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Gonçalo Lobo Xavier (APED): “A estabilização dos preços vai estar dependente da evolução dos custos de energia e do seu reflexo no custo de produção, logística e transporte”

Por a 10 de Fevereiro de 2023 as 8:11

Gonçalo Lobo Xavier Diretor-Geral da APEDTrês perguntas a…

Gonçalo Lobo Xavier, Diretor-Geral da APED (Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição)

Que impacto considera que poderá ter o atual contexto económico e social no consumo dos portugueses neste ano que agora começou, em especial em produtos de grande consumo?

O atual contexto económico e social continua a ser desafiante para as famílias e para as empresas e as perspetivas existentes levam a que se aponte 2023 como um ano de incerteza face às dúvidas em relação ao fim da guerra na Ucrânia e os efeitos causados na pressão dos custos energéticos e aumento dos custos dos fatores de produção.

Apesar de os dados oficiais mais recentes sinalizarem um ligeiro abrandamento da inflação global, que terá levado a uma contenção na subida dos preços da energia, é importante ter presente que esta realidade apenas estará refletida nos preços, em particular dos produtos alimentares, durante e sobretudo, no final do primeiro trimestre do ano, uma vez que os produtos que estão agora disponibilizados nos espaços de retalho foram produzidos e contratualizados antes da referida desaceleração da inflação.

O comportamento de consumo será influenciado por um conjunto de fatores que juntos contribuem para a confiança dos consumidores. A evolução dos preços será, com certeza, um desses fatores. A estabilização dos preços vai estar dependente da situação registada nos custos de energia, em particular nos combustíveis fósseis e energia elétrica, e do seu reflexo no custo dos fatores de produção, logística e transporte. Algumas matérias-primas já atingiram o seu pico na subida de preço, mas, por exemplo, o custo das embalagens (plástico, cartão e vidro) continua a crescer. A verificar-se ao longo dos próximos meses a realidade que tem sido registada ao longo do último mês e meio na questão energética e na descida do preço de algumas matérias-primas existirá condições para a estabilização de preços. Quanto às embalagens, considera-se que a pressão nos custos é ainda muito elevada.

São visíveis mudanças no comportamento do consumidor, com um processo de compra ainda mais racional e uma gestão criteriosa do orçamento familiar. O setor tem procurado mitigar o crescimento dos custos, não os transferindo na mesma proporção para o preço de venda final, desenvolvendo um esforço muito grande com a manutenção e ou a diminuição das margens e com eficiência nas operações e capacidade logística. Contudo, a manterem-se os elevados preços do fator energia, será difícil manter esta capacidade de mitigar aumentos no primeiro trimestre de 2023, sobretudo no retalho alimentar.

Onde considera estarem, por outro lado, as oportunidades de crescimento para as empresas ligadas ao setor de FMCG em 2023?

Perante a perspetiva de um ano desafiante, marcado pela incerteza, as empresas têm o desafio de continuarem a estar próximas dos consumidores, respondendo às suas necessidades através da disponibilização de produtos de qualidade a um preço adequado e competitivo. Face ao quadro de um comportamento de consumo mais ponderado e racional, as empresas devem ser capazes de se ajustar a esta realidade e de adequar a sua oferta, apoiando os consumidores face a um cenário mais difícil. Necessariamente é um desafio exigente pois, ao mesmo tempo que se pretende reforçar a ligação entre empresas e consumidores, os consumidores acabam por ser menos “leais” a um único retalhista, procurando encontrar o produto desejado ao melhor preço, visitando diferentes espaços comerciais. Isso mesmo é visível nos dados da Nielsen que indicam uma maior frequência por parte dos consumidores aos espaços comerciais, mas para trazer uma “cesta” com menos produtos.

O fim da pandemia e das restrições associadas permitiu um regresso das compras presenciais. Apesar de o quadro socioeconómico motivar os consumidores a serem mais criteriosos nas suas compras, existe uma maior ênfase na procura de produtos básicos. Esta realidade pode constituir uma oportunidade para os retalhistas apostarem numa diferenciação, com a criação de um ambiente em loja que possa atrair os consumidores para além do fator preço.

A incerteza em relação aos próximos meses aconselha prudência e pragmatismo, mas não deixa de haver oportunidades para os retalhistas se focarem na sua relação com os consumidores, ajustando-se de forma ágil às alterações no padrão e comportamento de consumo.

Quais considera serem as principais tendências no mercado de grande consumo?

Gestão criteriosa do orçamento familiar, com poupança em alguns produtos para gastar noutros; foco na saúde e no bem-estar alinhado com uma maior preocupação no equilíbrio vida profissional e familiar; maior critério e exigência em relação à responsabilidade social, diversidade e inclusão e práticas de sustentabilidade.

 

 

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