José Miguel Almeida (Adega Cooperativa de Vidigueira) e Luis Gradíssimo (Enóphilo Wine Fest)
Adega da Vidigueira quer colocar vinho de talha na mesa dos portugueses e dos restaurantes
A Adega da Vidigueira juntou-se ao enófilo Luis Gradíssimo, fundador do Enóphilo Wine Fest, para organizar o evento “Talha à mesa” que vai ter lugar entre 23 e 24 de março, na primeira semana da primavera, nas instalações da Adega da Vidigueira, assim como em vinhas centenárias da região.
Rita Gonçalves
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A Adega da Vidigueira juntou-se ao enófilo Luis Gradíssimo, fundador do Enóphilo Wine Fest, para organizar o evento “Talha à mesa” que vai ter lugar entre 23 e 24 de março, na primeira semana da primavera, nas instalações da adega, assim como em vinhas centenárias da região. Elevar o papel do vinho de talha na gastronomia portuguesa é o grande propósito da iniciativa.
“Iniciámos a produção de vinho de talha em 2017 com o objetivo de preservar este legado cultural da região de Vidigueira, o coração da produção de vinho de talha”, disse José Miguel Almeida, presidente da Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito, por ocasião da apresentação da primeira edição deste evento que decorreu ontem (20 de fevereiro) no restaurante Áurea, liderado pelo chef Pedro Mendes, que se associou ao evento e irá criar um menu de degustação.
“Está na hora de elevar o papel do vinho de talha na gastronomia portuguesa e posicioná-lo num segmento premium, como um vinho por excelência para a harmonização com comida, principalmente neste momento importante no qual se aprovou a inscrição no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (INPCI) da Produção de Vinho de Talha”, vinca.
O vinho de talha é para esta adega com 63 anos de vida uma aposta mais simbólica do que racional. A região do Alentejo produz anualmente cerca de 120 mil litros de vinho de talha certificados, valor que compara com os cerca de 90 milhões de litros produzidos na região. Dada a pequena quantidade produzida, a aposta no vinho da talha serve dois propósitos principais, explica José Miguel Almeida, preservar a sua simbologia e ajudar a elevar o enoturismo, uma forte aposta da adega nos últimos anos.
Luis Gradíssimo lembra que, até há bem pouco tempo, o vinho de talha nem sequer era engarrafado. “Trazer o vinho de talha para a mesa é por isso o melhor palco que lhe podemos dar”, afirma, sublinhando que além, do chef Pedro Mendes, a organização convidou mais dois ligados ao mundo vitivínicola para criarem menus que combinem harmoniosamente com os vinhos oriundos das talhas neste evento de dia e meio: o chef José Júlio Vintém, de Portalegre, que lidera a cozinha do Tombalobos, no Parque Natural da Serra de S. Mamede, e João Mourato, também de Portalegre, chef no restaurante da Quinta do Quetzal desde 2016.
Além das refeições criadas por cada um dos chefs, o programa inclui showcookings nas vinhas centenárias e na adega, masterclasses e um bar dedicado exclusivamente a vinhos de talha, onde os visitantes poderão provar uma lista de diferentes produtores alentejanos.
As atividades podem ser compradas individualmente com valores que variam entre 10 a 65 euros. Os bilhetes estão à venda na Ticketline e no site da adega e os lugares são limitados [refeições 100 lugares, showcookings (15) e masterclasses (20)].
Sabedoria milenar
Desenvolvido pelos romanos e trazido para Portugal há dois mil anos, o vinho de talha é uma tradição no Alentejo, região que tem sabido preservar este processo de vinificação tradicional que esteve em risco de extinção.
Esta técnica de fazer vinho em grandes vasilhas de barro, talhas ou ânforas foi sobrevivendo ao passar dos séculos e quer disputar atualmente um lugar à mesa dos portugueses. Há cada vez mais produtores a apostar nesta técnica de fermentação feita 100% em talha de barro, cada um inserindo as suas variações, consoante a tradição local e o gosto pessoal.
A Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito mantém-se fiel ao processo mais tradicional: o vinho é feito da forma mais artesanal e manual possível.
Segundo dados de 2018/19, citados pela adega, a produção de vinho de talha “mantém-se ativa” em diversos concelhos alentejanos, como Aljustrel, Beja, Campo Maior, Cuba, Elvas, Estremoz, Marvão, Mora, Moura, Serpa e Vidigueira, estando identificados 134 produtores.
A produção de vinho de talha foi inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. O despacho, assinado pela subdiretora-geral do Património Cultural, Rita Jerónimo, foi publicado, em dezembro de 2023, em Diário da República. O pedido de inscrição foi proposto pela Câmara Municipal de Vidigueira. A autarquia encetou trabalho de investigação para aprofundar o conhecimento sobre a produção de vinho de talha com o objetivo de inventariação e posterior candidatura a Património Imaterial da Humanidade, explica a adega.
No despacho, é destacada “a importância de que se reveste esta manifestação do património cultural imaterial enquanto reflexo da identidade da comunidade envolvente e a sua profundidade histórica e evidente relação com outras práticas inerentes à comunidade”,
Segundo a Direção-Geral do Património Cultural, “esta transmissão e saber-fazer têm permitido a preservação das adegas de construção tradicional, das talhas de barro, dos recipientes e utensílios, assim como, dos processos culturais que, atualmente, se constituem como património cultural e identitário daquelas comunidades”. O processo encontra-se em fase de consulta.