Crise faz nascer o smartshopper
A crise trouxe ao mercado um novo tipo de consumidor: o smartshopper. De acordo com os últimos dados, o consumidor está cada vez mais consciente, privilegiando o valor percebido sobre o preço, praticando downtrading como variável de ajuste.
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Victor Jorge
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A crise e as medidas de austeridade implementadas em Portugal fez nascer o smartshopper. Este consumidor, segundo uma análise da Kantar Worldpanel, “só compra as marcas mais caras quando vê valor para si nessa escolha e opta pela opção mais barata com melhor relação preço/função em tudo o resto”. Além disso, é, sobretudo, urbano e com estruturas familiares muito distintas, com a classe social a deixar de ser factor de diferenciação. Este mesmo shopper mais inteligente concentra as compras FMCG (Fast Movingo Consumer Goods) na distribuição moderna e aumenta a frequência de compra, mas reduz as quantidades compradas em cada acto, fazendo menos refeições fora de casa.
Em sumo, este novo tipo de consumidor representa já 7% dos lares portugueses.
Na análise apresentada hoje [Terça-feira] à imprensa, Paulo Caldeira, director de Marketing da Kantar Worldpanel, salientou o facto do índice de confiança do consumidor ter atingido no final de 2011 “mínimo históricos”, traduzindo-se num aumento de gasto por parte de dois dos grupos de consumidores nacionais: os Impactados e os Preocupados. De facto, foram estes dois grupos de consumidores que mais contribuíram para o aumento do gasto em FMCG (3,8 e 0,5%, respectivamente), enquanto os Solidários e os Despreocupados fizeram percurso inverso, registando descidas de 2,7 e 0,2%, respectivamente.
O certo é que, apesar de muito ter mudado ao longo deste ano de 2011, o consumidor continua a consumir praticamente o mesmo que em 2010, com o valor de gasto em FMCG a aumentar 1,3%, enquanto em volume os dados da consultora indicam uma descida de 0,4%. Isto, segundo a Kantar Worldpanel significa que, considerando a inflação, o peso alimentar na despesa de FMCG sobe para 65%.
Outras das conclusões da análise do ano de 2011 é que o consumidor compra menos de cada vez (-2,5%), com as cestas mais pequenas a cresceram 13%, em valor. Além disso, a frequência de compra aumentou em 1% face a 2010, com os dados a indicarem que o Domingo contribuiu para o crescimento da distribuição moderna em 45%.
Com a categoria Take Away a destacar-se das restantes categorias em termos de evolução (cresce 4,3% em valor e 5,4% em volume), os indicadores de consumo nos lares portugueses da Kantar Worldpanel mostram que águas com gás, iogurtes (saúde), vinhos, pão fresco, carne fresca, bem como peixe e marisco fresco e bacalhau seco estão entre as categorias que pior performance tiveram ao longo de 2011. Inversamente aparecem as águas sem gás, iogurtes tradicionais, ice teas, carne congelada e bacalhau congelado.
Na eterna “luta” entre Marca da Distribuição (MdD) e Marcas de Fabricante (MdF), regista-se que, em valor e sem contabilizar frescos, as MdD aumentaram em valor (9,5%), enquanto as MdF caem 1,9%, verificando-se que, em volume, o comportamento é similar, apesar das MdD crescerem menos (4,3%), mas as MdF descerem mais (-5,1%).
Item em que ambas crescem é no preço, apesar das diferenças, evoluindo as MdD 4,5%, enquanto as MdF sobem 2,7%.
Certo parece também a resistência demonstrada pelos FMCG à crise, indicando a Kantar que, depois de em 2011 terem descido 1% em volume, os FMCG deverão manter-se flat até 2015, realidade que não diverge em valor, prevendo a consultora uma ligeira subida de 0,3% nos próximos quatro anos.
As grandes superfícies (hipers e supermercados) parecem, no entanto, ser os menos afectados pelos tempos de austeridade, antevendo a Kantar Worldpanel que a quota de mercado destes formatos, em valor, deve aumentar dos actuais 68,4 para 71,8%, em 2015, com os discounts a manterem o seu peso quase intacto (16,4%).
Situação bem diferente deverá viver o comércio tradicional, antecipando a consultora uma descida deste conceito em 3,4 pontos percentuais, passando dos actuais 15,2% para 11,8%, em 2015.
De estranhar não será, também, a previsível evolução das MdD, com os números a indicarem uma quota superior a 41% em 2015, aproximando-se Portugal, cada vez mais, da realidade britânica.
Assim, os FMCG deverá resistir, em volume nos próximos anos, com o novo smartshopper a multiplicar as visitas para aproveitar oportunidades, privilegiando o valor percebido sobre o preço, comprando MdD e praticando downtrading como variável de ajuste. As preocupações do consumidor continuarão, assim, além do preço, as questões ligadas á saúde, verificando-se uma ligeira redução da variável prazer.