Luís Miguel Ribeiro, AEP
“Portugal tem reputação de produzir bem e com qualidade”
Com mais de 10 anos de existência, o programa “Portugal Sou Eu” pretende valorizar e dinamizar a oferta nacional. O Hipersuper conversou com Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP, que sublinha a importância deste selo.
Ana Rita Almeida
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Com mais de 10 anos de existência, o programa “Portugal Sou Eu” pretende valorizar e dinamizar a oferta nacional. O Hipersuper conversou com Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP, uma das entidades promotoras deste selo.
Iniciativa do Ministério da Economia, Portugal Sou Eu é um programa de valorização da oferta nacional, sendo transversal a todos os sectores da economia. Ter o selo Portugal Sou Eu significa que o produto ou serviço que o detém apresenta um elevando índice de incorporação nacional, ou seja, apresenta um elevado índice de valor acrescentado em Portugal.
O Órgão de Gestão do Portugal Sou Eu é composto pela AEP, AIP, CAP e pelo IAPMEI, que em conjunto com a AHRESP, APED e CCP constituem o Conselho Geral.
O Portugal Sou Eu procura estimular a produção nacional e fomentar o consumo esclarecido de produtos e serviços. Como é que se pode sensibilizar os consumidores para o consumo de produtos portugueses?
Explicando ao consumidor, de uma forma simples, que o impacto na economia nacional quando adquire um produto ou serviço com elevada incorporação nacional é diferente do que quando adquire um produto importado. É fácil de perceber que o impacto na economia, designadamente na geração de riqueza e criação de emprego é significativamente superior quando adquirimos o que é nacional.
Para além dos consumidores, o programa Portugal Sou também sensibiliza as empresas para a escolha de produtos e serviços portugueses no seu consumo de bens intermédios. O que tem acontecido é que aumentam as exportações, mas aumentam proporcionalmente as importações de matérias-primas e bens intermédios. Aqui as empresas podem fazer a diferença, optando por produtos portugueses.
Todos nós temos de perceber que ao contribuir para uma economia sustentável e saudável, estamos a participar, mesmo que indiretamente, para a melhoria das nossas condições de vida e bem-estar.
É esta mensagem que o Portugal Sou Eu tem passado aos consumidores e empresas.
Como tudo o que implica mudança, leva tempo até que os portugueses percebam o impacto do seu comportamento. É um trabalho de consistência, persistência e resiliência.
Foi lançado em dezembro de 2012. Qual o balanço?
Hoje, o selo Portugal Sou Eu está mais consolidado junto de empresários e de consumidores.
Ao longo das várias fases do Portugal Sou Eu, o crescimento, do número de empresas e de produtos e serviços aderentes, prova que o programa desempenha um papel cada vez mais importante na sociedade.
Neste momento, temos mais de 4 mil empresas registadas, das quais mais de 900 já concluíram a adesão (via produto ou serviço) e mais de 1000 obtiveram o Estatuto de Estabelecimento Aderente. Mais de 17 mil produtos e serviços associados são a prova de que o Portugal Sou Eu está a fazer a diferença.
Além da perceção empírica que temos da evolução positiva do Portugal Sou Eu, os estudos de avaliação e diagnóstico que o programa já realizou demonstram que os portugueses têm preferência pelo consumo de produtos nacionais. No que se refere ao efeito no consumo, o último estudo concluiu que 95% dos consumidores apoiam a existência de um selo identificativo dos produtos portugueses, 54,3% reconhece a existência do selo Portugal Sou Eu e 42,1% admite um efeito positivo no comportamento, ou seja, no aumento do consumo de produtos portugueses.
Do ponto de vista das empresas, os estudos refletem que as vendas beneficiam com a adesão ao programa Portugal Sou Eu, com 78,4% das empresas a reconhecerem expressamente esta mais-valia.
Este programa envolve quantas empresas e quantos produtos?
Temos mais de 4 mil empresas registadas, das quais mais de 900 já concluíram a adesão, via produto ou serviço, e mais de 1000 obtiveram o Estatuto de Estabelecimento Aderente. São mais de 17 mil produtos e serviços com o selo Portugal Sou Eu atribuído.
Para uma empresa que produza produtos portugueses qual a grande vantagem em ter o selo Portugal Sou Eu?
Desde logo a possibilidade de marcação, com o selo Portugal Sou Eu, dos seus produtos ou serviços como produtos ou serviços portugueses. O selo é atribuído com base numa especificação técnica que aporta o rigor necessário a essa marcação.
Beneficiar das campanhas de promoção que o Portugal Sou Eu desenvolve e participar nos diversos eventos e ações que o programa realiza. Paralelamente, as empresas podem explorar na sua comunicação a qualidade de aderentes ao programa e da atribuição do selo, potenciando o efeito positivo da adesão.
Conseguem avaliar o volume de negócios das empresas que fazem parte deste programa?
Cerca de 13 mil milhões de euros, só das empresas que completaram o processo de adesão, pois das restantes ainda não temos informação completa.
A valorização e dinamização da oferta nacional pode também potenciar as exportações. O selo Portugal Sou Eu pode ser um elemento diferenciador também na internacionalização?
A marca Portugal tem já notoriedade para ser uma mais-valia quando falamos de exportações. Portugal tem reputação de produzir bem e com qualidade em vários setores de atividade.
O Portugal Sou Eu identificou desde a sua génese esse potencial de internacionalização, tendo uma declinação do selo para a exportação. As empresas aderentes reportam que a identificação de origem é no geral uma mais-valia e em alguns casos é mesmo um fator decisivo na abordagem a mercados internacionais.
Recuando um pouco, a pandemia reforçou o consumo de produtos portugueses ou teve um impacto negativo na caminhada do Portugal Sou Eu?
A pandemia teve um impacto paradoxal na caminhada do Portugal Sou Eu.
Acelerou a tomada de consciência do impacto do consumo de produtos portugueses na economia e a percepção do risco da excessiva dependência de mercados mais longínquos ao nível das cadeias de valor globais.
De uma forma espontânea, este sentimento acabou por surgir com um novo ênfase na comunicação de marcas globais.
Mas como todas as coisas boas acabam por ter o seu ponto fraco, neste período também assistimos à exploração desse contexto, com a proliferação de marcações com cores e simbologias associadas à portugalidade, sem qualquer rigor na avaliação, acabando por confundir e não esclarecer o consumidor.
Como não há regulamentação nesta matéria, este é um fenómeno recorrente, mas que tomou maiores dimensões durante a pandemia.
Não obstante, ao alertar os consumidores para estas questões, a pandemia teve um impacto positivo nos objetivos do Portugal Sou Eu e reafirmou a importância do seu papel.
Têm também dinamizado vários workshops com o foco na qualificação e competitividade das empresas. Estas iniciativas e este networking são fundamentais?
Faz parte da nossa proposta de valor a qualificação e consequentemente o aumento da competitividade das nossas empresas, especialmente as micro e pequenas empresas.
Selecionamos temas que consideramos pertinentes para este segmento e promovemos o networking entre empresas, com vista à inovação e à circularidade e, paralelamente, o consumo de matérias-primas e bens intermédios com elevada incorporação nacional.
A AEP tem realizado um trabalho próximo das comunidades portuguesas. Fale-nos um pouco mais sobre este projeto e quais as vantagens para as empresas. Podem também ser importantes?
A Fundação AEP acredita na importância estratégica da diáspora, sendo hoje a promotora do maior projeto para unir os portugueses em todo o mundo: a Rede Global da Diáspora.
Este projeto, completamente autónomo do programa Portugal Sou Eu, assenta na construção de uma plataforma capaz de promover o relacionamento dos portugueses espalhados pelo mundo entre si e entre estes e as PME portuguesas, com o objetivo de os transformar em embaixadores e promotores da oferta nacional, unidos num sentimento de orgulho nas marcas portuguesas.
É uma plataforma online de prospeção permanente nos diversos mercados, em expansão constante, de onde é possível retirar informação relevante ao nível da caracterização da diáspora. A Rede Global da Diáspora foi lançada em 2020 e conta com milhares de portugueses em 133 países.
A diáspora portuguesa totaliza cerca de 5,2 milhões de cidadãos nacionais e lusodescendentes, com uma dimensão global muito expressiva. Se se contabilizarem os lusodescendentes até à terceira geração, são mais de 31 milhões de pessoas.
A escalada da inflação está a ter consequências nas empresas e nas famílias. Tem receio que o consumidor olhe apenas para o preço na hora de comprar?
É verdade que a escalada da inflação tem um impacto muito negativo, quer pela via da subida dos custos de produção e, consequente, redução das margens de negócio das empresas, quer pela redução do rendimento disponível das famílias.
Porém, é também verdade que no momento da compra os consumidores estão hoje muito mais sensibilizados para a importância de consumir produtos com elevado grau de incorporação nacional – por todas as implicações positivas que isso traz em termos microeconómicos e macroeconómicos.
Por isso, apesar da perda do poder de compra, temos confiança de que esta atitude vai continuar a prevalecer na hora da realização da compra e não unicamente no fator preço.
Na sua opinião, quais os principais desafios para as empresas portuguesas nos próximos anos? Qual o caminho a seguir?
Os dados observados no primeiro trimestre do ano e as projeções mais recentes para a evolução do PIB colocam a economia portuguesa entre as mais dinâmicas dos 27 Estados-membros da União Europeia.
Estes sinais positivos estão associados, em grande parte, à capacidade e esforço significativo das nossas empresas.
Contudo, as empresas continuam a enfrentar vários riscos e desafios. Entre os de natureza externa estão as tensões geopolíticas ou a política monetária restritiva, com implicações no prolongamento da subida das taxas de juro, que fazem encarecer o custo de financiamento, o que numa economia com elevado nível de endividamento (como a portuguesa) é um aspeto pertinente.
Nos desafios de natureza interna, a falta de mão-de-obra é um dos principais constrangimentos apontados pelas empresas, num contexto demográfico adverso.
Paralelamente, mantém-se o desafio central do aumento da produtividade da economia portuguesa e da melhoria das contas externas, aspetos onde o programa Portugal Sou Eu continuará a proporcionar um contributo muito positivo, nomeadamente, pelo estímulo à melhoria do valor acrescentado e à substituição competitiva de importações, através da valorização da oferta nacional.