Marta Cunha (Sonae): “É preciso consciencializar empresas e trabalhadores para a urgência da requalificação”
Quais são as competências do futuro? Que caminho deve fazer o ensino e as empresas para preparar os trabalhadores para o futuro mercado de trabalho? A Sonae promoveu o debate e partilha a sua experiência dentro de casa
Rita Gonçalves
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Quais são as competências de futuro? Que caminho deve fazer o ensino e as empresas para preparar os portugueses para o futuro mercado de trabalho? A Sonae promoveu o debate e partilha a sua experiência dentro de casa
O futuro do trabalho é cada vez mais incerto. Uma coisa, porém, é certa. Muitos trabalhadores terão de mudar de emprego nos próximos anos. Estudos recentes indicam que cada pessoa poderá desempenhar mais de uma dezena de profissões ao longo da vida. Um estudo do World Economic Forum, por exemplo, avança que mais de mil milhões de pessoas vão ter de mudar de emprego até 2030. Neste contexto, a educação e a formação assumem um papel crucial, enquanto instrumento para dar resposta aos desafios do mercado de trabalho.
A Sonae quis colocar a educação e o futuro do trabalho em debate, juntando especialistas nacionais e internacionais, sociedade civil, alunos, professores, associações e governantes na primeira edição do Innovators Forum’23, iniciativa que pretende ser um fórum de partilha de conhecimento sobre áreas que impactam diretamente a sociedade.
Este ano, o tema escolhido foi a educação. “Enquanto maior empregador português, a Sonae tem a responsabilidade de desenvolver estratégias de sustentabilidade e uma das principais é potenciar o desenvolvimento humano e isso é feito, em parte, através da educação”, justificou Cláudia Azevedo, CEO da Sonae.
“O tema da educação é muito querido para a Sonae e era muito querido para o meu pai, ele próprio produto do elevador social da educação. Teve uma ótima professora primária, frequentou uma ótima secundária no Porto, depois fazendo engenharia e descobrindo, sem internet, o que era Harvard e foi para Harvard. Acreditava muito no poder da educação pela sua história de vida”, acrescentou.
Uma das formas que as empresas estão a encontrar para dar resposta às mudanças em curso passa pela adoção de programas de reskilling e upskilling. No painel de debate “Dos 0 aos 100: aprendizagem ao longo da vida”, João Duarte, professor na Nova SBE e coordenador da plataforma ReSkill Hub, explica a diferença. “A educação ao longo da vida é cada vez mais importante num contexto em que a tecnologia é, também ela, cada vez mais disruptiva a uma velocidade de mudança enorme. A requalificação tem numa perspetiva mais horizontal, tem a ver com aprender novas competências, mesmo que seja dentro da ocupação que desempenhamos, de forma a ganharmos novas aptidões e capacidade para desempenhar novas tarefas”, explica o professor. O upskilling está mais ligado ao aprofundamento das nossas competências. “Tem uma perspetiva mais vertical e já existe há algum tempo”, adianta.
Sendo o tecido empresarial português constituído maioritariamente por pequenas e médias empresas, o investimento pode ser um obstáculo aos programas de requalificação? Marta Cunha, head of transformation da Sonae e responsável pelo projeto de reskilling for employment, acredita que não. “O dinheiro para a educação não é o maior problema que nós temos. Existe muito financiamento à formação em Portugal”, afirma, dando como exemplo a iniciativa PRO_MOV, a materialização da iniciativa europeia Reskilling 4 Employment (R4E), criada pela European Round Table for Industry (ERT) construída de raiz com as empresas em função das suas necessidades. Este programa ambiciona a requalificação de um milhão de europeus até 2025 e cinco milhões até 2030.
Um dos grandes desafios, segundo Marta Cunha, é a consciencialização para a urgência da requalificação por parte das empresas no sentido de “perceberem do que vão precisar no futuro, do planeamento da sua força de trabalho, quais são as competências de hoje e as que irão precisar no futuro e como é que se estão a preparar para esse momento para não deixar ninguém para traz”. Mas também por parte dos trabalhadores, defende. “Ativos empregados e desempregados que olhem para a requalificação como algo que é sempre necessário e tenham essa atitude proativa”.
João Magalhães, cofundador da Code for All, chama a atenção para o facto de ainda desconhecermos muitos dos empregos do futuro na medida em que “estão a ser inventados agora”. “Como é que conseguimos nos sistemas de educação ajudar as crianças a terem as competências que interessam quando chegam ao mercado de trabalho?”, questiona, dando logo a resposta: “É necessário criar um ecossistema que inclua o setor privado, o publico e as startups. Só assim é que vamos conseguir responder a este desafio de criar uma cultura de estarmos constantemente curiosos, constantemente à procura de conhecimento e de nos atualizarmos”.
A responsável pelo projeto reskilling for employment na Sonae revela que os resultados do PRO_MOV são, para já, muito promissores. “Há um ano tínhamos uma turma com 13 pessoas. No final deste ano, esperamos acabar com algumas centenas de participantes, 14 cursos instalados e estamos a fazer o nosso caminho”. A responsável considera, no entanto que, mais importante do que saber quantas pessoas passaram pela formação e durante quantas horas, é a taxa de empregabilidade dos cursos. Nos três primeiros cursos, o PRO_MOV apresentou uma taxa de empregabilidade acima de 80%, indica. “Este indicador é muito importante para mudar o mindset”, defende.
É que as equipas de recursos humanos ainda sentem alguma desconfiança relativamente a este talento requalificado, quando comparado com outros”, explica, acrescentando que ter uma boa taxa de empregabilidade é uma garantia de qualidade. “As equipas de recursos humanos devem olhar para este talento, desde logo porque há escassez de talento e é preciso alargar as fontes de procura. Por outro lado, as pessoas que passam por estes processos de seleção e requalificação são exigentes, resilientes e motivadas”, sublinha.
Por outro lado, a responsável acredita as políticas de recursos humanos devem ter em conta duas tendências. A ideia de que as qualificações técnicas irão ficar cada vez mais obsoletas pelo que as empresas irão apostar cada vez mais no desenvolvimento pessoal dos seus trabalhadores, e o desenvolvimento de estímulos junto dos trabalhadores para desenvolver essa vontade de aprender ao longo da vida.
João Duarte, por seu turno, enumera o que as universidades podem fazer para contribuir para um ensino mais em linha com as competências que as empresas precisam já hoje e no futuro. As universidades devem “revisitar os seus programas para terem a certeza que estão a capacitar os alunos de pensamento critico e capacidade de empreender”, aconselhando a “focar os programas menos em conteúdo e mais em capacidade técnica”.
O professor universitário aconselha ainda as escolas do ensino superior a ter as portas abertas para os profissionais que querem reforçar as soft skills com programas customizados. “A maior parte das tarefas que estão a ser automatizadas não envolvem interação humana. O que se espera no futuro é que os trabalhadores reforcem as suas capacidades de lidar com o outro e trabalhar em equipa como vantagem competitiva no mercado de trabalho”.
Por último, o professor acredita que as universidades devem ter assento no processo de avaliação dos programas e iniciativas de apoio à formação, quer públicas quer privadas. “Para que atempadamente se percebam quais os programas e as iniciativas que melhor funcionam”, destaca.
Poucos dias depois do Innovators Forum’23, a divisão da Sonae dedicada ao retalho alimentar, a MC, veio a terreiro anunciar uma parceria com o Code for All, antiga Academia de Código, para lançar o Reboot MC, programa pioneiro no mercado nacional cujo objetivo é proporcionar oportunidades de reskilling e upskilling aos trabalhadores na área da programação.
Do retalho à logística e estruturas centrais da empresa, o programa foi concebido para fomentar o auto desenvolvimento e aprendizagem contínua, a partir de uma metodologia de ensino tecnológico personalizado.
Como vai funcionar? A Code for All está a realizar um serviço de formação interna para a MC que começa pela identificação das necessidades tecnológicas da empresa e avaliação da aptidão dos trabalhadores de se tornarem programadores. Depois, serão criados “programas de treino personalizados, ou bootcamps, com o objetivo de complementar as estruturas tecnológicas da empresa e alavancar das competências dos indivíduos”, explica a dona dos supermercados Continente.
Sonae dá 100 mil euros a dois projetos inclusivos de educação
A Sonae entregou um prémio de cerca de 100 mil euros a dois projetos de educação que se destacaram entre as 400 candidaturas à primeira edição do Prémio Sonae Educação: NoCode Institute e EKUI.O NoCode Institute concorreu com uma plataforma digital que tem a missão de requalificar e relançar carreiras de profissionais em risco pela economia digital. O objetivo deste projeto passa por democratizar as competências de construção de software através da programação visual.
A EKUI (acrónimo para Equidade, Knowledge, Universalidade e Inclusão), por sua vez, é um projeto que visa eliminar barreiras na comunicação linguística. O objetivo é permitir que crianças, jovens e adultos, independentemente das respetivas necessidades especiais, possam universalmente compreender-se uns aos outros. Esta comunicação é concretizada através de uma metodologia de alfabetização e reabilitação inclusiva, que combina quatro formas de comunicação: a gráfica, o braille, a língua gestual e o alfabeto fonético.
*Artigo originalmente publicado na edição 418