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“Vivemos na Alemanha e vendemos produtos portugueses”

Por a 30 de Setembro de 2022 as 12:13

Tudo começou com um armazém de batatas e hoje comercializa 4980 produtos portugueses em plena Alemanha. A “Vinhoteca Centro” é um caso de sucesso que já ultrapassou o ‘mercado da saudade’.

Vinhos, cervejas, sumos, café, azeite, bacalhau, queijos e enchidos de diferentes regiões de Portugal, ou outros produtos como papel higiénico ou o galo de barcelos são alguns dos 4980 produtos que a Vinhoteca Centro, situada em Rommerskirchen, comercializa.

Atualmente com um total de 66 pessoas – no armazém grossista trabalham 23 pessoas e no café/supermercado mais 43 – a Vinhoteca Centro surgiu em 1994 quando Acácio Duarte, que trabalhava como agricultor numa fazenda, pediu autorização ao seu chefe e abriu uma pequena loja de vinhos, que rapidamente cresceu, tornando-se no seu negócio principal.

Hoje, esta empresa familiar é reconhecida como um grande importador de produtos portugueses na Alemanha, sendo procurada não só pela comunidade portuguesa, como por alemães que não hesitam em comprar produtos portugueses de excelência, além dos vários clientes na Holanda e Bélgica que já tem.

A Vinhoteca funciona em três espaços comerciais: o armazém grossista – principalmente para clientes de revenda e canal Horeca, o supermercado e o café-pastelaria no Vinhoteca Centro, onde pode beber um bom café com, por exemplo, um pastel de nata ou de lamego. Isto tudo em plena Alemanha.

Angelo Duarte, Vinhoteca CentroO Hipersuper falou com Angelo Lopes Duarte, filho do fundador da empresa, que recorda o início: “começou com a importação e venda de vinhos portugueses em 1994. Como houve boa receptividade, começámos a alargar o nosso portfolio para dar resposta a pedidos cada vez mas complexos e com maior variedade – especialmente da restauração. Hoje em dia a Vinhoteca Portugal é um importador e distribuidor de produtos alimentares portugueses com clientes na Alemanha, Holanda e Bélgica”.

O empresário conta que os clientes, que começaram por ser emigrantes portugueses, são hoje na sua maioria alemães: “a maioria dos clientes do café e supermercado já é alemã, 30 e 70 por cento de portugueses e alemães, respetivamente”.

Na área de distribuição, a maioria dos clientes continua a ser composta por estabelecimentos detidos por portugueses. “Aqui, a distribuição do mercado por segmentos é de 62 por cento horeca, 23 por cento no retalho e 15 por cento de consumidor final” refere Angelo Lopes Duarte.

Mas o que procuram mais os nossos portugueses residentes na Alemanha? Angelo não tem dúvidas: procuram os artigos tipicamente portugueses que não encontram com facilidade na Alemanha (peixe, azeites, conservas, bacalhau, enchidos, queijos e vinhos e cervejas).

vinhoteca_centroO Hipersuper quis saber se há preferências nas marcas procuradas. “Para ser justos, temos de fazer referencia à diferença dos artigos: podemos vender muitas conservas e muitas cervejas, mas de conservas vendemos cerca de sete marcas diferentes e de cervejas apenas três. No entanto, com os vinhos à parte e em termos gerais, as marcas Sumol+Compal, Caçarola, Cigala, Beira Nova, Frijobel, Primor, Paiva, Nobre e Bom Petisco serão as mais vendidas” explica.

Sobre os clientes alemães sublinha que a opinião sobre os artigos portugueses é bastante positiva, seja na pastelaria lusa ou na merceara. “De forma geral, procuram a qualidade e os sabores atlânticos e mediterrânicos. Uns, porque provaram em férias em Portugal, outros por sugestão de familiares e amigos ou por publicidade” sublinha.

Vinhoteca CentroPortugal está sempre presente no dia-a-dia de quem trabalha na Vinhoteca. Angelo não esconde a ligação e basta aceder ao site da empresa para confirmar este vínculo ao ler frases como “é bom ver que conseguimos realizar o nosso sonho com produtos da nossa terra natal” ou “não encontrará os nossos produtos noutros supermercados na Alemanha. Tento regularmente integrar novos produtos que possam ser interessantes para o cliente.”, ditas pelos proprietários da Vinhoteca Acácio Coelho Duarte e Elias Lopes Duarte, respetivamente.

Angelo admite que é algo natural, referindo mesmo que a ligação especial a Portugal pode ser um dos segredos para o sucesso. “Para nós é algo natural. Somos portugueses, vivemos na Alemanha e vendemos produtos portugueses” diz. “Conseguir transmitir e representar bem a variedade de artigos existente” seria difícil para um não português. “A ligação a Portugal e inevitável. Diariamente estamos em contacto, por telefone, email e videoconferências com dezenas de empresas e produtores” acrescenta.

A pandemia covid-19 trouxe algumas dificuldades, com uma quebra global na ordem dos 30 por cento, com área da restauração a ser a mais atingida. “Por outro lado, houve segmentos em que o crescimento foi positivo, como foi o caso do retalho. Isto deveu-se ao facto de as pessoas terem estado muito tempo sem poderem frequentar restaurantes e de ter aumentado o consumo em casa. Ao mesmo tempo, a grande distribuição tinha stocks de artigos de valor acrescentado, normalmente destinados à restauração, que não escoava e que “abriu portas” ao consumidor final, que passou a comprar o que de outra forma não iria adquirir” refere Angelo Duarte.

“Já só disponibilizamos embalagens sustentáveis no nosso estabelecimento para o consumidor final”

Agora, o empresário luso não esconde que a preocupação passa pelos tempos complicados que vêm aí. “Nós somos uma engrenagem da máquina de distribuição e já temos comprado produtos na origem em Portugal, com aumentos sucessivos desde o início do ano. Isso reverte-se no aumento de preços aos nossos clientes, umas vezes com mais margens, outras vezes com menos. O que nos preocupa é que alguns fornecedores, mesmo com aumentos de preços, não consigam dar resposta à procura como já aconteceu” começa por dizer.

“Noutro plano, em termos de recursos humanos, estamos igualmente preocupados. Durante a pandemia, muitas pessoas viram-se obrigadas a encontrar alternativas ao trabalho que tinham, em especial na restauração. Após a pandemia, estes recursos não regressaram, o que criou um vazio enorme em termos de oferta de mão de obra. Nós próprios verificamos isso diariamente em posições de emprego que anunciamos e que têm pouca ou quase nenhuma resposta ou, quando há candidaturas, os perfis são pouco adequados. Exemplo disso, no Vinhoteca Centro é a área de Pastelaria. Na distribuição, responsáveis de armazém e distribuidores são igualmente escassos” acrescenta.

Apesar das preocupações, a Vinhoteca tem estado sempre na linha da frente em algumas mudanças que fazem toda a diferença e que, por isso, tornam esta empresa familiar um caso de sucesso. É o caso das várias medidas que já foram sendo tomadas com o foco na sustentabilidade e num mundo melhor. Angelo não tem dúvidas que a sustentabilidade e a preocupação por um meio ambiente já fazem parte do adn da empresa.

“Estando no mercado alemão a preocupação com a sustentabilidade é inevitável – especialmente a ambiental. Diria mesmo que já está no ADN das empresas. Além de recolhas separadas de papel, vidro, plástico, filme de empacotamento, lixo biológico e óleos. Já só disponibilizamos embalagens sustentáveis no nosso estabelecimento para o consumidor final” refere com orgulho. “Estamos em conversações com empresas de vasilhame reutilizável (como a Recap ou a Relevo) para utilização pelo consumidor final a partir já deste ano. A partir de 2023 será obrigatório disponibilizar este tipo de vasilhame nos estabelecimentos de restauração e nós estaremos na linha da frente” sublinha.

“O mesmo aconteceu desde o início de 2022 com as bebidas de tara recuperável. A Vinhoteca foi o primeiro importador de produtos portugueses a aderir ao sistema alemão. Isto acarretou a perda de alguns clientes (muitos importadores continuam a vender taras perdidas, o que é proibido) e o aumento da complexidade das nossas operações (pois vasilhame entregue tem de ser recolhido). Mas o balanço final a longo prazo é que interessa e isso é um ambiente mais sustentável e preservado” finaliza.

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