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Há espaço para inovar a Alimentação Tradicional Mediterrânica?

Por a 27 de Outubro de 2022 as 16:32
Luana Fernandes e Alexandre Gonçalves, MORE - Laboratório Colaborativo Montanhas de Investigação - Associação

Por Luana Fernandes e Alexandre Gonçalves, MORE – Laboratório Colaborativo Montanhas de Investigação – Associação

Há espaço e este é o tempo para o fazer se queremos chegar ao prato de um consumidor cada vez mais exigente, como nos mostrou a conferência “Innovation in Mediterranean Traditional Foods: novel products and processes” (IMTF) promovida pelo MORE – Laboratório Colaborativo Montanhas de Investigação e pelo Centro de Investigação de Montanha do Instituto Politécnico de Bragança, que se realizou nos dias 13 e 14 de Outubro, em Bragança, e apresentou as oportunidades e desafios associados ao tema.
A conferência internacional reuniu investigadores, empresas do setor agroalimentar e consumidores e contou com mais de meia centena de participantes que assim aproximaram sete países da região do mediterrâneo, como Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Turquia e Israel.
O evento estimulou a discussão e partilha de conhecimento e experiências entre os vários atores do setor, em particular nas fileiras: farinhas e massas, análogos de laticínios, refeições prontas a comer/prontas a cozinhar, à base de leguminosas e frutos secos.

Inovar sem comprometer a identidade cultural da região mediterrânica

A Dieta Mediterrânica é conhecida por ser uma das dietas mais saudáveis e equilibradas, sendo caracterizada pela alta ingestão de frutas e vegetais, grãos integrais, leguminosas, frutos secos, peixes e carnes brancas, azeite, ervas e especiarias. No entanto, nas últimas décadas, temos assistido a várias alterações nos hábitos alimentares da população europeia, especialmente na zona mediterrânica, verificando-se uma diminuição do consumo de alimentos tradicionais.
Apesar dos consumidores associarem habitualmente os produtos alimentares tradicionais a produtos de qualidade, há uma crescente procura de produtos mais saudáveis, nutritivos e, claro, convenientes para a azáfama quotidiana. Assim, a inovação embora controversa neste contexto, poderá ser o ingrediente chave para responder às novas exigências de consumo.
A primeira solução apresentada na conferência internacional assenta na utilização do conhecimento acumulado no campo da nutrição, na aplicação de novos processos, modernização de algumas técnicas, e criação de novos produtos em diálogo com os produtos endógenos locais, de forma a diversificar a oferta de produtos existentes no mercado.
Ou seja, apelar ao consumidor através da criação de produtos à base de espécies e variedades vegetais locais/tradicionais, como elementos diferenciadores e de qualidade, adaptados à região e com valor cultural; bem como da reformulação de produtos tradicionais mais saudáveis e funcionais, mantendo o seu sabor original, e/ou inovando no embalamento, tornando-o mais apelativo face à oferta existente. A ideia passa, assim, por inovar o tradicional sem deixar de preservar os princípios da sazonalidade e tradicionalidade dos alimentos, pilares da Dieta Mediterrânica.

Podem os pequenos produtores e PME’s inovar o tradicional?

Outra das soluções apresentadas na conferência internacional “Innovation in Mediterranean Traditional Foods: novel products and processes” (IMTF) passa pela aposta na utilização de matérias-primas produzidas na região mediterrânica que tenham as marcas legais registadas Denominação de Origem Protegida (DOP) ou Indicação Geográfica Protegida (IGP) como fator de diferenciação que deve ser explorado pelos pequenos produtores e PME’s nas suas estratégias de desenvolvimento de produto, mas também nas suas campanhas de comunicação. A par disso, também a aposta nos avanços tecnológicos e a implementação de processos sustentáveis poderá resultar num impacto positivo na dieta mediterrânica, mantendo a dieta mediterrânica como uma das mais sustentáveis do mundo, mas também ao nível da produção, tornando-a mais eficiente, mais rentável, e mais apelativa para pequenos produtores e PME’s.
Por outro lado, a implementação de novos processos sustentáveis deverá ser sempre acompanhada da monitorização dos padrões de qualidade dos produtos alimentares, garantindo a elevada qualidade/sustentabilidade esperada dos produtos alimentares mediterrâneos.

Recuperar receitas ancestrais para inovar

A recuperação dos “segredos” e técnicas, e a restauração de tradições pela recriação de antigas formas de produção, reativação de produtos alimentares, ou elaboração de pratos seguindo receitas antigas pode ser uma das vias para o “renascimento” de novos e antigos produtos.
Em suma, a conferência “Innovation in Mediterranean Traditional Foods: novel products and processes” (IMTF) concluiu que a inovação na Alimentação Tradicional Mediterrânica é necessária para a sobrevivência dos produtos tradicionais num mercado cada vez mais competitivo e junto de consumidores cada vez mais exigentes com os seus menus

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