico no que pudermos e prepará-lo para ser reciclado. É, neste momento, a nossa forma de proteger o ambiente. Quando houver outra, estaremos cá, de braços aberto.
Quais são os objetivos de sustentabilidade da Terra Nostra a médio e longo prazo? Há projetos relacionados que esta questão?
Os lançamentos que estão programados para a Terra Nostra serão com base na dualidade de sustentabilidade e sabor. Não vamos fazer lançamentos que sejam só de sabor. A forma como nós vemos a marca é com esta dualidade. E mais lhe digo: a sustentabilidade no Grupo BEL é tão importante que nós temos uma ferramenta, o Bellow Carbon 2, com a qual medimos a pegada carbónica, ao produto, desde o prado até ao prato. E conseguimos saber como estamos a performar de acordo com os nossos targets, que estão em linha com a Acordo de Paris. Quando lançamos um produto, não vemos apenas a parte financeira, verificamos o impacto que tem no planeta. E só se estiver ‘ok’ em ambas as partes, é que avançamos. Isto porque na nossa companhia, a sustentabilidade está dentro do pilar financeiro. A nossa Head de Sustentabilidade reporta diretamente ao nosso diretor geral.
Estamos neste momento a monitorizar a pegada de carbono dos nossos produtores e a propor ações corretivas à luz do Programa Leite Vacas Felizes.
Há um grande investimento da BEL nas nossas fábricas: desde 2022 temos 100% de energia verde. Teremos novidades, no final do ano, na fábrica da Ribeira Grande, nos Açores. Um grande investimento que vai reduzir drasticamente as nossas emissões de carbono.
Os quatro pilares de sustentabilidade do Programa Leite Vacas Felizes
A Bel Portugal lançou em 2015 um programa de sustentabilidade que acabou por ter com forte impacto na produção açoriana de laticínios. O Programa Leite de Vacas Felizes diferencia a origem Açores ao criar um negócio sustentável num trabalho de cooperação que juntou o grupo a produtores de leite Terra Nostra, como explica Yvan Mendes.
Como surgiu o Programa Leite Vacas Felizes?
Criamos um programa com mais de 200 critérios, mas temos de recuar a 2015. A economia açoriana dependia em 30% do setor dos laticínios. A Terra Nostra existia, na altura, há 60 anos e vimos um negócio cansado, de baixo valor. Fomos ter com os nossos produtores e dissemos: “vamos montar uma parceria assente em quatro pilares de ‘fazer o bem’ e isso implica esforço, investimento, mas vamos ajudar-vos”.
Fazer o bem aos animais significa que as vacas estão 365 dias na pastagem. Fazer o bem aos produtores: recompensamo-los por isso, com 5% a 10% a mais do que a média do preço do leite da Ilha de São Miguel. Fazer o bem ao planeta: a pastagem emite menos carbono. Por último, fazer o bem às pessoas: porque elas vão entender o bem que daí tiram, estes são os produtos naturais dos Açores, não têm nada a mais além dos ingredientes base – leite é leite, manteiga é manteiga, queijo é queijo.
O programa evoluiu. No início lançamos uma categoria com esta filosofia, o leite de pastagem, e agora já temos toda a marca, todos os leites, o queijo de pastagem, tudo vem 100% dos nossos 140 produtores.
No início estavam reticentes, porque estamos a falar de negócios de gerações. Mas fomos conquistando a confiança deles e eles viram que ao investirem, ao perceberem a felicidade que é fazer este processo em toda a cadeia, viram que estão a valorizar os seus animais, os seus terrenos e o seu negócio. E no final, o consumidor valoriza mais os produtos dos Açores.
Foi percetível uma mudança no sabor dos produtos?
Sim, o sabor é diferente, tem características organoléticas também diferentes. A pastagem é única.
Foi um programa pioneiro?
Sim. Foi o primeiro programa em Portugal ‘desenhado’ por várias universidades, nos Açores e no continente, em conjunto com a Sair da Casca, com veterinários, com associações de agricultores nos Açores, com agências de comunicação. Nós não sabíamos nada e fomos aprender com as pessoas para criarmos o melhor programa possível. Que agora já nem é apenas de bem-estar animal, agora até é de agricultura regenerativa.
Começamos em 2015 e em 2017 conseguimos ter produtores suficientes para lançar o leite de pastagem. Em 2021 conseguimos ter a adesão dos 140 produtores e lançamos o queijo de pastagem. Agora, temos toda a marca. Pelo meio, fomos incorrendo em outras novidades, como o lançamento, em 2020, da gama Bio, em agricultura regenerativa com um grupo piloto de produtores. A nossa ambição é ter toda a área de produção em modo agricultura regenerativa em 2030.
O programa vai ser mantido?
É um programa para manter. É a base de tudo aquilo que a Terra Nostra faz.
Esta entrevista faz parte da edição 422.