Dos produtos da floresta ao desperdício da indústria
Indústria portuguesa de embalagens aposta em matérias-primas com maior capacidade de reciclagem e biodegradável como alternativa ao plástico de origem fóssil
Rita Gonçalves
30 entidades assinam manifesto pela água no Sudoeste Alentejano e no Algarve
Grupo Paulo Duarte leva água potável às populações afetadas na região de Valência
Associação Coração Delta angariou mais de 6000 kits de higiene para idosos carenciados
Ângela Sarmento: “O atendimento ao cliente é uma das nossas prioridades”
Adega do Cartaxo lança Tejo para homenagear a região
Tiendanimal inaugura loja no Real Retail Park em Matosinhos
Campanha solidária “Reciclar Alimenta” da Tetra Pak de regresso
Produção nacional de azeite poderá chegar às 180 mil toneladas
Grupo Bacalhôa apresenta edição exclusiva de Aguardente XO 50 Anos
STEF com volume de negócios de 1.217 milhões de euros no 3º trimestre
Indústria portuguesa de embalagens aposta em matérias-primas com maior capacidade de reciclagem e biodegradável como alternativa ao plástico de origem fóssil
As embalagens feitas a partir de matérias-primas biodegradáveis e recicláveis e, por isso, mais sustentáveis e circulares, têm sido a grande aposta dos industriais do setor do packaging para substituir os plásticos de origem fóssil. O Hipersuper conversou com responsáveis de uma empresa recém-nascida neste mercado, a The Navigator, e com duas empresas já experientes na produção de embalagens, a Mplastic e a Eurogrip, para perceber como está a ser feita esta aposta em embalagens mais sustentáveis e circulares no mercado português.
Foi no final de 2021 que a The Navigator Company lançou uma nova linha de negócio de produtos para packaging, sob a marca gKraft. à boleia da entrada em vigor da legislação portuguesa que proibiu os plásticos de utilização única. “A marca gKraft contribui para a redução do plástico fóssil, sobretudo o de uso único, substituindo-o por materiais de base renovável e sustentável a partir de florestas plantadas”, afirma fonte oficial da Navigator, em declarações ao Hipersuper. Esta área de negócio representou cerca de 4% da faturação do grupo no ano passado, que se cifrou em 90 milhões de euros.
Esta é uma aposta de futuro. No primeiro trimestre de 2024, a Navigator conta ter em funcionamento em Portugal aquela que diz ser a primeira “unidade no mundo para a produção integrada de peças de celulose moldada de eucalipto, destinadas a substituir embalagens de plástico fóssil no mercado de food service”.
A futura fábrica localizada no parque industrial de Aveiro produzirá concretamente peças de celulose moldada destinadas a substituir peças de plástico que protegem alimentos e são utilizadas em embalagens nos pontos de venda ou são usadas numa perspetiva de utilização única. “Com uma capacidade inicial de 100 milhões de peças, estão previstos aumentos de capacidade nos anos seguintes”, avança a fonte da Navigator, acrescentando que um dos grandes desafios do projeto está ligado ao desenvolvimento de “propriedades de barreira biodegradáveis que permitam assegurar as funções de proteção dos alimentos e de isolamento apropriado a líquidos e gorduras constituintes dos mesmos”.
Por isso, a principal matéria-prima utilizada na gama gKraft é a fibra de Eucalipto Globulus que apresenta “particularidades muito interessantes” que permitem reduzir o consumo de fibra, em comparação com a fibra longa, assim como “benefícios técnicos distintos”, nomeadamente “a qualidade de impressão e as características de superfície”, salienta a mesma fonte.
A empresa fornece atualmente empresas de diferentes setores de atividade, como o retalho alimentar, o e-commerce, a indústria, a agricultura e a moda, e acredita que as embalagens alimentares apresentam “um elevado potencial de crescimento”, não só pela crescente consciencialização global para a redução do plástico como pela adequação da fibra virgem para a produção deste tipo de packaging. “Nestes produtos, a fibra reciclada não é adequada nem valorizada, o que oferece grandes oportunidades de crescimento”, sublinha.
“Acreditamos que os produtos de base florestal assumem um importante papel neste novo paradigma, com destaque para o papel, por todas as características que lhe são inerentes: natural, reciclável e biodegradável, tem na sua origem o maior sequestrador de carbono – a floresta – e no seu processo produtivo uma indústria que aposta na descarbonização e na investigação de bioprodutos”, afirma a mesma fonte, salientando ainda que o efeito de substituição do plástico de origem fóssil por um material celulósico com maior capacidade de reciclagem e biodegradável contribuiu para a redução das emissões com gases de efeito de estufa.
Na área dos bioprodutos, a empresa tem planos para desenvolver um conjunto de produtos alternativos aos produtos de origem fóssil como pastas de celulose não branqueadas de alto rendimento com menor utilização de madeira, embalagens de papel flexíveis para a indústria alimentar e retalho, embalagens em celulose rígidas também para a indústria alimentar e indústria eletrónica, compósitos de celulose e bioplásticos para produção de filamentos para impressão 3D e produtos termoldados para a área da saúde.
A Navigator lidera um consórcio constituído por 27 entidades nacionais que irá investir 103 milhões de euros na investigação, desenvolvimento e comercialização de soluções de embalagens inovadoras e sustentáveis.
Mplastic reforça aposta nos biomateriais com criação da b4logic
A Mplastic aumentou a capacidade de produção da fábrica em Vagos, assim como a capacidade de volumetria das embalagens, que vão agora desde os 100 mililitros aos 30 litros, com um investimento de cerca de três milhões de euros concluído no final do ano passado. Com este investimento, a empresa de packaging do grupo MSTN reforçou a “capacidade técnica” para testar novos conceitos, matérias-primas e prototipagem, detalha Ricardo Neto, diretor geral da Mplastic, em entrevista ao Hipersuper, acrescentando que a empresa tem em curso a montagem de um laboratório “com tecnologia e equipamento de ponta” quer irá permitir desenvolver novos produtos e preparar a unidade de produção para competir com empresas nacionais e internacionais em matéria de certificação de qualidade.
A empresa está a apostar forte no desenvolvimento de biomateriais para produzir embalagens mais sustentáveis, a partir de subprodutos naturais e biodegradáveis, provenientes da indústria, e criou a empresa b4logic para trabalhar esta área de negócio.
Estes novos biomateriais podem ter por base diferentes tipos de resíduos, como folhas de oliveira, café, cortiça, ardósia e casca de laranja, entre outros, e possibilitam a obtenção de produtos de base biológica, biodegradável e compostável, para os setores de embalagem, agricultura, cosmética, automóvel e têxtil.
“A customização das composições a partir da valorização de subprodutos provenientes de diferentes tipos de indústrias, além de reduzir o seu impacto no meio ambiente, permite ainda às marcas criar uma relação emocional com os consumidores”, considera Ricardo Neto.
“Estas composições são utilizadas para criar diversos tipos de produtos e embalagens em diferentes setores e propósitos. Após a sua utilização podem regressar ao solo, com um impacto no ecossistema muito menor em comparação com os plásticos provenientes de origem fóssil”, acrescenta.
Para além de biodegradáveis e compostáveis, a produção de biomateriais, com caraterísticas semelhantes aos plásticos convencionais, permite uma poupança energética até 65%, garante.
Em parceria com as universidades, a empresa desenvolveu para a fundação Mirpuri a primeira garrafa produzida em Portugal feita à base de algas e 100% biodegradável.
Novos produtos e processos produtivos e promoção da sustentabilidade a montante e a jusante da cadeia de valor, desde a escolha de matérias-primas até à reciclagem de embalagens de resíduos, são as duas áreas prioritárias do plano de investimento da empresa que começou a produzir embalagens em exclusivo para a Mistolin mas que, entretanto, alargou a área de atuação a todo o mercado.
Para combater a “sobreexploração de recursos naturais” para a conceção de matérias-primas, e a “deposição, cada vez mais significativa”, em aterros de produtos em final de ciclo de vida, a Mplastic garante dar especial importância à circularidade. “Adaptamos todos os componentes das embalagens, como os rótulos e as tampas, para uma fácil reciclagem, disponibilizando produtos que utilizam um número reduzido de componentes e promovendo circuitos internos ou externos que incentivam a economia circular das embalagens”, termina Ricardo Neto.
Eurogrip apresenta novos produtos e serviços
A Eurogrip tem vindo a alargar a oferta de embalagens feitas a partir de materiais reciclados e a melhorar as ferramentas de personalização do packaging. No decorrer deste ano, no qual assinala 25 anos de vida, a empresa de Vila Nova de Gaia está a preparar o lançamento de novos produtos e serviços.
Sem desvendar quais os produtos, Eugénio Bulhosa, responsável pelo marketing da empresa especializada em embalagens flexíveis, disse ao Hipersuper que consistem em “soluções sustentáveis” que promovem a circularidade e dão resposta às “necessidades do mercado”. Por outro lado, na área dos serviços, a empresa irá apresentar ao mercado “soluções tecnológicas” que irão enriquecer o serviço prestado.
“Desde 2021 que o investimento está a ser aplicado em soluções tecnológicas internas e externas e em criar soluções e serviços que contribuam para melhorar a economia circular”, resume.