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“Evoluímos enquanto marca mas mantemo-nos fiéis às tradições e aos nossos valores”

Por a 4 de Setembro de 2023 as 17:30

A Couto faz 105 anos e o Hipersuper conversou com Alexandra Matos Gomes da Silva, administradora da histórica empresa portuguesa.

Foi em 1918 que Alberto Ferreira Couto e Alfredo Barbeitos Flores juntaram forças e tomaram conta do negócio da farmácia Higiénica, criando assim a Farmácia Flores e Couto, que em 1931 passaria a apenas para Couto, a marca que acompanha os portugueses há gerações.
A Couto continuou na família, passando para o sobrinho do fundador, Alberto Gomes da Silva em 1974, que começou a trabalhar na linha de montagem da fábrica e foi crescendo e aprendendo, para se tornar o líder de uma das marcas nacionais mais icónicas do século XX, com a sua bisnaga preta e amarela de pasta dentífrica ou o famoso Restaurador Olex, que passaram a ser presença assídua na casa (e na memória) dos portugueses.
Hoje, com mais de um século, continua na família, liderada por Alexandra Matos Gomes da Silva, após o desaparecimento do seu marido Alberto Gomes da Silva, em maio deste ano, sobrinho do criador da Pasta Medicinal Couto.
Com os olhos postos no futuro, a Couto continua a inovar e lançar novos produtos, crescendo sem nunca perder a sua identidade e design retro que caracterizam os produtos.
Além da loja online, a Couto tem uma loja física, situada na Rua de Cedofeita, no Porto, que foi inaugurada no dia em que a história marca celebrou o 100.º aniversário. Premiada pela Associação Portuguesa de Museologia, na categoria “Inovação e Criatividade”, a loja Couto obteve também uma Menção Honrosa na categoria “Marketing e Merchandising Cultural” pelas mãos da mesma associação.
Para comemorar o centésimo quinto aniversário, a Couto acaba de lançar um novo sabonete e um coffret comemorativo dos 105 anos, com a icónica pasta dentífrica com flúor, uma embalagem de vaselina pura, um creme hidratante e o novo sabonete e que estão, como todos os produtos da marca, disponíveis em drogarias e retalhistas por todo o país e na loja online.

105 anos. Olhando para a história qual o balanço que faz?
A nossa história começou em 1918, e desde então que Portugal e o mundo mudaram muito. Felizmente, conseguimos acompanhar essas mudanças e evoluir no que nos parece ser a direção certa. Evoluímos enquanto marca, mas mantemo-nos fiéis às tradições e aos nossos valores, crescemos sem desvirtuar quem somos. E isso é algo de que todos nos orgulhamos muito e que muito devemos ao nosso administrador Alberto Gomes da Silva, que liderou a empresa desde 1974, e faleceu no passado dia 7 de maio.
Os lançamentos da Pasta Dentífrica Couto e da gama Olex foram momentos muito marcantes para a empresa, pois foram os produtos que mais impacto tiveram durante bastantes anos. Em 2016, a minha entrada na empresa coincidiu com o regresso da Drª Cláudia França, a nossa diretora técnica e com total apoio do nosso administrador, começaram a surgir novos produtos e a Couto ganhou um novo fôlego.
A abertura da loja física, no centésimo aniversário da Couto em 2018, foi também um momento muito importante, pois não só comemorámos os 100 anos da marca, como abrimos esta loja que é quase como um “minimuseu”, que conta a nossa história através do design, dos produtos e maquinaria antiga que temos em exposição.

Com mais de um século a marca continua na mesma família depois de uma recuperação. Atualmente qual o posicionamento e ambição?
A nossa maior ambição é continuar a seguir o legado da família, inovando, claro, e apresentando novos produtos, mas sempre com a nossa história e os nossos valores em primeiro plano. Somos uma empresa bem portuguesa, que privilegia a qualidade e se mantém fiel à sua identidade única.

A marca faz parte da memória e da história de todos nós. Sentem essa ligação emocional com os portugueses?
Não só sentimos essa ligação, como temos muito respeito por ela e mantê-la é uma grande responsabilidade. Talvez por sermos uma marca nacional e tradicional, com uma longa história e uma presença marcante em várias gerações de portugueses, sentimos que há um grande carinho pela marca, e estamos muito gratos por isso. Mas mais que gratidão, sentimos a responsabilidade desse legado, de estar à altura da confiança e das expectativas dos portugueses e dos nossos clientes (nacionais e internacionais).
Sabemos que o nosso design tem um impacto muito positivo, pelos elementos vintage e muito portugueses (muito inspirado nos azulejos nacionais e na estética dos nossos cartazes publicitários), que trazem de volta as memórias de várias gerações. É um elo emocional muito forte que estimamos e, por mais inovadores que queiramos ser para acompanhar os tempos, este ponto nunca é esquecido.

Alexandra Matos Gomes da Silva lidera a histórica empresa portuguesa Couto

Alexandra Matos Gomes da Silva lidera a histórica empresa portuguesa Couto

105 anos é sempre uma data especial. Algum lançamento novo para assinalar?
É, de facto, uma data muito especial e, por isso, lançámos dois novos produtos para comemorar: um novo sabonete comemorativo dos 105 anos da Couto, enriquecido com Óleo de Amêndoas Doces e um coffret especial com a nova Pasta Dentífrica Couto com Flúor, vaselina pura, creme hidratante e o novo sabonete.

Num mercado tão concorrencial como é que a Couto faz a diferença? Inovar é o caminho?
O facto de a marca ter acompanhado gerações de portugueses cria uma relação forte com os consumidores que nos distingue de muitas outras marcas. Além disso, penso que, antes mesmo da inovação, a nossa preferência por produtos nacionais e o cuidado em certificarmo-nos que os nossos produtos são formulados de forma que todos possam usufruir, é também um ponto que nos distingue. O nosso visual vintage e a qualidade dos nossos produtos fabricados de forma semi-artesanal são também fatores diferenciadores.

Qual o grande desafio no contexto económico e social em que vivemos?
Sem dúvida que o recente aumento do preço dos transportes e matérias-primas tem sido um desafio e penso que, sendo transversal a toda a indústria, muitas outras empresas estarão a passar pelo mesmo.

Hoje a empresa tem quantos funcionários e como funciona? Tem também uma loja física…
A Couto, neste momento, tem uma fábrica em Gaia e uma loja física na Rua de Cedofeita, no Porto. Somos no total 10 colaboradores: três no escritório, na área da administração, um na área comercial, 1 na área técnica e 4 na produção, um no armazém e uma na nossa loja física.

A loja online tem muita procura? É um canal importante?
A loja online é a nossa forma de levar os nossos produtos para outros cantos não só de Portugal, mas do mundo também. É, de facto, um grande canal que nos ajuda a aproximar dos nossos consumidores. De momento, a loja online permite-nos vender para Portugal continental, ilhas da Madeira e Açores e para todos os países pertencentes ao espaço de Schengen.

Qual o volume de vendas a nível interno e externo?
Nos últimos anos temos tido uma faturação constante, no patamar de 1 milhão de euros, sendo que as exportações correspondem a 5% disso.

A exportação é uma aposta?
Dos 11 países para os quais exportamos, os mais representativos são, sem dúvida, a Alemanha, a Itália e a Espanha. Apesar de não ser o nosso maior foco, queremos continuar a fazer chegar os nossos produtos além-fronteiras pois sabemos que para muitos portugueses residentes o estrangeiro, somos “um bocadinho de Portugal”, uma marca nostálgica, que os lembra de casa e temos também cada vez mais fãs entre os locais. O produto que mais exportamos é a Pasta Dentífrica.

O azulejo português continua na imagem dos novos produtos. Esta portugalidade e ligação ao nosso país é também uma maneira de manter viva a história única desta marca?
Acreditamos que esta nossa portugalidade faz parte da nossa identidade e da nossa história, e o nosso foco foi sempre o de não perder esta essência que nos distingue e nos torna tão especiais para as várias gerações de portugueses que, ao longo dos anos, tivemos o privilégio de acompanhar. Foi por isso que a inspiração para as novas linhas se baseou na tradição portuguesa, refletida no azulejo integrado em todos os novos produtos, mas não só… Se visitarem a nossa loja na Rua de Cedofeita vão poder descobrir pormenores com este azulejo também. Fica o desafio!

Entrevista originalmente publicada na edição 415.

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