Fotos de Miguel Cardoso (Pelarigo)
Produtores de batata pedem garantias contratuais aos retalhistas
Contratos que garantam escoamento a um preço justo para a batata consumida em fresco e uma distribuição mais equilibrada das margens de lucro na cadeia de valor, são algumas reivindicações deixadas pelos agricultores ao representante das cadeias de supermercado
Rita Gonçalves
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“O caminho [para a valorização da fileira da batata portuguesa] poderá ter de ser trabalhar na contratualização de área no mercado de batata para consumir em fresco, algo semelhante ao que já se faz na indústria”. A frase é de Sérgio Ferreira, presidente da Porbatata (Associação da Batata de Portugal) e tem como destinatário Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED (Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição). Os dois dirigentes associativos participaram de uma meda redonda com o tema “A cultura da batata do campo ao garfo”, que teve lugar no “Open day da batata”, promovido pela Pelarigo no passado dia 18 de maio em Salvaterra de Magos.
Sérgio Ferreira salientou que fazer um campo de batata “exige um enorme investimento” e, no caso da batata para consumo em fresco, “sem garantias” de escoamento e de preço. Muitos produtores estão a migrar para a produção de batata para a indústria que garante um preço mínimo de compra e assegura o escoamento dos produtos previamente contratados, explica o diretor-geral da Porbatata. A indústria começou a fazer esse trabalho para não estar dependente das flutuações de preço no mercado livre, sublinha.
Para agravar a situação, há ainda as dificuldades de contexto. “Os custos de produção continuam a aumentar e temos indicações que na próxima campanha iremos ter novamente aumentos de preço na produção”, sublinha Sérgio Ferreira, para concluir que a fileira tem de unir esforços para “valorizar corretamente este produto”.
“A APED não se mete nas políticas comerciais dos seus associados”, atira Gonçalo Lobo Xavier, lembrando que no seu papel de dirigente associativo não se pode imiscuir nas políticas comerciais dos associados. Salvaguardando que não dispõe de autoridade para dar uma resposta direta à questão, lembra que a relação entre produtores de batata e distribuidores estreitou-se na pandemia e que, tirando partido dessa ligação e da concorrência entre insígnias, há lugar nos supermercados para o crescimento do consumo da batata nacional.
“Durante a pandemia, com a restauração fechada, muitos produtores não tinham para onde escoar a produção e conseguiram reorganizar-se e entrar na cadeia de distribuição e retalho. A pandemia acabou, mas a relação entre produtores e retalhistas mantém-se”, esclarece o diretor-geral da APED, acrescentando que, do seu ponto de vista, existem muitas “marcas e lojas a concorrerem entre si” e que essa concorrência “é positiva” para os agricultores. “Quanto maior a concorrência entre os retalhistas maior a possibilidade de o agricultor valorizar a sua produção”, sublinha, considerando que “há potencial de crescimento em função da concorrência e da valorização da produção nacional por parte dos consumidores”.
Da plateia, pela voz de um agricultor, é lançado mais um repto ao representante das cadeias de distribuição. Rodrigo Vinagre, produtor de batata para a indústria na região de Salvaterra de Magos, advoga uma divisão mais equilibrada e justa das margens de lucro entre os diferentes intervenientes desta fileira. “Na cadeia de valor do produto final, o valor que fica para a produção representa entre 8 a 12% da margem. A divisão da margem é fulcral e a grande distribuição tem aqui um papel muito importante. Estamos a passar momentos difíceis, desde o produtor ao consumidor. Por isso, a distribuição deste valor tem de ser feita de forma justa, independentemente de o preço estar mais elevado ou mais baixo”, defende.
Gonçalo Lobo Xavier contrapõe com dados do Instituto Nacional de Estatística. “Segundo dados do INE, o índice de preços na produção cresceu, em 2022, cerca de 36%, na indústria cresceu 32% e no retalhista cresceu 20%”, indica, para concluir que “não foi, seguramente, o retalho que ficou com a grande fatia do crescimento dos preços e seguramente não ficou com a margem”.
Consumo de batata nacional está a aumentar
As batatas representam quase um terço da cesta de compra de legumes das famílias portuguesas, um peso maior do que em Espanha. O consumo e a procura pela batata portuguesa está a aumentar quer no mercado interno quer no internacional. Gonçalo Lobo Xavier partilha alguns dados. “Os números do consumo de batata nacional dos cinco maiores retalhistas em Portugal indicam que, entre 2020 e 2022, houve um crescimento de cerca de oito mil toneladas no consumo de batata nacional”, avança o diretor-geral da associação que defende os interesses dos retalhistas, salvaguardado que há margem para melhorar. “A capacidade de as lojas de retalho introduzirem novos hábitos de consumo e valorizarem a produção nacional é muito grande. Por isso, esta parceria entre a Porbatata e a APED, iniciada em 2019, é muito importante”.
Com quase 200 associados, 60 dos quais do retalho alimentar, a APED destaca as dificuldades pelas quais estão a passar os consumidores. “Quando perguntamos aos consumidores ‘entre um produto nacional ou sustentável estaria disposto a pagar mais?’, respondem que sim, mas quando chegam às prateleiras têm de fazer contas, gerir o seu orçamento e muitas vezes optam pelo produto de menor valor”. Gonçalo Lobo Xavier defende que este é um desafio para todos os intervenientes da cadeia de valor da batata. “Os consumidores estão a passar dificuldades. E nós vivemos este dilema de ter de apresentar ao consumidor liberdade de escolha. Não estou a dizer que não vamos insistir na valorização da produção nacional, pelo contrário”. Os retalhistas “não vivem sem a agricultura nacional. Dependemos uns dos outros”, sublinha o dirigente, perguntando onde estão os apoios prometidos pelo executivo aos agricultores.
“Em Espanha e França, por exemplo, há uma valorização diferente da agricultura que é traduzida em apoios reais aos agricultores para fazer face às dificuldades, das quais a seca é um exemplo. Onde está o apoio de quase 200 milhões de euros que o Governo prometeu? Isto é inaceitável. Assinámos um acordo a 27 março, dia 18 de abril entrou em vigor o IVA zero, hoje é dia 18 maio, e os agricultores ainda não receberam nada”, afirma.
O diretor geral da APED fala ainda de uma “reflexão” que lhe chegou da parte dos retalhistas e que tem a ver com a conveniência das embalagens e a conservação da batata portuguesa. “Os retalhistas chamaram a atenção para a questão da conservação e do embalamento da batata. É uma questão difícil de resolver. Muitas vezes, na comparação com fornecedores estrangeiros, isto pode ser um problema. Há caminho para valorizarmos mais a produção nacional, para aumentar as vendas, mas as questões de conveniência têm se ser pensadas por quem distribui a batata”, sugere, dando como exemplo novas soluções de apresentação, diferentes gramagens, diferentes tipologias de produto embalado e a utilização de materiais mais ecológicos para dar resposta às exigências de conveniência por parte dos clientes.
Na opinião do dirigente da Porbatata, a dimensão das embalagens e os materiais utilizados para as conceber não são diferentes das dos produtores espanhóis ou franceses até porque “os fornecedores dos equipamentos de embalagens são mundiais”. E lembra que é necessário valorizar um produto diferenciado. “Se reduzimos o tamanho da embalagem, o preço por quilo aumenta”.
No que diz respeito à conservação, na opinião de Sérgio Ferreira, “os embaladores em Portugal já têm áreas muito interessantes na conservação e trabalham em conjunto com os produtores”. “Quando a nossa campanha é forte, trabalhamos com temperaturas muito elevadas para conseguir conservar convenientemente e isto tem um custo enorme em termos de infraestruturas de frio e implica um custo adicional. Ou o retalho tem disponibilidade para pagar a diferença no armazenamento ou terá de ser gerido momento a momento”, sublinha, lembrando que Portugal está em desvantagem em relação a países como França. “Na Europa, nomeadamente em determinadas regiões em França, há capacidade para armazenar a um custo inferior, devido às temperaturas mais baixas”. “Apesar de não jogamos com essas armas, temos a proximidade e isso também é importante”, salienta o dirigente.
O nosso país produz atualmente cerca de 40 a 45% da batata que consome. “Uma boa parte da importação da batata consumida em Portugal e na Europa vem de países terceiros, como Israel e Egipto”, afirma Sérgio Ferreira, lembrando que a diminuição de produção deste alimento é um problema transversal ao mercado europeu. “A produção na Europa está a cair porque os produtores não conseguem valorizar o produto, uns reduzem a área para se protegerem, outros migram a produção para a indústria e outros para a produção de culturas mais rentáveis”, detalha Sérgio Ferreira, em declarações ao Hipersuper, à margem do evento.
Em Portugal, a produção de batata ocupa uma superfície agrícola de 16 804 hectares. Os dados mais recentes do INE indicam que a produção ultrapassou as 413 mil toneladas em 2021.
Já as exportações aumentaram 23% para 24,6 milhões de euros no ano passado. Em quantidade, as vendas para os mercados internacionais cresceram 56% para 81 milhões de quilos.